Luiza
08/05/2019Espere agora pelo ano passadoQuando falamos sobre ficção científica, sou sobre distopias, é muito provável que o nome Philip K Dick apareça na conversa. E não à toa: ao todo, foram 44 romances e 121 contos (uma média de um romance a cada sete meses e um conto a cada 81 dias, sem parar, por 27 anos).
Se você viu o filme Blade Runner 2049, lançado em 2017, e diz que não conhece o cara, veja bem meu amigo, você conhece sim, pois tanto esse filme quando seu original, o de 1982), foram derivados de seu livro ANDROIDES SONHAM COM OVELHAS ELÉTRICAS?, de 1982.
Na verdade, esta resenha não é sobre Blade Runner, e sim sobre Espere Agora pelo Ano Passado, o primeiro livro de PKD (para os íntimos) que eu tive a oportunidade de ler.
O livro, escrito em 1966, retrata o (agora não muito distante) futuro de 2054, em que a Terra se aliou ao planeta errado durante uma guerra intergaláctica que dura a tanto que nenhum dos dois lados sabe exatamente o motivo de a guerra começar. Neste livro, estamos presos em uma guerra desigual em que tudo o que resta a fazer é tentar perder da forma mais digna possível e sem tantos danos à nossa sociedade (impressão minha ou há algo de familiar nessa frase?)
Pois bem, nosso protagonista é o Dr. Erick Sweetscent, um cirurgião de artificiórgãos (é isso mesmo: ele basicamente ganha a vida substituindo órgãos velhos por novos quando estes entrem em colapso) que trabalha para um dos homens mais influentes do mundo.
Seu trabalho com Virgil Ackerman (que está esbanjando saúde aos 130 e poucos anos) propiciou a Erick tornar-se um dos médicos pessoais de Gino Molinari, o Dique (título dado ao líder máximo do nosso planeta). Só que Molinari é, talvez, o homem mais doente do planeta (quatro tipos diferentes de canceres encabeçam a lista da quantidade de doenças que quase o mataram e dos quais ele foi totalmente curado, fora a quantidade exorbitante de paradas cardíacas).
Confuso? Muito, mas calma que dá pra complicar ainda mais o nó na cabeça:
Erick é casado com Kathy, uma colecionadora de antiguidades que adora jogar na cara dele o quanto ele é passível em relação a ela: foi ela quem conseguiu o atual emprego para ele, foi por causa dela que ele jogou fora sua coleção de programas favoritos, o serviço dela tem mais prestígio e maior salário também (uma mocreia se querem saber), e para piorar ainda, ela é viciada nos mais diversos tipos de drogas.
Em uma trama de espionagem interplanetária, Kathy se vicia em uma droga de efeitos colaterais estranhos e mais viciante do que todas as outras drogas conhecidas em nosso mundo. O trato era que se ela desse a droga para Erick, eles entregariam o antídoto a ela.
E é isso que ela faz, e, por incrível que pareça, é somente ai, lá pelo capítulo cinco ou seis, é que a trama ganha a complexidade que leva o enredo até o final (sim, é muito louco).
O impossível e o inevitável se cruzam e se confundem, o futuro, assim como o presente, são realidades tênues e multifacetadas, capazes de confundir até o mais sensato dos homens (e dos leitores também, diga-se de passagem).
site:
http://www.lerparadivertir.com/2018/12/espere-agora-pelo-ano-passado-philip-k.html