spoiler visualizarVinicius 22/06/2016
Resumo da obra
Resumo: A oração como encontro
A oração é um diálogo com Deus, mas não igual a uma conversa a um amigo, pois não escutamos Deus do mesmo modo. Ele não nos dá respostas tão claras quanto numa conversa com um amigo. E por isto muitos desistem, cansam-se de rezar porque nem sabem como começar a oração, sendo assim neste breve tratado será mostrado uma oração mais útil: a oração como encontro.
A filosofia moderna reflete um modo de encontro consigo mesmo como mencionada na obra Eu e Tu de Martin Buber. Toda vida é um encontro consigo. Para Steinbüchel a oração não é apenas o encontro do homem com o homem, mas sem dúvida do homem com Deus. “O homem não reza só para si, mas para a totalidade de seu ser”. Deus é o outro, quando rezamos o Deus distante se aproxima de nós e mora em nosso coração, tornando assim o mais precioso companheiro de vida.
Para encontrarmos Deus devemos nos reconhecer, saber quem somos, quando atingimos este ponto chegamos ao mistério de nossa vida, ao mistério do outro o mistério de Deus. Assim encontrarmos no nosso verdadeiro ser a nossa essência, o núcleo interior. Isto é um dom gratuito, não um produto de esforço. É o dom da graça de Deus, que vem a nós porque ele quer e vindo ele espera que estejamos preparados para o encontra-lo.
Temos muitos fatos contados na Bíblia, vemos relatos sobre homens que aceitaram Jesus. No encontro com Jesus, eles puderam ver quem são e conseguiram coragem para dizer sim a si mesmos e sentir a aceitação de Deus, descobrindo sua dignidade inviolável.
Para encontrar Deus, temos quatro tipos de encontros essenciais para a oração como encontro:
Primeiramente devemos encontrar a nós mesmos. Devemos estar conscientes de nós mesmo, mas dificilmente acontece, pois, nossos pensamentos vagueiam de um lado ao outro chegando em ponto algum, os pensamentos se tornam independentes e ocultam o verdadeiro eu. O Primeiro ponto da oração que devesse entrar é o encontro comigo mesmo. Ensinado pelos primeiros Padres e Monges da Igreja. Cipriano de Cartago escreve: “Como podes pretender que Deus te escute, se tu não escutas a ti mesmo? Tu queres que Deus pense em ti, quando tu mesmo não pensas em ti”. Escutar a si mesmo significa, escutar o seu verdadeiro ser, mas significa também dar ouvidos aos próprios sentimentos e necessidades, a tudo que agita dentro de nós. Isto é uma condição necessária para o encontro com Deus na oração.
Um dos modos para encontrar o “Eu” é pela respiração. Quando expiramos, abandonamos todas as máscaras e papéis, tudo o que nos altera. Quando inspiramos imagino que o Espirito de Deus entra em cada um de nós e deixa crescer o nosso verdadeiro ser, pois vemos a imagem nossa que Deus fez para nós. Para entrar em contato com Deus devemos ver quem somos, nos reconhecer realmente.
A segunda fase é o encontro com Deus. Temos a impressão que já conhecemos Deus de muito tempo, até porque nossas orações são dirigidas a ele. As imagens feitas dele devem existir para podermos o representar. Mas por outro lado devemos esquece-las, supera-las para irmos ao verdadeiro Deus. Conhecemos bem Deus ele se revelou a nós e encontramos ele dentro de nós, mas ao mesmo tempo, é aquele totalmente outro, aquele que coloca em dúvida os conceitos teológicos. Para desfazer estes conceitos devemos nos colocar como Jó, que lutou e depois reconheceu Deus: “Eu te conhecia somente por ter ouvido dizer; mas agora os meus próprios olhos os veem. Por isso, eu me retrato e me arrependo, eu me retrato sobre o pó e a cinza”.
