Bergson

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Resenhas - Bergson


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Nina 23/04/2021

Introdução ao bergsonismo
Bergson de fato foi um grande pensador do mundo moderno. Le-lo é perceber o quanto ele estava além do seu tempo. Ao mesmo tempo, o vejo como um solitário.

O livro me surpreendeu em muitos trechos. Vale a pena como uma introdução ao seu pensamento pois pincela muitas das nuances de suas ideias.
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Lucas 26/05/2016

Alguns diamantes:

"Decorre daí que um absoluto só poderia ser dado numa intuição. Chamamos aqui intuição a simpatia pela qual nos transportamos para o interior de um objeto para coincidir com o que ele tem de único e, consequentemente, de inexprimível. [...] Se existe um meio de possuir uma realidade absolutamente, em lugar de conhecer relativamente, de colocar-se nela em vez de adotar pontos de vista sobre ela, de ter a intuição em vez de fazer a análise, enfim, de apreender fora de toda expressão, tradução ou representação simbólica, a metafísica é este meio." (p. 14-15) [intuição > simpatia espiritual > metafísica > absoluto]

"Quem quer que tenha praticado com êxito a composição literária sabe bem que, quando o assunto foi longamente estudado, todos os documentos recolhidos, todas as notas tomadas, é preciso, para abordar o próprio trabalho de composição, alguma coisa mais, um esforço, frequentemente penoso, para se colocar de uma vez no próprio coração do assunto e para ir buscar tão profundamente quanto possível um impulso pelo qual, depois, basta deixar-se levar. [...] Pois não obtemos uma intuição da realidade, isto é, uma simpatia espiritual com o que ela tem de mais interior, se não ganhamos sua confiança por uma longa camaradagem com suas manifestações superficiais." (p. 38)

[sobre a intuição que constitui a essência da reflexão de um filósofo, em oposição aos sistemas conceituais que erige]: "É, por sob a pesada massa de conceitos aparentados ao cartesianismo e ao aristotelismo, a intuição que foi a de Espinosa, intuição que nenhuma fórmula, por mais simples que seja, será suficientemente simples para exprimir. Digamos, para nos contentar com uma aproximação, que é o sentimento de uma coincidência entre o ato pelo qual nosso espírito conhece perfeitamente a verdade e a operação pelo qual Deus a engendra, ideia de que a 'conversão' dos Alexandrinos, quando se torna completa, é a mesma coisa que a 'processão', e que quando o homem, que saiu da divindade, chega a reentrar nela, somente percebe um movimento único onde havia visto primeiramente dois movimentos inversos de ir e de retornar - a experiência moral encarregando-se aqui de resolver uma contradição lógica e de fazer, através de uma brusca supressão do Tempo, com que voltar seja um ir." (p. 58-59)

"Nos dois casos [ciência e filosofia], a experiência significa consciência; mas, no primeiro, a consciência dirige-se para fora (...); no segundo ela entra em si mesma, domina-se a aprofunda-se. Ao sondar assim sua própria profundeza, ela penetra mais no interior da matéria, da vida, da realidade em geral? Poderíamos contestar isto (...) Mas não! A matéria e a vida que abundam no mundo estão também em nós; as forças que trabalham em todas as coisas, sentimo-las em nós; seja qual for a essência íntima do que é e do que se faz, nós nela estamos. Desçamos então ao interior de nós mesmos: quanto mais profundo for o ponto que tocarmos, mais forte será o impulso que nos reenviará à superfície. A intuição filosófica é este contato, a filosofia é este elã." (p. 65)

"(...) a essência da filosofia é o espírito de simplicidade. (...) sempre vemos que a complicação é superficial, a construção um acessório, a síntese uma aparência: filosofar é um ato simples. § Quanto mais nos penetrarmos desta verdade, mais inclinados estaremos a fazer com que a filosofia deixe a escola e se aproxime da vida. Sem dúvida, a atitude do pensamento comum, tal como resulta da estrutura dos sentidos, da inteligência e da linguagem, é mais próxima da atitude da ciência do que da atitude da filosofia. (...) habituemo-nos, numa palavra, a ver todas as coisas sub specie durationis: imediatamente o que estava entorpecido se distende, o adormecido acorda, o morto ressuscita em nossa percepção galvanizada. As satisfações que a arte somente fornecerá a privilegiados pela natureza e pela fortuna, e apenas de vez em quando, a filosofia assim entendida oferecerá a todos, em todos os momentos, reinsuflando a vida nos fantasmas que nos rodeiam e revivendo a nós mesmos. E assim ela se tornará complementar à ciência tanto na prática quanto na especulação. Com suas aplicações que visam apenas à comodidade da existência, a ciência nos promete o bem-estar, até mesmo o prazer. Mas a filosofia poderia já nos dar a alegria." (p. 66-68)

