Alexandre 26/07/2020
Boas histórias de coberturas internacionais
"Correspondentes" é um livro muito interessante para quem se interessa pela história internacional. Por meio do relato de cada jornalista, voltamos no tempo e acompanhamos momentos tensos, emocionantes e desafiadores desses profissionais.
Algumas histórias me chamaram mais atenção. Como Sandra Passarinho em 1975 sendo alvo de machismo quando cobria a morte do general Franco na Espanha; a história chocante da guerra civil em El Salvador contada por Lucas Mendes; a forma como Luís Fernando Silva Pinto conheceu sua esposa em meio à cobertura da morte de Indira Gandhi na Índia em 1984 e a detenção dele pela polícia argentina ao reportar o protesto das mães da Praça de Maio, em Buenos Aires; a visita de Ernesto Paglia à avó de Barack Obama no Quênia; Pedro Bial na queda do Muro de Berlim e na Guerra da Bósnia; Ilze Scamparini acompanhando a chegada, em Lampedusa, na Itália, de navio de refugiados da Líbia; os sequestros de Caco Barcellos no Paraguai e na Colômbia e a sangrenta guerra que ele acompanhou em Angola; a cobertura de Sônia Bridi da Operação Chavín de Huántar, no Peru, e a entrevista com Edward Snowden; o encontro de César Tralli com integrantes do Hezbollah e com as mães de Chernobyl... Morri de rir com a história dos "solteiros de Villamiel", na Espanha, uma cidade onde faltava mulher e onde o frenesi com a chegada de vídeos de brasileiras causou alvoroço entre os espanhóis. E me surpreendi com a história da menina do Líbano que chorava lágrimas de vidro, algo até hoje não explicado. Já em relação a Marcos Uchoa, gostei da sinceridade dele quanto aos métodos e discursos do governo americano no conflito com o Iraque; e fiquei chocado com o relato do tsunami na Ásia em 2004. Edney Silvestre conquista o leitor já de início por compartilhar as dificuldades do início do trabalho em televisão. E, claro, o relato da cobertura dos atentados do 11 de Setembro ficam na memória. No depoimento de Jorge Pontual, o que me marcou foi a descrição que ele faz dos republicanos do Tea Party ("Barack Obama é comunista", "Hitler era marxista", "a ONU que tomar nossos campos de golfe") e como senhorinhas fofas viraram feras xingando a imprensa, incitadas por Donald Trump em um discurso de campanha. A vida louca de Marcos Losekann, que chegou a ficar nas mãos do Hezbollah, e a cobertura de Roberto Kovalick sobre o terremoto no Japão em 2011 também se destacam. Com a caça de tornados, o terremoto no Haiti e a morte de Nelson Mandela, Rodrigo Alvarez encerra muito bem o livro.
Chama a atenção o fato de que um tema quase onipresente na história dos correspondentes são os conflitos no Oriente Médio. Muito triste.
E fica muito clara a importância de produtores e, claro, dos cinegrafistas. Em vários casos em que autoridades interessadas em esconder a verdade tentaram confiscar as gravações, esses profissionais atuaram com criatividade e coragem para salvar o material. Merecida a homenagem ao fim do livro, onde se descreve um pouco a vida de cada um.