O Cio da Salamandra não Seduz Camaleões

O Cio da Salamandra não Seduz Camaleões Edmilson Felipe




Resenhas - O Cio da Salamandra não Seduz Camaleões


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Krishnamurti 02/09/2018

O cio da salamandra não seduz camaleões
A literatura sempre a surpreender, tenho escrito... Em “O cio da salamandra não seduz camaleões” do escritor Edmilson Felipe, tomamos contato com a vida do protagonista José Roberto Torres, ou simplesmente Zero. Zero, é o típico cidadão médio brasileiro dos dias que correm. Um sujeito que vive na São Paulo sufocante e trepidante, sem nenhuma perspectiva de futuro, um pobretão a fazer bicos para sobreviver, e com uma vontade pífia de mudar sua vida. O pobre-diabo ao inaugurar-se a narrativa, tem em casa apenas algo com que faça um mingau ralo, e, na geladeira, meia garrafa de vodka. Bebe avidamente os dois, imagine-se o desespero! Para completar a “Desgrama” – título do primeiro capítulo -, é metido a escritor! Um completo derrotado que se sente justamente assim como lhe alcunharam. Um zero! Um nulo, imperceptível mesmo, sem valor, desprezível, estranho, ignóbil, deprê... zero à esquerda” Um sujeito assim a beira do suicídio. Mas isso não ocorre porque Zero é também um camaleão, metáfora da imensa capacidade humana de mudar de cor, rever conceitos, ampliar visadas, etc. Se adaptar enfim.
A vida é mesmo uma sucessão de imprevisibilidades, amorosas inclusive, sobretudo quando o sujeito a ela não impõe qualquer norte. Vai de cabeçada em cabeçada se envolvendo com quem, ou o quê, está à mão. Primeiro com uma mulata fogosa, que, de atendente em uma clínica, passa a garota de programa, depois se envolve, ou melhor, vira motorista de uma tal dentista rica, a doutora Cristina. Reencontra amores do passado na figura de Lúcia, e segue a sua vida de Romeu errante. Numa tal ambiência o narrador cataloga amores raquíticos que deixam saudades idem: trecho:
“-Esse é fulano, meu namorado – ela diria.
- Essa é cicrana, minha namorada – diria ele.
Esses reencontros marcariam para sempre a saudade raquítica que guardavam um do outro. Naturalmente ou não, essas imagens são a prova de que a vida não passa de um mero improviso. Há sempre um jogo de falas entrecortadas, ruídos, desejos que retroalimentam a desordem”. Mas se a Zero falta-lhe uma potência de vontade, o mesmo não ocorre com sua consciência, ou a do narrador-autor, que constantemente vai analisando nosso viver sobre os mais variados aspectos, sobretudo quanto ao que entendemos sobre o que é o amor, e como agimos quanto a ele. Veja-se esse trecho onde entra em pauta o velho e persistente machismo a negativar possibilidades.
“Um macho alfa, representante ideal que mal sabe o que é realmente a existência e vive na insensatez da felicidade imposta por um sistema falho e consumista, redirecionando um modelo de vida exemplar que se fundamenta na aparência e na materialidade, colecionando objetos e pessoas; tentando acumular os ruídos de uma vida cada vez mais volátil e sem nenhum sentido”.
Ou a impossibilidade de encontrar saídas numa sociedade onde: “A ordem é ser feliz, pouco importa se os estímulos de intelecção foram corrompidos por imagens fantasmagóricas de sedução; se o outdoor anuncia beleza e perfeição, é para lá que os carros enfileirados devem seguir. Não há o menor sentido em voltar e refazer os planos: queimar roupas, jogar fora o lixo que se acumulou durante uma vida e redirecionar ações e pensamentos para outro lado. O que importa é que a promessa do paraíso está lá adiante, e o ideário de lucidez precisa ser sublimado, ofuscado pelo instinto... Felicidade? Certeza, felicidade... CORTA”.
Cada capítulo do livro do senhor Edmilson Felipe funciona a princípio como pequenos contos aparentemente desconexos, e que aos poucos vão se encaixando para montar um painel desse mundo fragmentário, desconexo e violento que é vida nas grandes cidades. E é assim, que topamos com histórias de personagens que são vítimas de assaltos em restaurantes, seqüestros coletivos, assassinatos misteriosos, muito sexo desenfreado, médicos tarados, prostituição, extorsões de policiais, um assassinato brutal e um mistério em torno da figura de Cristina - a dentista rica, patroa de Zero.
Edgard de Assis Carvalho, em prefácio ao livro, salienta que a obra “se dirige aos territórios do imaginário e do simbólico para explicitar a complexa trama de vidas transitórias, risíveis e impermanentes. De fato, acentua tal percepção a utilização em vários capítulos da expressão CORTA! Assim mesmo em maiúsculas o que nos passa a impressão de que estamos a ler um roteiro de cinema ou num set de filmagem em que se gravam cenas independentes que serão editadas nos últimos capítulos como o desfecho surpreendente da narrativa confirma. Tal e qual vamos vivendo nessa barafunda que hoje estamos chamando de pós-modernidade, e que o futuro talvez dê o nome de porralouquice geral!
Vidas transitórias, risíveis e impermanentes. Assim estamos, como o próprio autor afirmou em entrevista: “Acredito que o livro possa contribuir para uma reflexão mais aprofundada de como todos estamos estancados num estilo de vida tão retilíneo e uniforme que não dá mais conta de ser vivido”, e “O cenário contemporâneo requer um olhar para essas mudanças, tanto comportamentais, como situacionais, em que um melhor entendimento do real possa ser analisado e superado”.
Finalmente surge na trama o escritor Vick que o casal Zero e Vivi (afinal o sujeito parece que engrena como uma namorada), encontra casualmente durante uma viagem de carro - meio que sem destino certo ao Sul do país. Este escritor redige uma cartinha para eles em que a certa altura afirma: “Triste mundo o que vivemos. Felizmente temos a poesia. A poesia ainda não se deixou contaminar por invólucros de felicidade ou bolsões de consumo”. Queria ele apontar para outros níveis de vínculo com a realidade, que a literatura é capaz de sugerir? Apenas sugerir, por certo, porque cabe a nós outros a efetiva viagem ao interior, rumo ao Km 0 da existência.
Livro: “O cio da salamandra não seduz camaleões – Romance de Edmilson Felipe - Editora Penalux, Guaratinguetá - SP, 2018, 120 p.
ISBN 978-85-5833-389-4
OBS: LINK PARA COMPRA E PRONTO ENVIO:
http://editorapenalux.com.br/loja/o-cio-da-salamandra-nao-seduz-camaleoes
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Isabela | @readingwithbells 21/09/2018

No livro "O Cio Da Salamandra Não Seduz Camaleões" vamos conhecer a vida de José Roberto Torres apelidado como Zero, um "pobre coitado" sem perspectiva do futuro.
Em sua vida vai ter muitos encontros e desencontros com personagens como Velma, Lúcia, Sabrina, Plínio, Vivi... Entre outros.
"Este novo romance de Edmilson Felipe faz com que ainda acreditemos ser possível viver a vida de outra maneira."
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