Danilo e o Evento de Anime

Danilo e o Evento de Anime Anderson Assis




Resenhas - Danilo e o Evento de Anime


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Paulo 06/10/2018

Esse é um daqueles quadrinhos onde o leitor fica indeciso entre elogiar o roteiro e arte. Ambos são sensacionais, mas cada um tem sua cota de mérito na construção dessa grande obra. Não conseguimos descolar uma coisa da outra. E é nesse equilíbrio entre arte soberba e roteiro bem construído que temos um dos melhores quadrinhos publicados em 2018. Não é à toa que é uma HQ que recebeu o Prêmio Eisner. Liew perpassa décadas e décadas de história dos quadrinhos pelo mundo.

É impossível não começar essa resenha pelo enredo. E aí temos a genialidade de Sonny Liew. Ele criou uma mockbiography, ou seja, uma biografia fictícia para falar dos temas que ele gostaria de tocar. O mais curioso é que essa foi uma obra que nasceu através de incentivos fiscais dados pelo governo (uma espécie de programa de incentivo à cultura). Vendo o que a obra se tornou, o governo decidiu retirar o financiamento, mas já era um pouco tarde porque as primeiras edições já haviam ido para a gráfica. Entretanto, a impressão foi paralisada e apenas poucos exemplares acabaram chegando às mãos de leitores. Graças ao burburinho criado pela censura cingalesa, a obra acabou tomando vulto. Mas, nesse primeiro momento, suas vendas foram sustentadas pela polêmica. Alguns anos mais tarde, houve o reconhecimento artístico de fato e a obra ganhou o que merecia. Várias das críticas que vemos aqui são bem sutis e o autor foi muito habilidoso ao construir a história de seu protagonista atrelada à história do próprio país.

Quando estudamos o processo de descolonização afro-asiática, nosso foco quase sempre cai nas antigas colônias africanas e, às vezes, nos voltamos para falar de Coreia e Vietnã porque estiveram no pano de fundo da Guerra Fria. Mas, outras colônias como Cingapura passaram pela mesma situação. Muitos dos países que se livraram de suas antigas metrópoles optaram pelo governo comunista. Cito aí no bolo Angola, Coreia e Cingapura (os que não foram para o comunismo, embarcaram em ditaduras cruéis que duraram décadas... vide Indonésia e Sri Lanka, por exemplo). Só que acabamos erroneamente pensando que o modelo socialista acabou por resolver todos os problemas do país. O socialismo não conseguiu ser um sistema político efetivo porque no seu interior, a elite dirigente queria manter vantagens tipicamente capitalistas e acabar com todo e qualquer movimento opositor. Na HQ, vemos o quanto o PAP e o Barisan Socialis tentam disputar o poder na pequena ilha, muitas vezes com resultados lastimáveis.

A manipulação da opinião pública e o cansaço com tantas situações de exclusão social (alguma associação com o Brasil hoje não é mera coincidência) fez da população extremamente apática quanto ao que estava acontecendo. Aqueles que se opunham ao regime ou eram desacreditados, ou eram mortos ou exilados. Um pequeno desenvolvimento, quase um milagre econômico (novamente... associações com o Brasil) não é mera coincidência já que na década de 1970 os EUA passaram pela crise do petróleo, o que fez com que os países da Cortina de Ferro obtivessem um desenvolvimento incipiente. Mas, já na década de 1980 vimos o quanto isso foi efêmero. O protagonista vive essas mudanças na pele, já que seus quadrinhos tinham um viés revolucionário, de crítica social.

Também é preciso analisar a história a partir do ponto de vista da própria criação e difusão dos quadrinhos pelo mundo. Se Liew fala muito sobre a política em seu país, ele também toca em como os quadrinhos chegaram até países fora do eixo EUA - Europa. E tudo isso influencia na forma como o autor vai criar sua obra. No começo, o protagonista sofre influência muito mais do mercado japonês com o titã que foi Osamu Tezuka. Sua arte era capaz de atrair multidões e suas histórias podiam ser tanto ingênuas quanto complexas. Mas, aos poucos Charlie Chan vai tendo contato com outros quadrinistas como Wally Wood, Jack Kirby, Howard Chaykin, Frank Miller entre muitos outros. Vamos vendo que a sua forma de construir histórias vai mudando com o passar das décadas à medida em que ele absorve e transforma em algo próprio o que chega a ele. Ao mesmo tempo vemos o quanto a indústria dos quadrinhos é cruel. Em um espaço tão pequeno quanto Cingapura, sua arte não é interessante para a população. Quando ele tenta ganhar um espaço maior, sua arte apenas não é suficiente diante de um enorme oceano. Fora as interferências editoriais que ele acaba sofrendo também. Algumas das discussões que ele tem com seus editores são fenomenais. É a demonstração de como a magia funciona.

Liew é um monstro como desenhista. Ele consegue emular dezenas de traços distintos. Não sou especialista em desenhistas ao longo do tempo, mas a gente consegue perceber algumas influências. E ele consegue mostrar essa habilidade sem muito alarde. Essa mudança no traço acontece harmonicamente, servindo como um indicador até de quando a história foi escrita. Então, a gente sabe que quando ele foi influenciado por Tezuka era nas décadas de 1940 e 1950 e quando é com Frank Miller é para o final dos anos 1980. Vocês podem imaginar a dificuldade do que ele fez? A atenção nos pequenos detalhes? Algumas páginas são arte de alta qualidade: ele tenta simular cartazes antigos criando detalhes como o durex gasto, o papel amarelado e um pouco amassado. É de uma genialidade ímpar.