O mundo de hoje já especulou sobre a morte de Deus, mas devemos crer que ele vive no mais fundo de nossos corações, se queremos uma imagem dele devemos olhar para Jesus Cristo. Em Jesus é visível o Deus inapreensível; o incompreensível se torna compreensível. Como Jesus nos diz no evangelho de João: “Deus ninguém jamais viu. O filho único de Deus, que está junto do Pai, foi quem no-lo deu a conhecer”, “Quem me viu, viu o Pai”. Jesus é o mistério de Deus. Analisando minuciosamente e confrontar como fonte Jesus Cristo, as dúvidas quem temos referentes a Deus, adquirimos uma parte essencial para a oração.
A terceira fase é aquilo que já conhecemos é conversar com Deus, o diálogo com ele. Muitos se perguntam: o que devo dizer a Deus se ele sabe de tudo? Deus realmente sabe de tudo. Ele não precisa de minha oração, mas eu tenho a necessidade dela, porque como irei me abrir inteiramente a outra pessoa? Com Deus posso contar as minhas necessidades mais intimas como também minhas ideias.
O que eu devo dizer a Deus em minha oração? Devo lhe contar tudo aquilo que eu sinto, falar sobre minha vida, como está o relacionamento com os outros, como que faço quando tenho problemas e discussões, as alegrias e momentos prazerosos, angustias e preocupações e também sobre minha esperança. Tudo aquilo que vem em minha mente, tudo o que sinto quando estou em silêncio. A oração não deve ser piedosa, mas sincera, pois estou falando de minha vida. Devemos também falar a voz alta com Deus e perguntar o que ele acha de cada um de nós e o que ele diz sobre nossas ações. Durante meia hora devemos ficar focados apenas nisso e tentar compreender os pensamentos que temos, e ver se vem de Deus.
Para muitos rezar e pedir é a mesma coisa. Mas o pedir também é uma parte essencial na oração. Posso pedir tudo o que é oportuno, tudo o que é necessário e tudo o que considero importante. Isto é apresentar a Deus o que é bom para mim, o que eu desejaria e o que me falta. Diante de Deus apresento meus desejos e posso pedir a Deus para cuidar de quem está em meu coração. Rezando, confesso que sem Deus não vivo, pois preciso de suas graças. Então pedir é mendigar por ajuda e mostrar que seu coração se importa com os outros.
No diálogo com Deus é também um lugar de intimidade, onde confesso os meus anseios, ideias, desejos e as feridas de meu coração. Ter uma relação é retirar tudo que há em meu coração e apresentar a ele.
Depois de ter dito a Deus tudo o que sentimos, temos que nos forçar a escutar. A oração se conclui quando ficamos em silêncio e meditar. Não devemos entender Deus apenas como ouvinte que não possui o que dizer. Não devemos fazer como alguns que falam com o outro como se está pessoa fosse apenas um lugar de descartar o que é ruim sem querer ouvir os conselhos, e quando o conselho é dado ficamos enraivecidos, achando que o outro não nos entende. Devemos deixar Deus falar e devemos ouvi-lo. Então vem a pergunta: como posso ouvir Deus? Ouvimos Deus nos pensamentos que vem em nossa mente durante as orações. A psicologia diz que os pensamentos surgem do inconsciente, mas ela não nos explica porque tais pensamentos aparecem neste exato momento de oração. É através destes pensamentos que Deus fala com nós.
Como saber que tais pensamentos vêm de Deus? Os monges distinguem três tipos de pensamentos: os que vem de Deus; os que vem do demônio e os que vem de mim mesmo. Para entender qual é qual devemos saber quais são seus efeitos: pensamentos que vem de Deus passam a paz e serenidade; os que provem do demônio causam agitação, medo e tensão muscular; e os pensamentos quem vem de mim mesmo nos distraem e nos levam para longe e ficamos vazios e dispersos. Deus se dirige a nós através de nossos sentimentos interiores. Devemos distinguir dois níveis dentro de nós, o primeiro nível, mais superficial, que gostaria que todos os desejos fossem satisfeitos; e um segundo nível, que alcançamos somente se escutarmos dentro de nós em silêncio e se penetrarmos em nosso sentir mais íntimo diante de Deus. Deus nos fala neste nível. As palavras de Jesus sempre apareceram neste lugar, tentando fazer que nós vivamos o nosso ser mais profundo.
Quando Deus não nos dá a direção que queremos é porque ainda não chegou a hora, mas devemos esperar com humildade e paciência, pois sim a resposta certa virá, sempre pelas mãos de Deus. Ele não fala conosco sempre, mas devemos sempre estar atentos em silencio para quando ele falar.
