A vida escolar de Jesus (eBook)

A vida escolar de Jesus (eBook) J. M. Coetzee




Resenhas - A vida escolar de Jesus


4 encontrados | exibindo 1 a 4


Suzana 24/01/2024

Começou bem, a primeira parte, com a mudança para a fazenda e a entrada de David na Academia de dança, foi interessante, mas depois descamba pra uma barriga de dar dó.
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ElisaCazorla 12/08/2023

Quando o autor liga o f@#$-se
Eu li o primeiro dessa trilogia e achei médio mas insisti no segundo porque Coetzee pra mim é genial. Não passava pela minha cabeça que ele, em algum momento, não iria me surpreender. Eu tinha certeza de que eu seria, de algum modo, perturbada e maravilhada com sua obra, como fui em todas as outras. Entretanto, nos outros livros que li do Coetzee, o amor acontecia já nas primeiras páginas. Nesse dois livros dessa trilogia Jesus isso não aconteceu.
Ao me aproximar do fim deste segundo livro, eu tinha cada vez menos esperança de que algo fosse acontecer para salvar esses livros. Me peguei pensando em Almodóvar, o gênio espanhol do cinema que, após lançar um filme considerado ridículo e sem qualquer semelhança com a genialidade de toda a cinegrafia do diretor, respondeu aos críticos que não se importava e que estava num momento da carreira que podia fazer o que quisesse, até mesmo filmes ruins.
Tenho a impressão que Coetzee tenha passado pela mesma experiência que Almodóvar e se permitiu escrever livros péssimos e ridículos.
Personagens sem graça, ambiente bege, um esforço para o leitor achar que há algum tipo de analogia ou filosofia que acaba ladeira abaixo no nada, no tédio e no bizarro, num sentido negativo.
Provavelmente lerei o terceiro, mas não será agora. Acho que Coetzee já zombou demais de mim.
Marta Skoober 12/08/2023minha estante
Gostei do desabafo!


ElisaCazorla 14/08/2023minha estante
Oi, Marta! Foi mesmo um desabafo porque eu gosto tanto do Coetzee e aguardei esses livros com tanta vontade! Tenho comprado os livros desde que saíram e deixei pra ler somente quando o último foi lançado e me frustrei de uma forma muito triste. Você leu? O que você achou?


Marta Skoober 15/08/2023minha estante
Não li.


Marta Skoober 15/08/2023minha estante
Amei a sinceridade de sua resenha. Gosto disso.




Alexandre Kovacs / Mundo de K 05/09/2018

J.M. Coetzee - A vida escolar de Jesus
Editora Companhia das Letras - 264 Páginas - Tradução de José Rubens Siqueira - Capa de Kiko Farkas / Máquina Estúdio - Lançamento: 20/08/2018.

Relembrando o primeiro romance, "A infância de Jesus", que originou esta continuação: um homem de meia-idade desembarca, juntamente com um menino que se perdeu da mãe durante a viagem de navio, em um continente não identificado e em uma época não definida, juntos descobrem uma sociedade que oscila entre a utopia e a distopia, uma espécie de campo de refugiados onde impera a ingenuidade e apatia dos moradores, a boa vontade de uns com os outros. Nada é revelado sobre o passado dos personagens ou sobre os motivos que os levaram ao exílio. Neste mundo, representado pela cidade de Novilla, ambos os personagens recebem novos nomes na recepção de cadastramento, o homem passa a se chamar Simón e a criança Davíd. Eles procuram a mãe de Davíd e acabam encontrando Inés, que assume a maternidade da criança. No final do primeiro romance, os três: Simón, Inés e Davíd, fogem de carro de Novilla para impedir que Davíd seja levado para uma escola em regime de internato para crianças excepcionais.

Em A vida escolar de Jesus, novamente o título apresenta uma referência que pode induzir a ideia de algum tipo de contestação religiosa, mas, na verdade, assim como no primeiro volume da série, as comparações com passagens famosas do Evangelho são tão sutilmente insinuadas que, caso não fosse o título, dificilmente perceberíamos essas possíveis conexões. Apesar da mesma narrativa simples e objetiva do sul-africano J.M. Coetzee, Prêmio Nobel de Literatura de 2003, já utilizada em outros romances da carreira, principalmente no clássico Desonra de 1999, aqui a ausência de realismo e a superposição de metáforas fazem com que o leitor não consiga entender muito bem para onde está sendo levado e tente buscar um sentido para o enigmático romance, que lhe escapa capítulo após capítulo, mas não há saída possível quando, de repente, nos percebemos prisioneiros do texto hipnótico de Coetzee.

