Vitória 23/04/2021
E se a presente fosse a última noite do mundo?
Mais um de Lewis concluído. São sete ensaios magníficos e enriquecedores. Gosto muito do estilo de escrita de Lewis e de como ele explicita suas ideias. Acho incrível o fato que as ideias contidas em seus livros de ficção como As Crônicas de Narnia e na Trilogia Cósmica são apresentadas mais claramente em ensaios sobre o tema, como a questão da possibilidade da vida em outros planetas e o que isso significaria para o evangelho, assim como a volta de Cristo, no ensaio que dá nome ao livro. Cada vez que leio, vejo mais ainda como toda a obra de Lewis é coerente, e isso me motiva a ler muito mais.
Citações favoritas
A oração só pode ser uma de duas coisas: ou uma ilusão completa, ou um contato pessoal entre pessoas embrionárias e incompletas (nós mesmos) e a Pessoa totalmente concreta. (Pág. 16)
Não é realmente mais estranho, nem menos estranho, que minhas orações devam afetar o curso dos acontecimentos do que minhas outras ações devam fazê-lo. Elas não aconselharam ou mudaram a mente de Deus - isto é, seu propósito total. Mas esse propósito será realizado de diferentes maneiras, de acordo com as ações, incluindo as orações de suas criaturas. (Pág. 17)
Amar envolve confiar no amado além da evidência, mesmo contra muitas evidências. (Pág. 35)
Quanto mais altas as pretensões do poder, mais intrometido, desumano e opressivo ele será. Teocracia é o pior de todos os governos possíveis. (Pág. 53)
Todo e qualquer ditador, ou mesmo um demagogo - quase toda estrela de cinema ou cantor romântico - é capaz de arrastar dezenas de milhares de ovelhas humanas consigo. (Pág 72)
Capture o flautista mágico e todos os ratos o seguirão. (Pág 72)
A reivindicação de igualdade, fora do campo estritamente político, é feita apenas por aqueles que se sentem, de uma forma ou de outra, inferiores. (Pág 77)
Ressente-se de qualquer tipo de superioridade nos outros; passar caluniá-la e a desejar o seu aniquilamento. Na verdade, suspeita que a mera diferença seja uma reivindicação de superioridade. (Pág. 77)
Os que estavam conscientes de sentir inveja tinham vergonha disso; aqueles que tinham a consciência dela não a perdoavam nos outros. A novidade prazerosa da situação presente é que vocês podem sancioná-la - torná-la respeitável ou até louvável - pelo uso encantatório da palavra mágica democrático. (Pág. 78)
Pois a suspeita muitas vezes gera a coisa suspeitada. (Pág. 79)
Não admita que ninguém entre os seus súditos se destaque, não deixe sobreviver ninguém que seja mais sábio, melhor, mais fabuloso ou até mesmo mais bonito que a massa. Passe a régua em todos para ficarem no mesmo nível; todos escravos, todos os números, todos zé-ninguém. Todos iguais. Assim os tiranos podem, em certo sentido, praticar a "democracia". Mas agora a "democracia" é capaz de fazer o mesmo trabalho sem qualquer outra tirania que não seja a sua própria. Ninguém agora necessita passar pelo campo com uma foice. As hastes menores vão agora passar a cortar fora as pontas das mais altas. As grandes começarão a cortar as suas próprias pontas pelo desejo de serem como todo mundo. (Pág. 79 - 80)
Os grandes pecadores parecem uma presa mais fácil de capturar. Mas acontece que eles são imprevisíveis. Mesmo depois de vocês os manipularem por setenta anos, o Inimigo poderá muito bem arrancá-los das suas garras no ano seguinte. Vejam bem, eles são capazes de um arrependimento verdadeiro. Eles têm uma consciência da culpa verdadeira. Se as coisas tomarem o rumo errado, estarão tão prontos a desafiar as pressões sociais em nome do Inimigo quanto estavam para desafiá-las em nosso nome. (Pág. 80)
Pois a "democracia" ou o "espirito democrático" (no sentido diabólico) produz uma nação desprovida de grandes homens, uma nação composta essencialmente de analfabetos, seres moralmente frouxos pela falta de disciplina na juventude, cheios de autoconfiança que as bajulações criaram em cima da ignorância, e molengas em virtude de toda uma vida de mimos. E é nisso que o Inferno deseja que todas as pessoas democráticas se tornem. (Pág. 84)
A fina flor do profano só pode crescer na vizinhança íntima do sagrado. Em nenhum lugar a nossa tentação é tão bem-sucedida quanto precisamente aos pés do altar. (Pág. 87)
Em um mundo racional, as coisas seriam feitas por serem desejadas; no mundo real, os desejos precisam ser criados para que as pessoas recebam dinheiro para fazer as coisas. (Pág. 94)
Cristãos e seus oponentes repetidamente esperam que alguma nova descoberta transforme questões de fé em questões de conhecimento ou as reduza a notórios absurdos. Mas isso nunca aconteceu. O que cremos sempre permanece intelectualmente possível; nunca se torna intelectualmente compulsivo. Eu imagino que, quando isso deixar de ser assim, o mundo estará acabando. Fomos avisados de que quase todas as evidências conclusivas contra o cristianismo, evidências que enganariam (se fosse possível) os próprios eleitos, apare- cerão com o Anticristo. E, depois disso, haverá evidências totalmente conclusivas do outro lado. Mas não, eu imagino, até lá, de ambos os lados. (Pág. 110 - 111)
Os evangelistas têm a primeira grande característica de testemunhas honestas: eles mencionam fatos que são, à primeira vista, prejudiciais a sua principal alegação. (Pág. 118)
Uma geração que aceitou a curvatura do espaço não precisa se incomodar com impossibilidade de imaginar a consciência do Deus encarnando. (Pág. 119)
A ideia que aqui exclui a Segunda Vinda de nossa mente, a ideia de que o mundo amadurece lentamente até a perfeição, é um mito, não uma generalização a partir da experiência. E é um mito que nos distrai de nossos deveres reais e de nosso real interesse. É nossa tentativa de adivinhar o enredo de um drama em que somos os personagens. Mas como os personagens de uma peça podem adivinhar o enredo? Nós não somos o dramaturgo, não somos o produtor, nem mesmo a plateia. Estamos no palco. Para atuar bem, os trechos em que estamos "em cena" interessam muito sou mais do que adivinhar as cenas que se seguem. (Pág. 125)
A doutrina da Segunda Vinda terá fracassado, no que nos diz respeito, se não nos fizer perceber que a cada momento de cada ano em nossa vida a pergunta de Donne "E se a presente fosse a última noite do mundo?"- é igualmente relevante. (Pág. 130)
O importante não é que devemos sempre ter-me (ou esperar) o Fim, mas que devemos sempre nos lembrar dele, sempre levá-lo em conta. (Pág. 131)