Coisas de Mineira 24/05/2020
O “Reino de Zália” é a primeira fantasia da autora Luly Trigo e foi lançado em 2018 pela editora Seguinte. Na história conhecemos a princesa Zália, do arquipélago de Galdino. Por ser a segunda filha, Zália pôde crescer longe dos conflitos da monarquia, estudando em um colégio interno onde conheceu seus três melhores amigos: Gil, Júlia e Bianca.
Zália sonha em ser fotógrafa, mas tudo muda quando o seu irmão, Príncipe Victor, o primeiro na linha de sucessão, sofre um acidente. Zália se vê obrigada a voltar para o palácio e assumir como regente e herdeira do trono.
Antes de mais nada, eu não estava com muita expectativa ao pegar o livro. Isso porque a capa, apesar de ser linda, me passou a impressão de ser uma trama mais infantil. Mas essa impressão já passou logo nas primeiras páginas da história.
“Finalmente entendo que é importante se permitir sentir. Só assim podemos superar nossos traumas e crescer. Transformar os obstáculos em lições, e não em fantasmas.”
Zália, por ter sido criada fora do palácio, acabou crescendo mais próxima do povo. Estando tão perto de seus amigos e professores, ela começou a ter um respeito muito grande pela opinião deles, que nem sempre ia de encontro com o que seu pai e seu irmão faziam para o reino.
Me senti um pouco ligada a Zália, com o passar do livro. Acredito que isso tenho acontecido porque eu já fui muito subestimada pelas pessoas, assim como a princesa é subestimada por seu pai. Falo isso porque, quando o rei tem que escolher o próximo regente, ele se vê inclinado a colocar seu assessor político, por pensar que ela não teria capacidade para a função. Acho que isso acaba sendo um estopim para ela mostrar que pode sim, ser melhor. Então, para todas as pessoas que passam por isso, vocês são capazes! Mas voltando para a história.
O que eu senti dessa resistência do pai dela, foi um pouco de machismo misturado com aquele jeito conservador de que “o jeito antigo sempre funcionou”. Falo de machismos, porque a mãe de Zália que é uma personagem sensacional e, possui uma história bem interessante que vamos conhecendo com o passar das páginas, também tem suas ideias. Apesar disso, o que deu a entender é que a opinião dela, também era ignorada pelo rei.
Falando sobre esse certo “machismo” que rei, a autora nos traz várias personagens femininas fortes, como: a delegada Lara que investiga alguns casos de corrupção no reino, Carmem que é uma das lideres da resistência, a professora Mariah que ajuda Zália em termos de história e política, a avó de Julia, d. Francisca, que acaba sendo uma referência para Zália quando o assunto é a voz do povo e a rainha Rosangela, mãe de Zália, que incentiva a filha a ir atrás do que acredita.
Além disso, conseguimos ver como ele está tão certo de que a forma com que governa, é a melhor. Não vendo assim, com bons olhos o jeito que Zália quer governar. Ao que pude perceber, por um bom tempo o rei enxergou a filha apenas como uma menina tola, jovem e inexperiente e que não sabe fazer as coisas como ele estava acostumado e como ensinou seu filho a fazer.
Achei a personagem bem humana, uma adolescente que se vê do nada, tendo que assumir uma grande responsabilidade. Ela vê esse desafio com muitas dúvidas, afinal, era seu irmão que estava sendo treinado para isso, desde que nasceu. Apesar das dúvidas, ela resolve encarar e mostrar para o pai, que pode sim, ser uma boa regente e governante.
É esse pedaço da personalidade de Zália com o qual eu me identifiquei tanto e, quando um livro me traz esse sentimento, eu começo a amar a história. Outra coisa bacana de “O Reino de Zália” é que para a princesa, seus amigos são muito importantes. E é essa amizade que ajuda a garota em vários momentos difíceis que ela passa. Aliás, temos Gil, um personagem gay, que veio de uma boa família e que após se assumir, teve que lidar com a rejeição do pai.
“Ter meus amigos ao meu lado me fortalece. Eles não se importaram ao me ver chorar, isso não os afasta. Permanecem todos do meu lado. Com eles, as preocupações e o medo se tornam menores. Me sinto mais eu, e a coroa não parece tão pesada.”
Como um bom livro que retrata a monarquia, temos um grupo que é chamado de Resistência, formado por pessoas que são contra a monarquia e cobram por melhorias. Além da Resistência, existem também outras pessoas que desejam ter mais poder, então temos alguns conflitos políticos e de poder e é bem interessante ver como Zália lida com eles. Outra coisa legal de ver é como as opiniões de pessoas próximas a princesa, sobre a Resistência. Não vou falar muito, pois tenho medo de dar spoilers.
O último quote dessa resenha, é uma passagem que gostei muito, e que fala muito sobre esse e qualquer outro grupo do mundo. Em qualquer área, em qualquer grupo, seja religioso, político ou de qualquer outra natureza, sempre existem os extremistas. As vezes é necessário sim, defender um ideal com muita garra, pois é algo que merece, mas o extremismo pode transformar algo bom em ruim, muito rápido.
Uma coisa que achei engraçado, é que apesar de ser uma fantasia, a história pode muito bem se encaixar na vida real. Um dos problemas políticos que Zália acaba descobrindo no reino é a corrupção. Não vou falar muito disso, porque posso dar spoilers bem importantes da história, mas vamos dizer que a autora conseguiu introduzir fatos e acontecimentos bem reais na fantasia. Quem dera tivéssemos personagens como Zália, Gil, Júlia, Bianca, Mariah, Lara, d. Francisca, Rosangela e Enzo.
E por último, mas não menos importante: como uma boa fantasia, não podia faltar um romance, não é? Então temos sim, romance no livro. Zália tem sentimentos por um amor do passado, que reaparece em sua vida quando ela volta para o palácio, após o acidente de Victor. Mas também há pessoas novas chegando na vida da garota, vemos aí um pequeno triângulo amoroso? Tenho que falar que sim, então além de ter que enfrentar muitos problemas políticos, a princesa precisa descobrir mais sobre seus sentimentos e aprender a ouvir seu coração.
Como disse anteriormente, a história foi uma grande surpresa para mim, a leitura foi bem fluida e fácil. Vemos a história toda pelo ponto de vista de Zália. Aliás, falei no início que Galdino é um arquipélago não é? Um conjunto de ilhas. Apesar do livro não ser tão descritivo é possível ver com a narração, como o lugar é bonito e como Zália ama seu país.
Quando eu cheguei ao final, apesar da autora ter dado um fim para a história, eu senti que podia vir mais coisa daí. Então, Luly, caso você queira escrever alguma continuação, você tem em mim uma pessoa que quer muito ler. Acho que muito além de Zália, Júlia também pode ter muita coisa para contar. Para finalizar, gostaria de ressaltar outra vez, que a capa desse livro é a coisa mais linda que eu já vi. Parabéns Seguinte.
Luiza Trigo, mas conhecida como Luly Trigo, nasceu e mora no Rio de Janeiro. Ela é formada em cinema e no seu site ela escreveu que a cada dia que passa tem mais certeza de que nasceu para ser escritora. A autora já lançou oito livros, além de “O Reino de Zália”, podemos citar também “Meus 15 anos” que foi adaptado para o cinema.
“— Infelizmente, todos os movimentos, religiões e grupos idealistas têm extremistas, que querem ir muito além dos preceitos básicos, mas que não representam o todo.”
Por: Ana Elisa Monteiro
Site: www.coisasdemineira.com/o-reino-de-zalia/