A inusitada família, juntamente com o cachorro Bolívar, chega até a cidade de Estrella onde Simón e Inés conseguem trabalho em uma fazenda local e o pequeno Davíd, com quase sete anos, surpreende a todos com sua inteligência precoce, contudo se torna a cada dia uma criança mais mimada e teimosa. As três irmãs, donas da fazenda, decidem financiar a educação formal do menino que, para evitar a repetição dos problemas ocorridos em Novilla, em uma escola tradicional, é encaminhado para uma Academia de Dança administrada pelo casal Arroyo: Juan Sebastián e Ana Magdalena. Durante o curso, Davíd é bastante influenciado pela bela professora Ana Magdalena e acaba incorporando os nebulosos conceitos místicos de numerologia da Academia que prega uma dança conjunta do corpo e da alma para resgatar os números das estrelas, por meio da música e da dança.

"Para fazer os números descerem de onde residem, para permitir que se manifestem em nosso meio, para lhes dar corpo, contamos com a dança. Sim, aqui em nossa Academia nós dançamos, não de um modo deselegante, carnal ou desordenado, mas corpo e alma juntos, para trazer os números à vida. Assim como a música nos penetra e nos leva a dançar, também os números deixam de ser meras ideias, meros fantasmas e se tornam reais. A música evoca sua dança e a dança evoca sua música: uma não vem antes da outra. Por isso nós nos consideramos tanto uma academia de música como uma academia de dança. (...) Se minhas palavras esta noite parecem obscuras, queridos pais, queridos amigos da Academia, isso só revela o quanto as palavras são frágeis... por isso nós dançamos. Na dança convocamos os números de onde eles vivem entre as estrelas distantes. Nos rendemos a eles na dança, e enquanto dançamos, por obra deles, eles vivem entre nós." (Pág. 72)

Simón e Inés formam um estranho casal, sem qualquer tipo de relação amorosa, o único objetivo comum é a criação e educação de Davíd. No entanto, se torna cada vez mais evidente que eles não conseguem controlar o gênio impulsivo e dominador do menino que se torna um aluno interno por vontade própria, passando toda a semana na Academia. Apesar do esforço de Simón em se aproximar e responder racionalmente e pacientemente aos frequentes questionamentos de Davíd sobre o limbo existencial no qual vivem na nova terra, sem passado e um futuro incerto, nada parece ser suficiente, a criança se afasta gradativamente dos pais adotivos e, principalmente, do pobre e injustiçado Simón. Um escândalo envolvendo o atormentado e apaixonado porteiro da Academia, Dmitri, e a professora Ana Magdalena, irá afetar a sociedade local e o destino dos personagens com consequências trágicas para todos.

"Mais tarde, quando Davíd adormece no sofá e ele está deitado na cama ouvindo os passos de camundongos no teto, ele se pergunta como vai ser a lembrança do menino dessas conversas deles. Ele, Simón, se considera uma pessoa sadia, racional, que oferece ao menino uma elucidação sadia, racional de por que as coisas são como são. Mas será que as necessidades da alma de uma criança são mais bem servidas por suas pequenas homilias secas do que pelo fantástico cardápio oferecido pela Academia? Por que não deixar que ele passe esses anos preciosos dançando os números, comungando com as estrelas na companhia de Alyosha e do senõr Arroyo, e esperar que a sanidade e a razão cheguem a seu tempo?" (Pág. 206)

Um estranho romance de formação que apresenta um pouco de utopia, distopia, alegoria, drama e muita filosofia. Enigmático e com várias interpretações, não dá muitas pistas para o leitor se apoiar, a começar pela misteriosa citação a Jesus no título. Será que os incessantes questionamentos do pequeno e mimado Davíd representam uma oportunidade de salvação para um mundo estagnado moralmente? Talvez o romance represente um alerta para o vazio existencial da nossa época, onde as pessoas vivem um presente vazio e burocrático. Finalmente, um romance corajoso na sua forma e conteúdo, com a marca de gênio de Coetzee que, como sempre, incomoda e faz pensar.
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Aguinaldo 24/07/2018