Também preciso comentar sobre a edição do Pipoca e Nanquim. Uma bela capa em baixo relevo com uma jacket lindíssima por cima. Ela destaca algumas das obras criadas pelo personagem como o Ah Huat. Internamente o papel é de alta gramatura o que valoriza as mudanças no traço feitas pelo artista ao longo das décadas. Ao final tem um glossário com algumas curiosidades e notas sobre a história de Cingapura. O legal é que o autor se envolveu diretamente no processo de tradução da obra dando opiniões e sugestões. O interesse dele pelo primor da publicação de sua obra é tocante e demonstra um total respeito pelos leitores e por aquilo que ele criou.

Só tenho elogios a fazer sobre esse quadrinho e, mais uma vez, o Pipoca e Nanquim se supera em uma edição primorosa. Já sei que vários de seus quadrinhos estarão entre os melhores do ano para mim. E o mais legal de tudo é poder estudar a história de um país que passou ao largo da gente. Além de ser um quadrinho belamente desenhado, é instrutivo e enriquecedor.

site: www.ficcoeshumanas.com
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Simone361 07/01/2019

Zona oeste em foco!
???
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Ana do Café com Leitura 08/08/2019

DANILO E O EVENTO DE ANIME
Danilo é um jovem nerd, de 14 anos, morador de Nova Sepetiba, na zona Oeste do Rio, local onde a pluralidade cultural não existiria, em sua concepção, até o dia que ele recebeu um panfleto na porta da escola que deixaria ele e seu amigo Mateus muito felizes: finalmente poderiam ir a um evento de anime! Em dois meses muitas coisas legais estariam por acontecer.
Durante o período que antecedeu o tão esperado evento de anime que aconteceria em Santa Cruz, Danilo esperou, imaginou, chegou a pensar se seria mesmo verdade...
...afinal, não era o tipo habitual de acontecimento pela localidade. Divulgou aos seus amigos, também fãs da cultura pop japonesa, e teve de explicar direitinho aos seus pais como seria, pois eles não faziam ideia do que se tratavam, por exemplo, os termos Anime e Cosplay.
Uma coisa que achei muito bacana em Danilo e o Evento de Anime foi a forma como o escritor vai norteando o leitor aos termos e questões relacionadas à cultura pop japonesa, além das referências habituais das vestimentas dos adolescentes que gostam de Animes, "tribo" essa considerada até pouco tempo diferenciada das demais aqui no Brasil. Sem contar o fato de mencionar o gosto pelos clássicos como Changeman, Flashman, e Cavaleiros do Zodíaco (nossa, como eu assisti! Hahaha!).
Uma história infantojuvenil de uma escrita simples e super acessível ao público jovem, com uma linguagem inteiramente prática e que consegue trazer o leitor para próximo da narrativa, sejam os amantes dos clássicos (como eu), ou ainda os mais atuais (como minha filha!) .

site: https://www.cafecomleitura.com/2019/08/372019-danilo-e-o-evento-de-anime.html
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Anelise 11/10/2019

Resenha: Danilo e o evento de anime
(Comprei por conta do livro acabar se assemelhando um pouco com meu As Aventuras de Jimmy Wayn, comprei tanto para curar a ressaca literária quanto para ver a parte gráfica.)
O livro conta a história do Danilo, que é um garoto que mora do bairro de Santa Cruz. Ele é um garoto nerd, otaku e gamer. Eu confesso que me identifiquei com ele pois era exatamente assim na adolescência. Ele tem dois melhores amigos, que são a Agatha e o Matheus.
Ele tem uma vida bem normal para alguém da sua idade, vai a escola, sai com os amigos e vê seus anime, lê seus mangás.
Uma coisa que Danilo sempre quis que tivesse em seu bairro era o famoso Evento de Anime. Ele sempre ouviu falar, mas nunca fora em um. E na sua região era complicado de ter, ainda mais fora do região cultural.
Porém, isso acaba mudando quando ele vê o anúncio de que finalmente vai ter um evento no seu bairro.
Apenas do plot bem simples, eu me diverti muito lendo este livro. Eu lembrei de mim mesma, na época em que só tinha evento longe para ir e quando finalmente teve um que era pertinho de casa. Que alegria que foi!
E é isso que acontece com Danilo. Ele fica nessa euforia, nessa alegria e a gente se contagia por ele e por seus amigos. E no final do livro eles vão para o evento e o curtem por lá. E conhecem também um lugar bem legal que é Palacete Princesa Isabel.
Em alguns momentos, o livro acaba sendo até sendo até um pouco didático. Explicando sobre os nomes, sobre a origem dos termos. Isso para quem não é leigo acaba se tornando meio massante, mas eu relevei.
Uma pena também que o livro não é tão maior, porque eu gostei da proposta dele. E confesso que lembrou e muito o meu próprio livro.
É um livro ótimo para nós otakus, só pelo sentimento de nostalgia. De lembrar dos eventos antigos, dos animes antigos, de tudo antigo.
É um leitura leve e prazerosa. Quero muito ser amiga do Danilo, da Agatha e do Mateus.
Foi maravilhoso ler um livro que valoriza tanto uma região como a Zona Oeste.

site: https://zodiacane.blogspot.com/2019/07/resenha-49-danilo-e-o-evento-de-anime.html
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Maria.Indiane 20/07/2023

Dentro do evento...
Li em 2019. Reli em 2022. Contei a história do livro pros meus alunos. Super recomendo pro publico a partir de uns 10 anos. Amei
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