A quarta fase é quando o silêncio nos ensina a escutar o que Deus quer de nós, e isso nos força a fazer uma resposta sozinhos para nossos problemas. Este silêncio nos faz abrir nosso coração para o verdadeiro mistério de Deus, para que tiramos de nossas mentes uma imagem dele, e nos abrindo sempre a o Deus verdadeiro. O silêncio é um modo de tornar-se um com Deus, como aquele que volta o olhar para nós com amor. Com palavras podemos fazer todos entrarem no amor, pois as palavras possuem uma comunicação profunda. As palavras podem conduzir todos diretamente ao mistério de Deus. O silêncio é uma reação adequada para chegar a intimidade com Deus, quando duas pessoas se amam elas dialogam compartilhando entre si a fim de chagar a uma intimidade, mas as vezes ficam em silêncio para que nada além seja dito e não destrua a comunhão. Ficam em silêncio não porque não há mais o que dizer, mas porque querem chegar a uma união mais profunda. As palavras podem por limites e assim a incompreensão, o silêncio possibilita tornar-se um sem os limites das palavras e tornar-se um de coração. Deste modo, devemos parar e ficar em silêncio, não devemos fazer nada só deixar que Jesus nos olhe e deixar que ele nos ame.
Não devemos fazer nada diante de Deus. Estamos diante dele de seus olhos cheios de amor. A vida diante aos olhos de Deus vem descrita como os monges falaram ao louvor a cela. Lugar onde o monge dialogava incessantemente com Deus. Por isso a expressão cella est coelum. A cela (quarto) é o céu onde vivemos unidos a Deus. Lugar onde encontramos a cura e a saúde em sua presença. E esta presença divina faz nos permanecer em silêncio crescendo nosso amor por ele. Estamos ali sem intenção, simplesmente livres a Deus e a Cristo. Para encontrar a tranquilidade e o silencio da eternidade.
Existem dois modos de rezar: expor minha vida a Deus e contando tudo aquilo que aflora em mim; e omitir o cotidiano, os pensamentos e sentimentos e entrar em um lugar habitado somente por Deus. Assim, é possível perceber que rezar é um bem, uma libertação, um alívio. Um lugar onde entramos em minha oração, onde ninguém coloca limites. Deus nos mostra como chegarmos no nosso eu. Entramos em contato não apenas com ele, mas com o seu verdadeiro núcleo de Deus. Com todas essas ligações com Deus podemos responder de modo diverso: quem sou eu realmente? Não sou apenas aquele que trabalha que depende de seus relacionamentos de seu passado; ao invés sou aquele que é tocado pelo amor de Deus, sou o seu vizinho, sou aquele que Deus habita, aquele que Deus fala eu escuto e sua palavra se faz vida dentro de meu coração.
Os monges falam que na oração devemos nos conduzir a um lugar de puro silencio um lugar de paz. Assim como diz Isaac de Nínive: “Esforça-te para entrar na morada do tesouro que encontra dentro de ti e assim poderás ver o céu! De fato, uma e outra coisa são o mesmo. Se entrares no teu interior, verás a ambas! A escada parar chegares ao reino dos céus está escondida na tua alma. Mergulha para dentro de ti mesmo afastando-te dos teus pecados, pois assim encontrarás ali degraus pelos quais poderás ascender”. A oração é o que nos leva ao tesouro interior, onde Deus habita. Com silencio e oração podemos entrar em nosso interior e penetrar no lugar onde descobrimos Deus.
Estas quatro fases nem sempre são seguidas em sua ordem, as vezes podemos retornar a uma fase e depois ir a última, na fase do silêncio. Somente no encontro com Deus o homem pode chegar ao seu ser. Toda a vida é um encontro com o tu divino assim encontramos o nosso eu verdadeiro e somente quando tornamos parte do ser de Deus podemos nos tornar um conosco mesmo.
