Polly 22/09/2023
Todo mundo merece morrer: tanta gente ruim no metrô (#193)
Todo mundo merece morrer faz jus ao seu título. De fato, a impressão que fica é que todos os personagens deveriam estar mortos e enterrados. Sério. É difícil gostar de qualquer personagem durante os capítulos - difícil demais, eu diria impossível. A galera é tão baixo astral, que a gente cansa de carregar toda aquela energia “pesadona”. A escrita até ajuda a leitura fluir, mas a vibe dos personagens pede algumas pausas.
Normalmente, ter personagens escrotos não é um empecilho para que eu goste de um livro, afinal, o que faz um livro bom é a narrativa, é a maneira que o autor nos conta a história (ao menos, para mim). Aliás, meus livros preferidos, quase sempre, são cheios de pessoas perturbadas e de caráter duvidoso. Dar nuances aos personagens deixa a narrativa muito mais rica, muito mais interessante. Deixa a ficção mais próxima da realidade. E o jeito de colocar isso no papel é fundamental. A escrita, na maioria das vezes, compensa o desagrado de estar na cabeça de alguém não tão legal.
No entanto, a escrita da Clarissa, embora impecável, não é o suficiente para compensar o horror de ter que lidar com tanta gente sem alma. A leitura foi desagradável para mim. Tirando uns dois ou três personagens, as nuances de personalidade não existem: os personagens são essencialmente maus, são simplesmente as piores pessoas com quem você pode se deparar por aí - aliás, como juntou tanta gente bad vibes em um único vagão de metrô, meu pai?. O negócio é tão sério, que a gente acaba torcendo para que o ataque terrorista dê certo (risos desesperados).
Para falar do que gostei, embora curto, o capítulo da personagem que tenta realizar o ataque em pleno metrô de São Paulo foi o que mais achei interessante. Os matizes da personalidade da personagem assassina são bastante delineados. Apesar de sua ação ser abominável, é possível entender o raciocínio da personagem. Ela não é uma pessoa ruim por, pura e simplesmente, ser ruim. O sofrimento do seu passado explica suas ações, ainda que não sejam suficientes para justificá-las.
Outra coisa que chama bastante atenção na escrita de Clarissa é o domínio que a autora parece ter das paisagens de São Paulo. A cidade quase vira um personagem durante a narrativa, e olhe que essa afirmação vem de quem nunca pisou em São Paulo. Imagino que seja ainda mais interessante para quem conhece e vive na cidade.
Por fim, não deu para gostar do livro. Infelizmente. Os capítulos parecem ser uma sequência de justificativas do injustificável. Gente perturbada demais procurando uma desculpa para ser escrota e ruim. Não me parece ter propósito - não que a literatura precise de um. Ainda assim, acredito que eu daria uma nova chance para a escrita da autora, que acho que tem muito potencial.