Renato 07/03/2014
Sertanejo guerreiro
Entre tantos quadros vividos pela humanidade, penso que a seca é um dos piores, pois é na estiagem que se nota o amor no coração das pessoas. Principalmente dos agricultores que insistem em permanecerem em suas terrinhas, mesmo improdutivas e tórridas, secas e sem vida ou condições de haver subsistência alguma.
Fico comovido e indignado ao mesmo tempo com esses governos hipócritas e descompromissados. Tanto se sabe o que vem com a seca e nada se faz para combater.
O livro foi um dicionário do sofrer sertanejense, um espelho que reflete não a imagem sem carne dos animais, não os espinhos que de tanta feiura são quem dão traços a paisagem, mas sim a coragem e a fé do homem sertanejo. Notei que o autor observa e relata os fatos como um narrador indiferente, mas também sei que em cada palavra escrita caíram rios de lágrimas.
O martírio dos viventes, não admitiria outro nome se não este mesmo. Retrata a lida de uma família entre tantas outras que buscam explicações plausíveis para tanto sofrimento. Famílias que se apregoam na fé como último recurso de sua existência, e que apesar dos tropeços, sempre mantém sua tradição.
Povo guerreiro que vive do suor do rosto e da coragem do corpo para trabalhar num solo infértil, em condições sub-humanas a preço de apenas uma mistura para o almoço.
O Martírio que a vida impõe para tantos Zé nesse mundão e nem se quer são notados, esquecidos pela massa que a cada vez mais cresce e se perde dentro de seu próprio mundo. Solitários e vazios, com fome não de carne ou feijão, mas com fome de cultura e calor social.
Livro emocionante, impossível não chorar quando se sente os delírios do pobre Zé e sua família. Quem sabe se colocar no lugar dos personagens, sabe também sorrir e chorar, sofrer e cantar. Enfim, uma obra e tanto.