Diogo 30/06/2020
O livro, escrito por Michiko Kakutani, se propõe a fazer uma análise sobre o momento político-social atual com a ascensão da extrema direita e direita alternativa a partir da manipulação do clima social utilizando artifícios como as fake news e a polarização de discursos.
Dentre as falhas argumentativas, a que ficou mais evidente foi uma contradição no discurso que baseou o livro inteiro. Num momento, a autora diz que a grande massa populacional sabe que os líderes demagogos e populistas, como Trump, mentem para consegui e se elegerem e se manterem nos cargos. Porém, a grande solução proposta, rasa e simplista, é educar a população e fortalecer a imprensa séria, que checa os fatos antes de publicá-los. Ora, se o povo, nas palavras da autora, tem ciência das fakes news e preferem virar o rosto, e, quando confrontados (ainda segundo a autora), dizem que é uma excelente estratégia do governante mentir, não é através da imprensa que vamos mudar essa realidade.
Educar é, sim, essencial, mas para dar à população a base para o pensamento crítico. A imprensa é fundamental, mas não como solução para o problema exposto.
Outro ponto é o amor dela, não pela democracia pura, mas pela democracia no sistema capitalista. O sonho americano inalcançável e inabalável faz parte do problema uma vez que, quando se vende esse ideal e grande parte da população não tem acesso, causa revolta. Ela, ao invés, joga culpa na Rússia, nos trolls da Internet, nos bots, em Lenin (que ela ainda joga no mesmo saco de Hitler) e, por fim, no pensamento pós-moderno.
Sim, é preciso blindar a ciência (sem deixar de fora os conhecimentos ancestrais de culturas não-europeias) e também é necessário haver uma base em comum para os fatos de modo que "fatos alternativos" e "pseudociências" percam a força alcançada atualmente. Mas Trump e similares usarem desses artifícios escusos e imorais não tem como precursores os movimentos feministas e de esquerda quando trouxeram à tona outras vozes e outras histórias. Nesse caso, tais movimentos tentavam reparar erros históricos em histórias eurocêntricas, patriarcas, machistas, racistas e lgbtfóbicas. O cinismo e a negação do pós-modernismo pouco tem a ver com os líderes de hoje.
De fato, deve-se ir a fundo na interferência russa em eleições ao redor do mundo (algo que os EUA já fizeram menos sutilmente, diga-se de passagem), porém jogar boa parte da culpa em uma nação estrangeira é mais fácil, mais palatável. Sem perceber, ela alimenta o mesmo discurso de ódio que tanto refuta. Digo isso porque outros pontos como a era do egocentrismo das selfies e o racismo ficam relegados a poucas páginas da discussão. Este último, inclusive, Kakutani ainda arruma um jeito de botar na conta dos russos por eles terem usado de artifícios para aumentar essa divisão e incitar o ódio.
Por fim, é um livro repetitivo. Da primeira à última página, ela repete os mesmos argumentos e chega às mesmas conclusões.