"Os filósofos que especularam sobre a significação da vida e sobre o destino do homem não notaram suficientemente que a natureza deu-se ao trabalho de nos informar por si própria acerca disso. Ela nos adverte, por um signo preciso, que nosso destino foi atingido. Este signo é a alegria. Digo alegria, não digo prazer. O prazer é apenas um artifício imaginado pela natureza para obter do ser vivo a conservação da vida; não indica a direção em que a vida se lançou." (p. 80)

"Muitos, por consequência, os que falaram de uma faculdade supra-intelectual de intuição. Mas como acreditavam que a inteligência operava no tempo, concluíram que ultrapassar a inteligência consistia em abandonar o tempo. Não percebiam que o tempo intelectualizado é espaço, que a inteligência trabalha com o fantasma da duração e não com a própria duração, que a eliminação do tempo é o ato habitual, normal, banal, de entendimento, que a relatividade do nosso conhecimento do espírito deriva precisamente disto, e que, neste caso, para passar da intelecção à visão, do relativo ao absoluto, não é preciso abandonar o tempo (já o abandonamos); é necessário, isto sim, que nos recoloquemos na duração e que recuperemos a realidade em sua essência, que é a mobilidade." (p. 113)

"Assinalamos, pois, à metafísica um objeto limitado, principalmente o espírito, e um método especial, antes de tudo a intuição. Assim distinguimos nitidamente a metafísica da ciência. Mas assim também lhes atribuímos um idêntico valor. Cremos que elas podem, uma e outra, tocar o fundo da realidade. Rejeitamos as teses, sustentadas pelos filósofos, aceitas pelos cientistas, acerca da relatividade do conhecimento e da impossibilidade de atingir o absoluto." (p. 117)

"A verdade é que uma existência só pode ser dada numa experiência. Esta experiência se chamará visão ou contato, percepção exterior em geral, se se trata de um objeto material; ela tomará o nome de intuição quando se tratar do espírito. Até onde vai a intuição? Somente ela mesma poderá dizer. Ela descobriu um fio: cabe a ela saber se este fio chega até o céu ou somente até alguma distância da terra. No primeiro caso, a experiência metafísica se aproximará daquela dos grandes místicos: cremos constatar, por nossa parte, que aí se encontra a verdade. No segundo caso, elas permanecerão isoladas uma da outra, sem por isto se repugnarem mutuamente. De qualquer maneira, a filosofia nos terá elevado acima da condição humana. (...) Mas a verdade é que se trata, em filosofia e mesmo alhures, de encontrar o problema e consequentemente de colocá-lo, mais do que de resolvê-lo. Pois um problema especulativo está resolvido no momento em que for bem enunciado. (...) Entretanto, enunciar o problema não é somente descobrir, é inventar." (p. 126-127)

"Quando recomendamos um estado de alma em que os problemas desaparecem, nós o fazemos, bem entendido, apenas em relação aos problemas que nos causam vertigem porque nos põem diante do vazio. Uma coisa é a condição quase animal de um ser que não se põe nenhuma questão, outra coisa o estado semidivino de um espírito que não conhece a tentação de evocar, por um efeito de fraqueza humana, problemas artificiais. Para este pensamento privilegiado, o problema está sempre a ponto de surgir, mas sempre detido, no que tem de propriamente intelectual, pela contrapartida intelectual que lhe suscita a intuição. A ilusão não é analisada, não é dissipada, porque ela não se declara; mas ela o seria se se declarasse; e estas duas possibilidades antagonistas, que são de ordem intelectual, se anulam intelectualmente para só deixar lugar à intuição do real. Nos dois casos que citamos, é a análise das ideias de desordem e de nada que fornece a contrapartida intelectual da ilusão intelectualista." (p. 136, nota de rodapé)

"Há coisas que só a inteligência é capaz de procurar, mas que, por si mesma, jamais encontrará. Essas coisas, só o instinto as encontraria; mas ele jamais irá procurá-las". (p. 186)
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