Naturalmente podemos analisar o encontro de Deus em nós na oração, mas não vemos Deus multo humanamente até mesmo na bíblia. Os místicos falam que achamos que Deus ouve nossos pedidos e se alegra por termos feito eles, por isso achamos que ele irá atende-lo, no entanto devemos pensar e entender que Deus não necessita de nossa oração que ele basta a si mesmo. Nós precisamos de fazer a oração para alimentar nossa fé. Deus olha para nós com amor e benevolência esperando que voltemos para ele e que encontremos a salvação no encontro com ele. Deus é aquele que se alegra quando aceitamos o convite de nos encontrarmos na oração. Deus é aquele em que podemos mergulhar na oração e é também aquele que ama e espera a nossa resposta de amor. Ele é o companheiro em que dirigimos as palavras e ele dirige a nós. Inicia-se um diálogo de amor, um encontro que nos permite descobrir sempre novas facetas de Deus e de nós mesmos.
Depois de ver as quatro fases da oração como encontro veremos os quatro lugares para um bom encontro com Deus.
Primeiramente temos a oração recíproca o encontro na oração com Deus e com meus irmãos e irmãs de modo novo. Quando rezamos por um irmão vejo ele com outros olhos com olhos de Deus com amor. Durante a oração entramos em ligação com o outro e meus bons sentimentos se incluem a favor de meu irmão. A oração traz uma relação e um estimulo para um encontro mais intenso e renovado.
Rezar pelo outro não é pedir a Deus o que ele deve fazer pelo o outro. Geralmente pedimos a Deus para que o outro seja razoável e entenda o que queremos. Manipulamos Deus até que ele atenda nossos pedidos. Rezar pelo outro deveria significar: colocar-se no lugar do outro e ir ao encontro dele com seus sentimentos e ver o que iria ajudar realmente ele. Depois posso pedir a Deus que o agracia com o necessário e que lhe abençoe. Podemos desejar o que nos agrada, mas veremos que com estas palavras não avançamos. Assim podemos pedir: Senhor, abençoa a ele e a ela. E fazendo isso não devemos violentar nossos sentimentos. E se sempre rezar assim, logo teremos benevolência com o outro e nossos preconceitos desaparecerão e veremos o irmão com outros olhos. Seremos mais justos com o outro e sentiremos uma união interna.
Uma imagem de rezar ao outro é ter dois canais de comunicação: quando inspiramos, o amor de Deus se infundi em nós, e quando expiramos flui para o outro. O amor de Deus está além do que podemos sentir, mas devemos apenas crer nele. Ele sempre estará em nós ativamente só irá sumir quando guardarmos com egoísmo querer ele só para nós mesmos. E se a pessoa para quem rezamos for uma pessoa confusa e arruinada? Esses sentimentos irão tomar conta de mim? Se crermos no amor de Deus fluindo por nós, não precisamos ter medo que os sentimentos ruins do outro tomem conta de nós devemos ter fé que o amor de Deus nos atravessa e pode salvar ambos.
Quanto mais nos abrimos a Deus mais ele nos abrirá em relação as outras pessoas, recebendo as orações dos nossos irmão e irmãs.
Rezar significa, dar o próprio sangue pelos outros, ir ao encontro do outro com todo o seu amor e com toda dedicação; sofrer com ele, colocar-se juntamente com o outro diante de Deus.
Quando rezamos pelo o outro nos sentimos unidos a ele, vemos ele com novos olhos. A oração pelo outro transforma primeiramente a nós mesmos. Vemos ele não a partir da raiva ou da desilusão, e sim a partir de Deus. Quando estamos brigados com alguém e rezamos pedindo a benção a essa pessoa, nós podemos ir ao encontro desta pessoa com naturalidade, pois Deus tira de nós os sentimentos ruins e possibilitando uma nova comunhão. Cremos que é possível esconder os pensamentos negativos e nos confortando com os positivos e assim o outro sente o que emana de nós. Para muitas pessoas é necessário que há orações a ela. Por isso, está pessoa se sente apoiada, confortada e amada. E por nossas orações se sentem unidos a Deus. A oração também tem efeito sobre aqueles que nem sabem que rezamos a eles, o amor de Deus nos faz um com o outro.
