Môsi 14/04/2021
Uma livro cristão feito principalmente para ateus!
? Ao longo de sua existência, o ser humano se deparou com inúmeras indagações que lhe provocaram extrema inquietação e angústia. Uma delas diz respeito à existência (ou não) de uma força superior, transcendental, autora de tudo aquilo que existe no Universo. Para os cristãos esse Ser atende por diversos nomes, sendo comumente chamado de "Deus".
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? Com o avançar dos anos, essa ideia contribuiu para o surgimento de inúmeras religiões ao redor do mundo, algumas mais influentes que outras. Em contrapartida, o surgimento da filosofia e o desenvolvimento da ciência moderna fizeram com que o ser humano pensasse que sua autonomia plena finalmente chegara e que assim não haveria mais necessidade da crença em narrativas e ensinamentos religiosos, impossíveis de serem perscrutados pelo então recém desenvolvido "método científico".
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? Séculos se passaram, avanços em diversas áreas foram obtidos, mazelas continuaram a nos flagelar e o secularismo ganhou ainda mais força em nossa sociedade. Porém, aquela antiga questão ainda ronda as nossas mentes: Existe um Deus Todo Poderoso, Criador dos céus e da terra e de tudo que neles há? Ainda é possível acreditar em sua existência ou defendê-la em pleno século XXI? Para o pastor norteamericano Timothy Keller isso não só é possível como também é a alternativa que mais faz sentido.
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? Neste livro, Keller defende, de forma bem didática e respeitosa, a necessidade e importância da crença em Deus em meio a uma sociedade secular. Sendo pastor presbiteriano, seus argumentos e análises obviamente giram em torno da fé e religião cristãs.
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A obra é divida em três partes.
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Na primeira, Timothy, além de trazer um panorama atual acerca do crescimento das religiões no mundo, também coloca em xeque algumas ideias acerca da irracionalidade da fé e da objetividade materialista do secularismo. Para o autor, a religião apresenta estruturas racionais bem coerentes, ao passo que muitas das alegações feitas por secularistas contemporâneos carecem das tão famigeradas evidências científicas.
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Na segunda parte, o autor nos oferece uma visão muito mais ampla da religião, mostrando os efeitos por ela produzidos em diversos setores de nossa vida. Essa é a parte mais extensa da obra e, na minha opinião, a mais enriquecedora, pois o autor se debruça sobre variados assuntos atuais comumente interpretados de forma irresponsável e equivocada. Liberdade irrestrita, Crise de identidade, Sofrimento, Valores Morais, etc são alguns exemplos dos temas tratados brilhantemente por Keller nesta seção.
Inclusive ao longo da leitura destes capítulos, por diversas vezes me lembrei de alguns trechos da obra "12 Regras para a Vida", de Jordan Peterson. Acho que foi um reforço para que eu relesse o livro do psicólogo clínico canadense. Ainda bem que isso já se encontra nos meus planos de leitura para o ano de 2022!
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Na terceira, dividida em 2 capítulos, Keller analisa e defende alguns dos principais argumentos utilizados para justificar a existência de Deus e, em seguida, nos mostra os motivos pelos quais o cristianismo é verdadeiro, coerente e é a religião que mais cresce no mundo.
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?? Há duas coisas, dentre tantas, que me chamaram bastante atenção ao longo da leitura/releitura deste livro: a primeira é a diversidade de referências bibliográficas aqui presentes. Keller, conquanto seja pastor e defenda um ponto de vista bem definido, não se limita a ler apenas obras cristãs. Ao contrário, em seu livro encontramos referências a autores marxistas, liberais, progressistas, pós-modernos, conservadores, ateus, agnósticos e cristãos. Essa diversidade enriquece sobremaneira o conteúdo do livro, evidenciando também o caráter literário eclético de seu autor.
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?? A segunda é a capacidade e humildade do autor em fazer autocríticas ao modo com o que cristianismo foi difundido ao longo dos séculos. Keller reconhece que a religião cristã infelizmente foi usada como justificativa para a implementação de domínios espúrios por diversas nações pdoerosas, assim como foi utilizada para defender a escravidão dos povos africanos (o autor traz à tona a triste informação de que muitos teólogos possuíam escravos ?????). Na tentativa de corrigir esse erro, Keller escreve um dos capítulos mais impactantes de sua obra, no qual mostra que a religião cristã, desde o Antigo Testamento, denunciava e condenava a corrupção eclesiástica, conclamando seus seguidores a se dedicarem na prática da justiça social, ensinamento totalmente antagônico às ações descritas no início deste parágrafo.
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? Na minha opinião, este livro é leitura imprescindível tanto para cristãos quanto para pessoas de viés secular. O tema é interessante e atual, a linguagem é fluida e os pontos aqui levantados são de extrema importância para uma compreensão mais adequada do assunto. Se você é ateu ou agnóstico não pense que o autor irá tentar convertê-lo à força ou mandá-lo pro inferno. Muito pelo contrário, como foi dito reiteradas vezes, seu principal objetivo é mostrar que o cristianismo faz sentido e que a crença em Deus não é algo irracional. Se você pretende ampliar seu entendimento sobre o tema, este livro é um bom começo.