Matemática Para Centauros

Matemática Para Centauros José Eduardo Degrazia




Resenhas - Matemática Para Centauros


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Isabela | @readingwithbells 20/11/2018

Matemática Para Centauros é um livro de poesia escrito pelo José Eduardo Degrazia.
O poeta em sua obra inclui filosofia, matemática, metalinguagem, muito jogo de palavras e até poemas em inglês.
Com diferente temas, o livro é de fácil leitura e compreensão, além de ser muito divertido pois o autor tem muita criatividade em seus poemas.
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"Sua poesia é tecida como se ele a refinasse tanto até torná-la com uma espessura aprimorada, suas prioridades estão a par de um acerto com a sonoridade, mas ao mesmo tempo as palavras construídas, buscadas e vindas em êxtase para as mãos deste escultor se estalam nos ouvidos do leitor de modo harmônico, sua poesia é como um grande quebra-cabeça com partes complementares que após longos raciocínios pacientes se unem para formar uma imagem final."
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1. A folha cai e o Tempo a recebe.
2. A poesia sustenta a folha no ar.
3. A foto suspende a lei da gravidade.
4. A chuva de folhas fala a língua do outuno.
5. A coberta de folhas douradas aquece o sol.
6. Os túmulos cobertos de falhas e teias.
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Krishnamurti 31/08/2018

Teorema sobre o “Matemática para Centauros” de José Eduardo Degrazia
E tenho em mãos um livro de capa verde onde vemos a imagem de um centauro a lutar desesperadamente contra um leopardo que o quer devorar. Em letras garrafais amarelas, leio seu título: “Matemática para centauros” e na parte de cima, no canto direito o nome do autor: José Eduardo Degrazia. Mas o que é isso? Espicaça-me a curiosidade insana, que raios de título é esse? Será que há aqui um poema-título? Sim há... E no tempo que medeia entre o folhear das páginas e encontrar o tal poema, reflito que a função dos mitos é retratar, de forma metafórica, as contradições, os paradoxos e as inquietações humanas personificando através de vários arquétipos as sombras e luzes que habitam cada ser humano. Segundo a mitologia grega os centauros eram seres dotados de muita força física. Eram espécies de monstros. A cabeça, braços e o dorso eram os de um homem, e o corpo e pernas, de cavalo. De acordo com o imaginário mítico, a parte inferior dos centauros era a responsável pela força física, a brutalidade e os impulsos sexuais. Já a parte humana era mais racional, com capacidade de analisar e refletir. Portanto, eram seres que representavam conflitos típicos dos seres humanos: razão, emoção e violência. Em resumo personificam a dicotomia existente; de um lado os instintos, influenciando a matéria e seus desejos, e de outro o uso da razão e da consciência.
Afinal encontro o poema que se intitula “Matemática para centauros 2”, e está na página 90. Mas é conveniente, para melhor desfrutar o poema, lembrar dois pensadores da antiga Grécia. Pitágoras, fundador de uma escola de pensamento denominada em sua homenagem de pitagórica, cujos princípios foram determinantes para a evolução geral da matemática e da filosofia ocidental sendo os principais temas a harmonia matemática, a doutrina dos números e o dualismo cósmico essencial. Segundo o pitagorismo, a essência, que é o princípio fundamental que forma todas as coisas é o número. Não distingue forma, lei, e substância, considerando o número o elo entre estes elementos. A ele Pitágoras, são atribuídos os pensamentos: “Todas as coisas são números”, e “Não é livre quem não obteve domínio sobre si”. Outro grego, Platão; que em “A República” criou a famosa “Alegoria da Caverna”, na qual desenvolve a noção do mundo das Ideias, aquilo que vemos ou sentimos, o que percebemos com nossas sensações, são sombras das idéias perfeitas dessas mesmas coisas. Uma filosofia conhecida pela Teoria das Ideias ou Teoria das Formas onde o mundo concreto, percebido pelos sentidos é a reprodução do mundo das ideias:
Poema “Matemática para centauros 2”
“1. Os centauros são deixados pelos ventos / de outono nas soleiras das portas.
2. Os centauros tergi\versam quanto/ à questão do Número.
3.Os centauros mastigam miosótis enquanto / resolvem o Teorema de Pitágoras.
4. Os centauros auxiliam a resolver as / equações do segundo grau.
5. Os centauros entediados jogam / com os sólidos platônicos.
6. Os centauros escrevem no quadro / verde as formas alquímicas.
7. Os centauros cavalgam os sonhos / das moças casadoiras.
8. Os centauros tomam doses cavalares de poesia.
9. Os centauros manipulam corações amorosos.
10. Os centauros quando permanecem / fazem de conta que partem.

