spoiler visualizarBia 17/02/2024
Análise literária
Bom, depois de ter feito a leitura complexa de dom casmurro e ter me encantando com o alquimista, eu nunca mais consegui me encantar com nada do machado, mas na tentativa de aprender a apreciar um pouco melhor o movimento realista, eu resolvi dar uma chance pra Memórias póstumas de Brás Cubas, o que de início eu li a versão em quadrinhos pra depois ler a versão original.
Um breve resumo da obra é que Brás Cubas, que começa a narrativa morto, conta suas memórias desde a nascença até à morte, sendo um representante da elite burguesa carioca do século XIX, a narrativa tem como orientador o seu relacionamento extraconjugal com Virgília.
Machado nessa obra usa de pura zombaria para criticar o papel social do protagonista. Ao decorrer da narrativa Brás tenta várias vezes chamar atenção para si mesmo, tendo todas elas frustradas, Machado critica o quanto a classe burguesa sempre busca algo para deixá-los em evidência, afinal o que é mais importante pra elite do que os holofotes? Outro ponto criticado por Machado é que para sua classe social sua origem é muito importante, o que traz a controversa de que na verdade ele é descendente de um mero artesão. A escravidão também é um assunto retratado, o narrador nos conta que, quando tinha 6 anos, quebrou a cabeça de uma escrava pois lhe negou um pedido. Em seguida, Brás Cubas conta que uma criança escrava, era o seu cavalo todos os dias, esse menino chamado prudêncio era literalmente tratado com tal, o narrador nos revela que, no futuro, receberia a liberdade e também teria um escravo.
Alguns anos se passam e Bras Cubas tem seu primeiro relacionamento, com Marcela, na qual o pai julga ser por puro interesse, o que é se provado na narrativa, então Brás é mandado para Europa para estudar, no caminho ele até tenta suicídio mas é impedido. Quando já na universidade, é um estudante medíocre mas que se forma pois o ?grau de Bacharel? lhe é dado, como afirma, ou seja, comprou o diploma, quando volta ao Brasil conhece Virgília, na qual o pai do narrador diz ser uma influência política e sugere um casamento na qual a ideia foi anulada pois virgília decide se casar com Lobos Neves.
A morte de seu pai acontece e o narrador discute com sua irmã e seu cunhado a respeito da herança, o que só enfatiza a inutilidade do personagem, afinal, nenhum de seus planos deu certo agora.
Após o casamento de virgília com lobo neves, Brás e a moça resolver ter um caso extraconjugal, na qual machado critica a classe burguesa que prega o conservadorismo mas não vive de acordo, servindo só para as aparências, dito isso, Brás cubas cogita fugir com virgília mas opta por manter as aparências. Pouco tempo depois lobo neves trás a notícia que provavelmente ocuparia a previdência de uma província, o que separa os dois amantes, que ficam abalados com a separação, e quando o caso vai a público, a irmã de Brás Cubas, Sabina, decide tentar arranjar uma noiva para Brás, o que é em vão. Mais velho quando decide se casar, sua pretendente morre, na sequência, ele se torna um deputado. Ele então se lança em mais um projeto que veio a falhar, na qual publicou um jornal, que, seis meses depois do primeiro número, deixou de existir.
Bom, afinal o que machado tenta e na minha opinião consegue perfeitamente é criticar a elite burguesa carioca do século XIX, na qual representante é um dono de escravos, fútil e superficial, ele segue a trajetória de um burguês da época: tem uma amante com quem gasta dinheiro, estuda na Europa, consegue um diploma, tenta a carreira política e, para isso, precisa de um casamento. Além disso, valoriza as aparências, o título, a origem social, sem contribuir, de fato, para o crescimento do país.
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Algo interessante de saber também é o contexto histórico do porquê Machado foi pioneiro do movimento realista no Brasil. No Brasil havia acabado de ser proibido o tráfico negreiro, o que deixou o país em decadência, as ideias progressistas anti conservadorismo ganharam força e com a dúvida deixada pela guerra do Paraguai o país estava em crise, e então não havia mais espaço para o idealismo romântico e toda sua melancolia. Machado de Assis lançou seu olhar crítico ao país em crise com suas transformações e presenciou fatos históricos como a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República, machado questiona a realidade brasileira, que vinha sendo moldada pelos ideais de uma burguesia em decadência, muito conservadora e em dissonância com as mudanças econômicas, sociais e políticas pelas quais passava o Brasil.