Vitória 14/05/2023
Acho que meu primeiro contato com a Maria Dueñas, que foi por meio de o tempo entre costuras, aconteceu há uns 5 anos. Lembro de ter sido no período em que eu estava de cama com a perna quebrada, sem nada de interessante pra fazer, e de como aquela história me deixou completamente imersiva, de forma que eu só conseguia pensar na personagem e nas coisas que aconteciam com ela, e o fato da protagonista ser costureira só aumentou o meu encanto. De lá pra cá li a melhor história está por vir e destino la templanza. Esses dois últimos não chegaram sequer perto de serem o que o tempo entre costuras foi, mas ainda assim foram ótimas leituras. Pensei que já tinha entendido o que esperar das obras dessa mulher, mas aqui eu percebi que estava errada, e tenho que dizer que as filhas do capitão é o pior livro que li dessa autora até agora.
Em primeiro lugar, eu amei a ambientação construída pela autora. Como já era de se esperar, ela traz protagonistas espanholas, mas dessa vez dentro dos Estados Unidos. Foi lindo e ao mesmo tempo sufocante ver as meninas sendo arrancadas da sua realidade e jogadas em um continente novo do qual elas sequer entendem a língua. A autora sabe muito bem retratar a realidade dos imigrantes, do preconceito enfrentado por eles, dos percalços em realizar atividades simples do dia a dia e principalmente da saudade de casa. As desavenças delas com a mãe foram outro ponto alto. As meninas já são mulheres e se sentem como tal, só que Remedios, como qualquer mãe superprotetora, sente medo de jogá-las livres num mundo do qual ela não conhece nada, e acho que esse foi o ponto no qual eu mais me identifiquei com elas, porque ainda que eu more no mesmo lugar a vida inteira, acho que toda mulher passa por uma fase parecida com essa.
Acho que grande parte da minha dificuldade com esse livro se deve ao fato de termos três protagonistas e da narrativa ter que alternar constantemente entre as três. Pelo menos na minha visão, a Mona é a grande principal e aquela que mais ganha destaque por parte da autora, mas algo me travava nos capítulos dela. Cheguei aqui com a noção de que a Dueñas não costuma gastar páginas e páginas desenvolvimento romance algum, e que isso geralmente só acontece de fato nas últimas 10 páginas do livro, mas, a partir do momento em que eu vi a Victoria se apaixonando pelo filho do seu marido e que esse núcleo me arrebatou de jeito, foi impossível não esperar o mesmo pras outras meninas. Ainda que a Victoria seja a irmã mais sem sal, e da qual eu gosto menos, o romance dela com o Chano, tanto pelo fato de ser proibido quanto pela química que os dois exalam, foi envolvente demais, e eu só conseguia gritar de frustração quando mudava pros capítulos das outras meninas e via a Luz sendo abusada ou a Mona enterrada em trabalho até a cabeça.
Claro que temos outros plots além do romance. A Luz quer virar uma artista de sucesso e a Mona quer transformar o negócio falido do pai em um night club. Isso até que conseguiu me prender por algumas páginas, mas chega um momento em que eu via que a autora estava enrolando pra deixar o livro maior, se utilizando de coisas que não eram interessantes pra mim, e das quais eu não tinha a mínima vontade de saber sobre. O triângulo amoroso em que a Mona se enfia aqui foi completamente desperdiçado. Agora eu consigo imaginas umas 20 formas que a autora poderia ter inserido isso um pouco mais na narrativa do livro e criado um conflito entre os personagens, mas ela só cita no epílogo que a Mona ficou com um dos meninos, sem que eu saiba como ou porquê isso aconteceu. O drama da Luz é de longe o mais pesado, mas de novo é tratado com irresponsabilidade. A menina foi estuprada diversas vezes, apanhou de homem, e tudo se resolve com um amigo dela, que por um acaso é apaixonado por ela, dando uma surra nele com outro carinha. Isso poderia ter sido o início de uma história incrível de romance, mas de novo a autora esquece tudo como se nunca tivesse acontecido e apenas cita no epílogo que os dois ficaram juntos.
Sabia, pelos outros livros que já li da autora, que em algum momento ela iria inserir alguma trama mais identitária pra população espanhola, e a bola da vez foi a monarquia. Novamente, quando isso começa, eu pensei que ela iria tratar disso com profundidade, e a mulher até fez isso no início. A raiva dos imigrantes espanhóis é palpável, e a destruição do restaurante das meninas dá medo, só que eu sequer sei direito porque isso aconteceu, já que a mulher não me deu um mísero contexto histórico. Creio que ela pensou que eu deveria lutar com o Google pra entender a treta, mas como já estava me aproximando do final do livro, e só queria acabar logo esse suplício, eu joguei tudo pro alto e segui em frente. Enfim, foi um livro que teve seus momentos bons, mas que na balança pende mais pro chato do que pro entretenimento de qualidade. Vou dar um bom tempo nessa autora antes de reler meu favorito o tempo entre costuras e ver o que essa mulher inventou em sira, porque vamos combinar, a última coisa que aquele livro precisava era de uma continuação.