Danielle.Brito 24/05/2020
O livro conta a história das irmãs Arenas, Victoria, Mona e Luz, que por um conjunto de circunstâncias e fatalidades, se veem obrigadas a imigrar do interior da Espanha para os EUA, nos anos 1930, em busca de uma vida melhor. As três são filhas de Emilio Arenas, que desde sempre foi um marido insensato e pai ausente, que levava um estilo de vida sem amarras, percorrendo o mundo de maneira errante. Poucos meses depois da chegada das filhas em Nova York, ele morre em um acidente nas docas e deixa para elas um pequeno restaurante com inúmeras dívidas e a dificuldade de sobreviverem na nova terra, cujo sequer o idioma dominavam. A trama principal é a motivação das três filhas e da mãe delas na luta pelo recebimento de uma indenização pelo episódio da morte trágica de Emílio Arenas.
Porém, a meu ver o principal foco da trama é o clã formado por quatro mulheres, que lutam para sobreviver e progredir em um país diferente do delas, são confrontadas com as diferenças gritantes presentes nessa sociedade, onde os opostos são muito evidentes. Riqueza/pobreza; honestidade/desonestidade; sonho/realidade.
Para compor a história do livro María Dueñas entrevistou pessoas, hoje bastante idosas, que viveram a imigração nos anos de 1930, e a partir de suas narrativas conseguiu mostrar como era a vida de um imigrante espanhol, a maioria deles vindos de uma Espanha rural para uma cidade que já naquela época tinha proporções magníficas. Pela narrativa compartilhamos a sensação das personagens, de se perceberem como “estranhas no ninho”, a importância que tem para elas a convivência com seus iguais e a cultura de seu país de origem (há muitos momentos que resgatam isso no livro). “As Filhas do Capitão” é um romance histórico e a narrativa é tão boa que nos transporta para os bairros e a vida naquela época.
Recomendo a leitura!
Os primeiros infectados pela epidemia são isolados em quarentena, para preservar aqueles que ainda não foram expostos à cegueira e tentar assim reduzir a expansão da quantidade de cegos. Porém, a quarentena não é suficiente para frear o avanço da cegueira e os serviços do Estado começam a falhar. À medida que todos vão ficando cegos, as prioridades se alteram, as pessoas acabam reduzidas a meros seres lutando pela necessidade mais básica de todas, comer. E para isso, solidariedade, ética e moral são totalmente desconsiderados.
A trama tem como protagonista a personagem nomeada como “a mulher do médico” (aliás, nenhum personagem tem nome mencionado ao longo da história, “para que nomes quando não se enxerga?”), a única pessoa que não é afetada pela doença. Com isso, cabe a ela registrar sob seu olhar o horror que toma conta da cidade, o desmoronamento completo da sociedade, que se “animaliza”, perdendo tudo aquilo que até então se considerava como “civilizado”.
A narrativa de Saramago é genial, faz com que sintamos a cegueira branca, por meio da ansiedade, inquietação, claustrofobia pela qual aqueles personagens passam a partir do momento que se descobrem cegos. As situações terríveis pelas quais eles são submetidos nos permitem também, em muitos momentos da história, sentirmo-nos também cegos e perdidos.
“Ensaio sobre a Cegueira” é uma metáfora brilhante do autor, na qual a “cegueira branca” por ele descrita tem relação direta com a “cegueira moral”, relativista do sofrimento alheio, que hoje vemos se aprofundar em nossa sociedade. Em suma: "Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança" (José Saramago).
Livro emocionante! Recomendo a leitura!