Os Mapas Sinalizam Ilhas Submersas

Os Mapas Sinalizam Ilhas Submersas Franck Santos




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Krishnamurti 10/11/2018

Os mapas sinalizam ilhas submersas
O livro “Os mapas sinalizam ilhas submersas”, de Franck Santos, apresenta dois blocos de textos sob os títulos de “Terra” e “Água”. No primeiro a predominância é de pequenos poemas ou textos em prosa poética. Já no segundo, a escrita plasma-se em textos com uma visada de crônicas/desabafos, daí certa dificuldade em classificá-lo em determinado gênero literário. Se classificações se tornam inviáveis, não se pode dizer o mesmo sobre a temática que é indiscutivelmente, a do amor, em sua forma mais avassaladora possível, aquela do que “um dia foi”. Do que deixa a terrível saudade e a solidão do pós, ou do puro e simplesmente, não correspondido, ou propositadamente esquecido. Este o único e impositivo tema:

Poema “Amor”.
“Sou todo amor no corpo / Alma / Coração. / Destilo amor na epiderme / Voz / Poros. / Quero matar e morrer de amor / em vida”.

Tendo-se em vista o título da obra, os blocos dos textos e considerando-se a temática que os divide numa chave geral, percebemos o elo existencial com que, parece-nos, o autor tentou localizar sua produção. A dicotomia da existência. Expliquemo-nos partindo de um trecho do Prefácio escrito pela escritora Clarissa Macedo: “Estamos diante de um amor recordado pela insônia, pela dor, numa ponte que expressa a travessia da saudade, flutuando sobre um rio indiferente”. O rio furioso da vida, que alheia a nossos sentimentos mais íntimos segue adiante. Acrescente-se ainda, e de acordo com o texto do Prefácio, “Não é um amor idealizado ou de textura platônica, mas vivenciado e por isso sôfrego, porque interrompido, remoto”. Os textos sob o título genérico de “Terra” sugerem-nos um dos eternos pólos contrários e complementares contra os quais nos debatemos. “Terra”. Quais elementos, influências (inclusive culturais), memórias, idiossincrasias e frustrações se constitui aquele eu que fica entregue ao tormento da saudade? “Água”, metáfora do que se esvai, e vai, do que parte, do que navega para mares e paragens distantes. Nossos eternos pólos, terra/água, dia/noite, luz/escuridão, masculino/feminino, presença/ausência, amor/sexo e outros são tratados com muita delicadeza pelo autor.
Fica para deleite dos leitores um dos mais belos poemas do livro. Aquele que traduz em profundidade a memória como constitutiva do humano.
Poema “No jardim ainda existem flores”.
“A casa e suas salas vazias; seus cheiros de tabaco, livros,
suor, de pai, masculinidade.
Os quartos com seus rendados, lençóis usados, xícaras
com chá, odores de lavanda, cremes, mãe, feminilidade.
Nos corredores, vozes que se misturam. Carícias.
Olhares nos retratos. O prazer perdido.
Peixes pálidos na cozinha. Manhãs em desordem. Alguns
mistérios. Mesa posta.
No jardim ainda existem as flores que não deixavam eu
apanhar. Reflexos partidos das nuvens nas fontes, não
mais lá em cima.
Minha falta de sentido em outras casas desconhecidas,
com seus andares inteiros, jardins sobre jardins, outras
paisagens vistas das janelas.
Restou a velhice que tememos. Esse lembrar de algumas
coisas e outras, não.
O vazio do tempo e das distâncias. Um lugar que chamam
de solidão, o qual não podemos partilhar com ninguém.”


Um tal de Aristóteles teria dito há trezentos anos antes de Cristo, e com acerto, não se pode negar, que “quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem ou é Deus”. É vero, mas também não podemos perder de vista o dito do poeta, dramaturgo e romancista italiano Massimo Bontempelli: “A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão”. Cupido em sua faceta de diabinho sarcástico dispara flechas a torto e a direito, e assim continuamos a aprender. O amor nos ensina... Como ensina!

Livro: “Os mapas sinalizam ilhas submersas” – ‘contos’ de Franck Santos Editora Penalux - Guaratinguetá – São Paulo. 2018, 122 p.
ISBN 978-85-5833-396-2
Link para compra e pronto envio:
http://editorapenalux.com.br/loja/os-mapas-sinalizam-ilhas-submersas
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