leiturasdabiaprado 07/03/2024
Eu gosto de sair da minha zona de conforto, de questionar, de buscar alternativas, faço isso na minha vida pessoal e também na profissional, acho que só assim evoluímos e somos capazes de dar o nosso melhor!
Sou Delegada de Polícia, meu dia a dia é investigar, indiciar, representar por prisões e prender, isso a grosso modo falando.
Mas, como Autoridade Policial e acima de tudo como estudiosa do sistema penal eu sei que o nosso sistema está falido, não existe um trabalho de ressocialização estatal, existe apenas o encarceramento como medida retributiva, punitiva e de isolamento social.
Desde a minha época de faculdade (há mais de 20 anos atrás) eu questiono a falência do nosso sistema... advoguei por 10 anos, já sou Delegada tem 11 e nesses mais de 20 anos laborando na esfera criminal eu posso dizer com propriedade: Temos que mudar o enfoque, temos que buscar alternativas, temos que mudar a forma como as penas são aplicadas...
O livro da Angela Davis trata do sistema americano, que é diferente do nosso, mas que também está lotado, mal gerido e com viés econômico (lá existe a privatização das cadeias, existe toda um política de lucro em cima dos presos e às custas do Estado).
Mas, mesmo tratando dos EUA o livro questiona muita coisa que acontece aqui também, fala da criminalização das pessoas pretas, dos abusos nas penitenciárias femininas, na política de drogas como forma de genocídio dos pretos e pobres...
Ao final ela não trás uma solução/substituição para todas as prisões, mas fala de justiça restaurativa, de ampliação de responsabilidade civil, de educação, de descriminalização de determinadas condutas.
E sim, o caminho é por aí também aqui no Brasil!
Eu insisto em dizer que droga deveria ser tratada como política de saúde e não criminal, que temos que abrir horizontes, avançar em educação, em políticas públicas de reintegração, de ressocialização...
E vocês podem estar aí lendo e achando que eu sou utópica, mas não, eu vejo a falência de perto todos os dias, já prendi um mesmo autor quatro vezes num mesmo ano... então eu te pergunto a cadeia funciona?!
É preciso pensar fora da caixinha e buscar alternativas, obviamente que não podemos abrir mão da prisão em todos os casos, mas precisamos sim repensar a política criminal brasileira!