Caren Gabriele 10/05/2020A palavra como pedra fundamentalSinopse da editora:
Jornalista com passagem pelas principais redações do país, Ana Holanda se encontrou como a “contadora de histórias” que sempre quis ser na revista Vida Simples, onde está há alguns anos como editora-chefe. As pautas inspiradoras aliadas à possibilidade de se colocar de forma intensa nos textos para falar mais profundamente ao leitor, características da publicação, forjaram o conceito de escrita afetuosa que a jornalista passou a desenvolver, e que compartilha, em palestras e oficinas, com um grande número de pessoas interessadas em potencializar sua relação com a palavra. “Escrita afetuosa não tem nada a ver com cartas de amor, e sim com o amor que existe dentro de cada palavra”, explica. Autora do bem-sucedido Minha mãe fazia, que reúne receitas e crônicas sobre comida e relações afetivas, Ana apresenta agora não um manual com técnicas de redação, mas um guia em tom de conversa, extremamente sincero e repleto de dicas sobre como buscar e expressar a própria voz através da escrita.
"A escrita, seja de que natureza for, nasce primeiro dentro da gente, percorre nossas caixas internas, nossos medos, desejos, anseios, e depois é que ganha mundo."
Comprei este e-book no ano passado, depois de concluir a leitura de O zen e a arte da escrita, de Ray Bradbury. Naquela época, estava empolgada em reaver meu romance secreto (mas nem tanto) com a escrita, mas acabei passando outras leituras e prioridades na frente, e o livro a que se destina essa resenha ficou esquecido por um tempo (aliás, fica aí a dica de mais um livro que vale a pena conhecer). E não vou mentir para vocês, as coisas não estavam muito mais promissoras no início desse ano. E então veio o novo coronavírus e a quarentena.
Eu passei por diversas fases emocionais nesse período de isolamento social, mas finalmente cheguei a uma em que eu queria "eliminar todos os livros parados na estante e no Kindle". Estou me saindo até bem, por enquanto. E aqui estamos nós, com a leitura de Como se encontrar na escrita concluída e um blog novo criado. E sim, uma coisa está diretamente ligada a outra.
Mas vamos começar de verdade essa resenha: Neste livro, diferente dos tradicionais trabalhos voltados para a formação dos novos autores, nós não temos um manual de escrita. Aqui, Ana Holanda, a autora, propõe um encontro do leitor consigo mesmo, do leitor com o que está pulsando dentro dele e o quer tornar um autor. E se você já escreve, o reencontro com a raiz emocional que te fez seguir este caminho. É, sobretudo, um trabalho de reflexão. E um trabalho bem necessário.
O livro é fruto do curso de escrita que oferece em São Paulo e é dividido em dez capítulos. Cada um deles possui um ensaio sobre um dos aspectos do que é a escrita afetuosa, exemplos de textos em que esse aspecto está em evidência e um exercício final. E sobre os exemplos: eles são extensos então esteja preparado, mesmo que sejam ótimos textos e que, quase sempre, nos deixam bem fisgados a leitura.
A Ana fala ainda sobre a escrita afetuosa como um método aplicável para qualquer gênero, mas por ser formada e trabalhar na área jornalística, quase todas as suas referências vem daí. E como alguém que também é formada em Jornalismo, durante todo o livro tive a sensação de que gostaria de tê-lo encontrado mais cedo, enquanto ainda estava na graduação. Nele, você encontra uma crítica saudável ao distanciamento e impessoalidade exigidos pela profissão.
Mas e o blog, o que tem a ver? O Palavra Afetiva surge da carga emocional desencadeada por essa leitura. Do reascender da chama que arde em meu peito pela escrita. Do desejo que tenho, desde os 11 anos, de viver daquilo que mais me dá prazer: a literatura. E não, não é que eu tenha essa pretensão toda com o blog. Mas é que ele me aproxima da palavra, e a palavra, da vida.
Por fim, fica a minha forte recomendação a todos que pretendem ingressar ou se reconectar com a escrita profunda e pessoal, independente de qual seja a sua formação acadêmica ou a falta dela. Este é um livro de afeto, diálogo e reencontro.
"Passamos a infância ouvindo “o que você vai ser quando crescer?”; na adolescência, “qual profissão você vai escolher?”; já adultos, seguimos ouvindo “qual o seu trabalho?”. Ninguém – nem a gente mesmo – faz a pergunta certa: “qual trabalho conversa com a sua alma?”"
Ana Holanda é, atualmente, editora-chefe da revista Vida Simples e já tem mais de 20 anos de jornalismo, passando pelas principais redações do país. Também é professora e embaixadora da The School of Life no Brasil e, em 2017, palestrou no TEDx São Paulo.
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https://blog.carengabriele.com.br/2020/06/a-palavra-como-pedra-fundamental.html