Aione 22/01/2019A Perdição do Barão é o segundo livro de Lucy Vargas publicado pela Bertrand Brasil e, também, meu segundo contato com a escrita da autora, iniciado por Um Acordo de Cavalheiros. Embora eu não tenha lido seus outros trabalhos, pude notar diferenças significativas entre os que pude conhecer, ainda que algo tenha se mantido nas experiências: adorei ambas leituras.
Patrick acredita pertencer a uma família que sofre do “mal do amor”, dados os tantos escândalos envolvendo seus familiares. Assim, quando se apaixona por Hannah, acredita que jamais será correspondido; contudo, eventos fazem com que os dois se aproximem. Seria possível a ambos abandonar seus temores para viver, enfim, uma relação verdadeira e apaixonada?
Em relação à minha experiência anterior, a diferença mais significativa é perceptível desde o primeiro parágrafo de A Perdição do Barão: aqui a narrativa se dá em primeira pessoa, trazendo a voz de Patrick. Segundo sua nota ao final, Lucy Vargas informa que essa foi uma novidade para ela também, porque esse é seu único livro estruturado dessa maneira. Ainda, vale lembrar que ela, inclusive, é incomum no gênero como um todo, que, além de normalmente trazer em primeiro plano a perspectiva da mocinha, quando traz a do mocinho o faz em terceira pessoa. Assim, a narrativa aqui é muito mais íntima e próxima do personagem, de forma a mergulharmos em seus sentimentos, anseios e temores.
Com isso, altera-se também a atmosfera da história como um todo. Enquanto em Um Acordo de Cavalheiros pairava certo divertimento, em A Perdição do Barão o clima é muito mais melancólico. Patrick é um homem que sofre com as inseguranças de seu amor e isso é transmitido para a narrativa. Em decorrência, a própria relação desenvolvida entre ele e Hannah é baseada em inseguranças, o que faz o livro girar em torno das dificuldades que sentem como casal, já que não conseguem se abrir com o outro. Também, como só conhecemos a visão de Patrick sobre os fatos, sofremos com ele por não termos acesso à mente de Hannah; assim como ele, só podemos supor o que ela sente e pensa.
O que mais gostei na leitura foi a forma de como as personagens e seus sentimentos foram trabalhados, especialmente pelo enredo se estender por um período tão longo de tempo. A Perdição do Barão é um livro muito mais voltado para conflitos emocionais, o que faz dele um pouco mais lento, ainda que contenha reviravoltas externas. Também, Lucy Vargas não deixa de trabalhar temáticas pertinentes a nossa atualidade — como a severidade mais acentuada com que mulheres são tratadas em relação aos homens, em diversos cenários — mesmo que contextualizadas ao período em que a história se desenvolve.
Em linhas gerais, A Perdição do Barão me cativou por ter se sobressaído em relação a outros romances de época, já que entrega uma atmosfera diferentes sem deixar de trazer elementos comuns ao gênero — como a presença de cenas eróticas. Vale um destaque para a nota de Lucy Vargas ao final, na qual ela expõe diversas curiosidades sobre a pesquisa necessária para a criação da história. Saber os bastidores não foi apenas interessante pelo olhar que proporciona ao livro, mas sobretudo pela quantidade e qualidade de informações históricas apresentadas.
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