Clamar e agitar sempre

Clamar e agitar sempre José Murilo de Carvalho




Resenhas - Clamar e agitar sempre


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Gabriel 03/07/2021

O historiador José Murilo de Carvalho esmiuça a rica produção político-intelectual da década de 1860, demonstrando como a historiografia acabou por negligenciá-la em virtude dos grandes acontecimentos ocorridos na década de 1840 e depois na década de 1870. Conforme é narrado inicialmente, mesmo a geração que ficou conhecida como “geração de 1870” teve seus primeiros passos ao fim da década de 1860, de modo que esse período também constitui elemento importante para compreensão da nossa história. Aliás, é nesse período que os embates mais acirrados se desenvolvem em torno elementos estruturantes do estado brasileiro, como o poder moderador, a centralização da política etc. De acordo com o que nos diz José Murilo, “nessa década [1860] foram produzidas as mais ásperas críticas às principais instituições políticas e sociais do Império, como o Poder Moderador, as eleições, os partidos, a religião oficial, o sistema judiciário, a escravidão. A ênfase excessiva, se não exclusiva, na Geração de 70 exclui os pensadores e militantes da década anterior, autênticos representantes do nosso pensamento político. (...) Mais ainda, foi nessa década que se formularam as propostas mais radicais de reforma social e política durante o Segundo Reinado.” (pp. 15-16).

Inicialmente há um destaque especial para a política de conciliação do Marquês do Paraná, que acabou relegando os conservadores ao ostracismo nos anos que se seguiram. Embora o resultado inicial possa ser considerado proveitoso, as consequências a longo prazo foram mais drásticas.

José Murilo demonstra que a defesa esboçada pelos radicais e liberais por vezes não contemplavam todos os aspectos da vida social, limitando-se ao que ele denominou de «politicismo». Em contraposição a isso, cita como exemplo o conservador Visconde de Uruguai, que entendia a relevância da centralização e do poder moderador numa nação que ainda tinha de enfrentar proprietários de terra ainda mais despóticos que o Estado.

Outro ponto a se destacar, enfaticamente mencionado por José Murilo, é o de que as conferências não podem ser vistas como “uma descrição fidedigna do Brasil da época”. É evidente que as conferências assumem um tom visceral e virulento, donde se pode imaginar que “um soberano todo-poderoso, um césar caricato (...) controlaria o país por intermédio de ministros subservientes, de políticos corrompidos, de um senado reacionário, de uma polícia arbitrária, de uma guarda nacional a serviço do absolutismo” (p. 58). Ocorre que o próprio espaço de que os radicais gozavam era suficientes para demonstrar que não havia toda essa repressão aludida, além dos testemunhos estrangeiros mencionados por José Murilo ao combater essa perspectiva.

Dentre as conferências expostas no livro, destacam-se a 5ª e a 6ª. A 5ª é proferida pelo senador Silveira da Mota, que investiga «A degeneração do sistema representativo». Dessa interlocução é possível extrair diversas observações valiosas, que refletem ao menos de forma parcial os problemas enxergados pelos radicais no Brasil do século XIX.
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