A oração pelo outro não apenas nos conduz a aquele para quem rezamos, faz com que Deus se aproxime mais de nós. Principalmente por quando rezamos a quem amamos, a oração nos liga mais fortemente a Deus. O outro então pode ser a imagem da qual posso olhar para Deus, assumindo uma feição humana através do outro.
Quando rezamos tentando buscar o amor e não encontramos, então experimentamos Deus verdadeiramente próximos com aqueles que nos abraçam com doçura e amor. Assim a oração não devemos esquecer das pessoas que amamos e a oração para com o outro pode ajudar e muito para encontramos o amor de Deus.
Henry Nouwen experimentou o que significa rezar pelos outros durante uma estada num mosteiro trapista. Rezar pelos outros significa, antes de tudo, purificar o próprio coração para abrir e dar espaço aos outros.
O segundo local é na lectio divina para os monges está é a melhor forma de entrar em contato com Deus e com Cristo. Lectio não significa ler para obter sabedoria, para obter informações. Trata-se de um encontro com Deus, que dirige a nós pela palavra. Na palavra nasce uma imagem de quem fala. Na palavra sentimos algo da unidade e da essência intima de Deus, que sempre nos encontra nas Escrituras é como aquele que abre o seu coração. No encontro com Deus encontramos a nós mesmos de maneira nova.
Assim afirma Santo Agostinho na seguinte frase: “A palavra de Deus se opõe à tua vontade enquanto não se tornar artífice de tua salvação. Na medida em que tu mesmo fores o teu inimigo, também a palavra de Deus o será. Tornar-te amigo de ti mesmo e também a palavra de Deus estará em harmonia contigo”. Se nós não compreendemos a palavra de Deus é porque não nos compreendemos. Se a palavra de Deus irrita é porque temos uma falsa compreensão de nós mesmos e porque temos como base do mundo o homem e não Deus. A luta com a palavra de Deus conduz a um encontro com Deus e assim um encontro conosco mesmo. Na medida que compreendemos a palavra de Deus, entendemos o nosso próprio ser de maneira toda nova. Compreendemos o significado de novos horizontes: o horizonte da nossa compreensão se funde ao horizonte da compreensão existencial do texto. Ao interpretar o texto, tomamos parte do ser que é mencionado no texto; tomamos parte da verdade de Deus que resplandece em cada texto como verdade autêntica que resplandece em todas as coisas. Compreender já é um encontro, um encontro com o texto, com a verdade e com Deus mesmo.
A lectio divina é dividia em quatro fases. A primeira fase é a leitura. Ler a palavra lentamente até que a palavra nos atinja. A segunda fase é o meditatio quando guardo o livro e deixo que a palavra penetre em meu coração. Meditar não significa refletir, mas sim saboreá-la e degusta-la. Quanto mais meditação mais a palavra penetra no nosso ser. A terceira fase é o oratio quando apresentamos a Deus os nossos desejos e lhe rogamos para satisfaze-los sempre mais. A quarta fase é pois a comtemplatio é o silencio, rezar sem palavras e imagens, abrir a alma a Deus. A quarta fase deve deixar que aconteça por si mesma, não há como treina-la como nas outras três fases. Desta forma, as quatro fases da lectio divina conduz ao encontro com Deus como na oração.
O terceiro lugar é a adoração ou adoratio em latim, propriamente significando: “jogar um beijo com a mão”. Um dos melhores locais para o encontro com Deus e Jesus Cristo. A adoração é a veneração interior ou exterior dirigida exclusivamente a Deus. Na adoração nos prostramos diante de Deus. Não devemos ter a intenção de pedir nada; nem belos sentimentos, nem tranquilidade, nem calma. Não falar de problemas nem nada, apenas nos prostramos diante do Senhor o Criador. Durante a adoração reconhecemos que não somos nada sem Deus e que cada fibra depende dele e que tudo em nos veio dele. E só nos resta prostrarmos e adora-lo.
A adoração faz com que nós não ocupemos mais de nós mesmos e de nossos problemas; ao contrário, busco olhar somente para Deus e assim nos liberta de nós mesmos e das ocupações constantes e encontramos o nosso verdadeiro ser. Nada mais tem importância. Somente Deus conta. Quando deixamos Deus se aproximar de nós, aceitamos ele e assim não nos importamos mais com pessoas que querem algo de mim, nem com preocupações e nem com problemas.