Parece-nos que a poética madura de José Eduardo Degrazia, (autor de vários títulos e ainda por cima tradutor de Neruda), toca ainda em outros temas como a transitoriedade da vida, o amor, a morte, o social, a metapoesia. É autor que busca reelaborar mitos, atualizá-los, encontrar saídas outras, olhares outros, diante desse nosso mundo caótico e nublado. É pois, em seus significados alargados, um incentivo profundo, um encorajamento, um vigoroso estimulo, a acordar o centauro que ainda habita o homem, para outro “estar-no-mundo”, - [10. Os centauros quando permanecem / fazem de conta que partem.], para que afinal, se converta em nova criatura. Já passou do tempo de “investirmos” num humano, tão humano quanto aquele que observa um “insignificante” passarinho. Poema “A andorinha no parapeito”.
I – A andorinha no parapeito é minha vizinha. / II – A andorinha faz ninho no meu peito. / III – A andorinha entre a piscina e o sonho. / IV – A andorinha me olha através da tela. / V – A andorinha convida a voar com ela / VI – A andorinha entre a nuvem e a queda. / VII – A andorinha é livre: eu, prisioneiro. / VIII – A andorinha entre o granito e a nuvem. / A andorinha entre o rito e a vertigem. / X – A andorinha perto e longe de mim.

“A andorinha é livre”: eu, prisioneiro”. Entretanto o poeta, mais adiante, escreve: “O volume da nuvem”:

“Moldar o volume de uma nuvem em movimento é como pesar o tempo, ou retratar o vento em altura. Sempre ficará faltando uma medida que só o teu olho pratica. Ou inventa.” Ele sabe e nos diz porque, o poeta escreve versos:
“Escrevia versos / como se empilhasse nervos desencapados / ou / enfileirasse madeira / e botasse fogo / ou / amarrasse troncos / para fazer uma jangada / ou / alinhasse fios / para o pouso dos pássaros”.
Estamos falando de um sonhador que vive no mundo das nuvens e dos passarinhos? Não. Há nele uma consciência muito lúcida, (matemática podemos dizer dado o cálculo com que escolhe e dispõe seus poemas na obra), de onde vive, e em que tempo: Poema: “Tudo já foi dito”.

“Tudo isto já foi dito antes / por políticos, por elefantes.
Tudo isto já foi dito antes / por proxenetas, por amantes.
Tudo isto já foi dito antes / por demagogos, por infantes.
Tudo isto já foi dito antes / por policiais e beligerantes.
Tudo isto já foi dito antes / por ateus e praticantes.
Tudo isto já foi dito antes / por corruptos e meliantes.
Tudo isto já foi dito antes / por escorpiões e tratantes.
Tudo isto já foi dito antes / por micróbios e ignorantes.
Tudo isto já foi dito antes / por mariposas e mendicantes.
Tudo isto já foi dito antes / por mercadores e feirantes.
Tudo isto já foi dito antes / por astronautas e poetas.

Qual(is) a(s) filosofia(s) de nosso tempo? Poema: “Metafísica para um tempo de guerra”.

“1. Toda a filosofia não está no grito. / 2.Quem mais alto berra sua ideologia, mas cedo a encerra. / 3.A filosofia não é um escudo, é um peito aberto. / 4. Um filósofo pode sangrar como qualquer mortal. / 5. Uma trincheira com livros de Marx e Freud. / 6. Muitas ideias de Cristo. / 7. O mein kampf pode passar por cima. / 8. Mas cava a sua própria cava na História / 9. No passarán! / 10. Os passarinhos voam sobre os muros”.
E se todo esse meu teorema não é um forçação de barra de resenhista que está a enxergar “chifre em cabeça de centauro”, creio estar devidamente demonstrado o meu teorema. Mas afinal, que diabo é um “teorema”, esta palavrinha que está aí no título da resenha? Em matemática, um teorema é uma afirmação que pode ser provada como verdadeira, por meio de outras afirmações já demonstradas. Para se produzir um teorema é preciso demonstrá-lo e, prová-lo, por mais que a demonstração em si não faça parte do teorema. Significa em última instância, "afirmação que pode ser provada". E que prova maior do que estamos a escrever sobre a poética de Degrazia senão ler mais um poema dos 97 reunidos no livro? “O labirinto”.
“1 - Os corredores não têm portas nem janelas, / é preciso percorrer até o fim, / o teto cairá sobre as nossas cabeças e um longo / corredor desembocará noutro, / o Labirinto sairá de dentro do bolso / de alguém que estará apenas olhando.
2 - Os que não estão despertos acordarão muito tarde / para a nova que os arautos estarão trazendo / na cor de seus mantos medievais / (um jogral lerá um poema absurdo!)
3 - A canção que não será esquecida / será gerada no coração da tribo.
4 - O vaso esquecera o seu fundo / e as flores cairão no vazio. / Não importa a terra para os sem raízes?
5 - Sobre a nessa os pratos dançarão a última balada. / Os garfos debulharão seus dentes de prata. / As facas enferrujadas afundarão lentamente. / E não sairemos nunca mais do Labirinto”.
Eis, portanto, e parafraseando o velho Nietzsche, “um livro para todos e para ninguém”, ou por outra; para os que têm olhos de ver...

Livro: “Matemática para centauros” – Poesias, de José Eduardo Degrazia - Editora Penalux, Guaratinguetá - SP, 2018, 124 p. - ISBN 978-85-5833-349-8 - OBS: LINK PARA COMPRA E PRONTO ENVIO: http://editorapenalux.com.br/loja/matematica-para-centauros
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