Lucas1429 09/03/2024
A semi-ideia da certeza e a eternidade da morte
Dono de uma chácara abastada no Catumbi - Rio de Janeiro, experimentado na política e na filosofia, filho de um pai influente na sociedade carioca e enamorado por figuras cortesãs e pouco eruditas desde os dezessete anos, Brás Cubas é um personagem índice na obra de Machado de Assis. O livro que foi lançado como romance saído dos folhetins em 1881, inaugurou a fase de transição do romantismo ao realismo machadiano. Memórias Póstumas de Brás Cubas traz o personagem Brás Cubas que é o narrador e protagonista onisciente da história, uma vez que sua consciência é atemporal e perpassa toda a vida dos demais personagens, como um "defunto autor", isto é, autor auto-proclamado, descrevendo sua biografia de maneira humorística e contando toda a sua vida desde a sua infância até sua morte. Na verdade o livro é iniciado por ele contando de sua morte, o que já não era algo muito comum nos romances da época. Machado de Assis nesta obra, traz um aspecto analítico sobre uma perspectiva "psicologista", ou seja, que cerca o pensamento do homem sobre a realidade de suas intenções e ideias. Para tanto, o autor faz com que seu personagem, Brás Cubas, traga muitos dos vícios de ironia, pessimismo e humorismo contando sua história, como meio de justificar a falsidade da "posição social" e da hipocrisia do homem quanto aos seus objetivos, justamente fazendo a ideia de que por mais escusos que sejam os fins, estes são sempre justificados pelos meios. Ao longo da narrativa da vida de Brás Cubas, encontram-se os fios condutores de sua existência que são o romance, a concupiscência, a filosofia e a antologia comparativa de sua própria conduta á de personagens de antepassados históricos da humanidade. Machado de Assis exprime no personagem seu universalismo, ou seja, a ideia incerta de que se pode obter a verdade e os fatos universais que estão encobertos, ou os chamados "mistérios" através do pensamento. No entanto, como Brás Cubas vivencia apenas "episódios" de um incompleto amor, incompleta paternidade, incompleta espiritualidade, ele atinge apenas o ponto de uma semi-ideia do que é o certo e o inceto sobre a correta ação, moral e ética diante da sociedade. Em toda sua vida, há a presença do fim. Ele elucida algumas destas evidências como a morte de sua primeira namorada, Marcela, que morreu em miséria, a morte de seu pai Bento Cubas, a morte de seu companheiro de escola, Quincas Borba, que morreu louco, e sua própria morte. Machado de Assis, com estas sequências matalinguísticas, em capítulos curtos, traz á tona a ideia de que existe no personagem uma certa eternidade no argumento da morte. Criando um Brás Cubas irônico que corrobora a cada vez uma sensação de que flexibilizar as ações em vida, é uma forma de outorgar a morte como um medalhão, isto é, como um ato nobre de que há decência e dignidade no fato de se viver uma vida mesmo que esta tenha sido desonrosa e indecorosa, como fora a de Brás Cubas que levou por exemplo, Virgília a trair seu marido, Lobo Neves, com argumentos coercitivos de um falso amor e uma falsa realidade de fuga ou casamento para viverem seu amor. A obra por fim, é uma excelente reflexão sobre as ações do homem ao longo da vida e como ela está carregada dos vícios tão presentes nos dias de hoje. Em suma, há muito de Brás Cubas nos homens do que se pode conceber.