spoiler visualizarHelena Gonçalves 14/11/2023
MARIA BONITA
O livro mais pesado que li durante esse ano, li ele na mesma época que Herdeiras do Mar, que em comparação ao Maria Bonita, era uma história de ninar, além da leitura ter se dado no mesmo mês as narrativas se passam em anos próximos, dando uma visão que os problemas sociais se dão ao mesmo tempo de maneiras iguais por todo o mundo.
Apesar de ser tratado de uma biografia de Maria Bonita, é um livro com um conglomerado de informações tirados de outros matérias já existentes, e fala muito pouco de Maria de Dea, seu verdadeiro nome.
Enquanto a companheira de Lampião viveu, no entanto, essa personagem Maria Bonita, nunca existiu. A cangaceira que teve a cabeça decepada em 28 de julho de 1938 era simplesmente Maria de Déa: uma jovem de 28 anos que morreu sem jamais saber que, um dia, seria conhecida como Maria Bonita. Nos anos em que viveu com Lampião e nos subsequentes à sua morte, despertou pouco interesse em pesquisadores ou jornalistas. E foi essa lacuna de informações sobre sua vida e a das outras jovens que viviam com o bando que contribuiu para que se criasse a fantasia de uma impetuosa guerreira, hábil amazona do sertão, uma Joana D'Arc da caatinga. Essa versão romântica e justiceira de Maria Bonita, rapidamente apropriada pela indústria cultural, tornou-se um produto de forte apelo comercial e expandiu seus limites para além das fronteiras do sertão.
E uma das primeiras coisas que a gente descobre é que, embora Lampião fosse assim conhecido no Brasil inteiro, Maria Bonita era simplesmente Maria de Déa ou Maria do Capitão. E diferentemente do que a cultura popular viria a pregar, ela não era a mulher mais bonita do Cangaço e, por muitos com quem convivia diariamente, era tida como uma mulher comum.
Mesmo nessa biografia a história de Maria é, ainda, muito misteriosa. Muito do que se sabe foi contado por companheiras de cangaço que sobreviveram a ordenação ou pelos Volantes - a polícia responsável por caçar os cangaceiros.
O livro traz uma visão real dos fatos que ocorreram aquela época, tira um pouco da visão de Lampião como justiceiro do sertão, e mostra seu lado traiçoeiro e cruel, assim também da corrupção dentre policiais, religiosos e demais autoridades dos sertões brasileiros.
Além de que conta que lampião não virou cangaceiro por ter sofrido a perda dos pais quando criança, pela mão dos policiais, mas que sim ?herdou? esse posto de seu chefe quando foi preso.
É uma leitura culturalmente relevante, pois se trata de reais fatos do nosso país, e mostra como as pessoas utilizavam desde remotos tempos as visões fantasiosas da população para levantar falsas histórias.