Adoração significa que estamos totalmente relacionados a Deus, que dentro de nós não existem estâncias privadas para que possamos não deixar ninguém entrar; significa estar totalmente relacionado a Deus, estar completamente em relação com Deus e estar envolto por ele. Adoração é o encontro com Jesus Cristo, que nos ama e por isso morreu por nós. É também a contemplação silenciosa da entrega de Jesus na cruz e que celebramos na eucarística.
Não só com a mente que se adora, mas com o todo corpo. Este gesto é o prostatio, no qual o homem se lança totalmente aos pés de Deus. Adoramos a Deus também quando nos inclinamos, de joelhos, sentados ou quando nos apresentamos com as mãos abertas.
Nós não devemos ter medo diante de quaisquer pensamentos e sentimentos que estão dentro de nós. O que importa é estar em relação com Deus e inundados por ele.
A adoração eucarística começou na idade média e é a continuação da liturgia comunitária na liturgia do coração. Um aspecto essencial é olhar. Quando observamos atentamente a hóstia redonda e o ostensório se fundem e não há mais distância entre o que é observado e quem a observa. Assim, o olhar dirigido a Cristo, presente na hóstia redonda, nos transforma.
O quarto lugar é a oração continua é uma tradição monacal com finalidade de estar sempre em contato com Deus ininterruptamente. Os monges desenvolveram técnicas para assim rezar, uma delas é a ruminatio é ruminar ou repetir sempre o mesmo versículo do salmo ou a oração de Jesus. A oração de Jesus já foi o caminho para a meditação na igreja oriental, e assim diz ela: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim”, rezada com a respiração.
Na oração de Jesus o tom fundamental não é de petição de suplica por ser tão ruim, mas o tom fundamental é um tom de otimismo e confiança. Por um lado, no nome de Jesus, reconhecemos o mistério da encarnação do Filho de Deus e que nele habita a plenitude da divindade em meio de nós. Por outro lado, quando suplicamos: “tende piedade de mim! ”, explico a relação pessoal com Jesus. A oração de Jesus aspira confiança que ele esteja no meio de nós, não sendo aquele que viveu antigamente, mas sim aquele que vive hoje. Deixando fluir a respiração podemos perceber a presença de Cristo e pelo calor da respiração que invade nosso coração nos mostrando a presença da misericórdia de pleno amor. Portanto a oração de Jesus ajuda a viver num continuo encontro com Cristo e viver a partir da relação com ele.
A oração de Jesus deve ser recitada diversas vezes durante o dia, quando acordamos, quando saímos de casa, quando vamos trabalhar, quando entramos em casa, quando encontramos alguma pessoa, etc.
Está oração não é um dom natural, tem que ser rezada de maneira concreta e ela se adquire com o tempo. Quando se faz muitas vezes a oração de Jesus, tiramos todas as magoas, as raivas e as desilusões, vemos como o continuo encontro acontece, podemos nos deparar com momentos em que nem expiramos nem inspiramos. Para os mestres da meditação este momento é decisivo, pois vemos se somos capazes de esquecer de nós mesmos e nos apegar a Deus. Este momento necessita de muito silêncio para deixarmos cair nos braços misericordiosos de Deus. Isaac de Nínive disse certa vez que a palavra nos conduz ao mistério sem palavras de Deus. E estas palavras nos faz ter certeza que Deus está dentro de nós, e se ele está sempre conosco estamos sempre numa oração continua e se estamos em oração estamos em encontro com Deus. E é o encontro com Deus que transforma a pessoa e a conduz ao seu verdadeiro ser.
As fases e os lugares do encontro não fornecem a descrição completa do mistério da oração, mas serve para encorajar a percorrer o caminho de uma boa oração e ao encontro com Deus. Por estes caminhos que muitos se encontram com Deus e seguem suas vidas guiadas por ele. Pela oração é por onde chegamos ao encontro continuo com Deus. A oração é o caminho que Deus fez para nós, para que tenhamos uma vida mais intensa e consciente. A partir do encontro com Deus pode-se viver uma vida mais feliz. Martin Buber nos diz: “Toda verdadeira vida é um encontro”.