a vida escolar de jesus
Há três anos, quando li "A infância de Jesus", não tinha ideia que esse livro do Coetzee seria o primeiro de uma nova trilogia (como aquela dos bons "Boyhood", "Youth" e "Summertime"). Lembro do espanto com a proposta, algo amalucada, sobre Novílla, uma cidade onde os habitantes, vindos de um lugar inominado, do qual nada lembram, começam uma nova vida. Como numa espécie de repovoamento da Terra pós dilúvio, eles chegam até Novílla de barco, concebidos imaculadamente, sem parentescos entre si, ganham novos nomes e ocupações. A organização social dali parece ser como o sonho de um velho comunista que vê seus projetos utópicos consagrados. Todos falam espanhol. Pensei no livro como uma alegoria, um contido e mágico realismo, um enigmático romance de fantasia, onde encontramos releituras de passagens bíblicas e literárias (algo do "Don Quijote" e de alguns contos de fada, algo do "Cândido" e do "Admirável Mundo Novo"). Coetzee faz seus personagens discutirem temas filosóficos importantes (a natureza do mal, a origem da cognição, a lei do terceiro excluído). Apesar da estranheza o leitor fica preso ao destino daqueles personagens bizarros, cujos nomes parecem definir sua vocação. No início deste 2016 Coetzee publicou a continuação de sua história, um volume intitulado "The Schooldays of Jesus". Entende-se melhor o primeiro livro, mas novos enigmas são apresentados. Trata-se de um romance onde a ênfase continua na discussão de temas metafísicos, desta vez sobre a teoria dos números, a harmonia das esferas de Pitágoras, a húbris grega. O volume anterior termina com a fuga de Inés, Simón e Davíd de Novílla (devido as dificuldades de Davíd adaptar-se ao sistema escolar da cidade). Eles rumam para Estrella, uma cidade menor, mais rural que urbana, onde temporariamente trabalham numa fazenda, coletando frutas. A questão escolar de Davíd ainda precisa ser solucionada. As proprietárias da fazenda onde Inés e Simón trabalham se oferecem para zelar pelos estudos de Davíd (são as três graças, ou as três parcas, gregas. Inicialmente ele é apresentado a um engenheiro que lhe dá noções básicas de matemática, mas ele é um aluno difícil e esse tutor sugere que ele entre para uma das academias da cidade (além das escolas convencionais Estrella tem três "academias": uma dedicada ao "canto", outra a "dança" e uma terceira ao "átomo"). A narrativa prossegue, cheia de desvios, acumulando personagens e histórias curtas (que discutem a natureza das paixões humanas, teoria musical; o aprendizado de técnicas de escrita como o ato de criar vida; definições para amor, ego e liberdade; as relações entre crime e castigo, o livre-arbítrio e o poder do estado). Com o tempo Davíd aprende a "dançar números", uma forma de conexão pura entre os homens e as estrelas. O livro termina com Davíd em transe, girando continuamente com um dervixe, experimentando algum tipo de contato com as esferas celestes, vendo estrelas como um Tycho Brahe, acoplado ao transcendental. A cada capítulo um leitor obcecado com associações (como eu) encontra diversos temas estimulantes. Mas este mar de associações intoxicou-me, ou melhor, intoxiquei-me sozinho tentando fazer associações. Talvez o inusitado dos nomes e atos dos personagens seja um tropo proposital de Coetzee, produzidos para induzir o leitor a buscar pistas falsas. Talvez o certo seja ignorar essa compulsão por entender o que há de criptografado na narrativa (se é que tais associações realmente existem, afinal não há Jesus algum na história e o simples paralelo bíblico aos sucessos do livro é algo óbvio demais). Talvez devamos aceitar apenas o que diz e faz Simón, o narrador, o personagem que ordena o caos de ideias e paixões dos demais, que guia o leitor pelas ilhas serpeantes das digressões de Coetzee, que predica como um profeta e acompanha diálogos como um filósofo. Definitivamente, enredo e venturas dos muitos personagens parecem ser apenas distração, cenografia, truques de um mágico habilidoso. Contar histórias é fácil, filosofar é difícil. O que verdadeiramente estimula, desafia e ilumina os homo sapiens sapiens é a filosofia, parece nos lembrar, professoral, Coetzee). Vamos ver como ele apresentará os novos sucessos de Simón, Inés e Davíd no último volume da trilogia. Daí, talvez, possamos entender mais. Vale. Em tempo: esse é o último registro de leitura do ano. Antes do solstício farei um balanço dos livros lidos no ano.
[início: 23/11/2016 - fim: 01/12/2016]
"The Schooldays of Jesus", J.M. Coetzee, London: Harvill Secker / Vintage (Penguin Random House UK), 1a. edição (206). brochura 13,5x21,5 cm., 260 págs., ISBN: 978-1-911-21536-3

site: http://guinamedici.blogspot.com/2016/12/the-schooldays-of-jesus_17.html
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