Tamirez | @resenhandosonhos 10/01/2019A Memória do Mar - Khaled HosseiniMinha relação com esse autor é bem controversa. Enquanto muitas pessoas o amam por suas histórias que previamente já haviam sido publicadas no Brasil e que conquistou milhões de leitores mundo à fora, o sentimento que eu tenho de quando tentei lê-lo foi de simplesmente não ter funcionado bem comigo. Como já fazem muitos e muitos anos desde que isso aconteceu, gosto de pensar que é porque não foi a hora certa e que, talvez, se eu reencontrar suas obras, possa ter uma experiência diferente.
Porém, enquanto isso não acontece, resolvi me aventurar nessa outra história que vem acompanhada de ilustrações belíssimas de Dan Williams, que parecem verdadeiras pinturas e obras de arte em cada página. O que temos aqui é, sem dúvidas, uma narrativa tocante e emocionante, sobre a jornada de alguém inocente que sequer sabia direito o que acontecia ao seu redor.
Encontrado morto na costa turca em 2015, Kurdi fez com que os olhos do mundo se virassem na direção desse odioso conflito que assola a vida de muita gente por anos a fio, separando famílias e marcando a história daqueles que são tocados, seja da forma que for, pela guerra.
É claro que o autor toma suas liberdades, renomeia as peças e usa o acontecimento como ponto de partida para sua obra. Com pequenos textos, escritos como uma declaração de amor, Hosseini nos presenteia com um retrato íntimo desses acontecimentos, em uma visão sentimental de um pai que acredita estar se dirigindo a um lugar onde poderá dar uma vida melhor a sua família, e, acima de tudo talvez, a sobrevivência. Infelizmente, como não é isso que aconteceu na realidade, percebemos uma carga pesada em tudo o que é dito, exatamente por esse desfecho que deveria ter sido de esperança e reconstrução, se vivêssemos em um mundo mais gentil.
Com a união das palavras com a arte, em pouquíssimas páginas temos o desenrolar de algo belo, tocante e real, numa narrativa muito mais simplista do que as outras histórias do autor que tive contato e, para mim, com uma sensação muito diferente também, que despertou a vontade de reencontrar seus demais títulos e fazer a prova de fogo da releitura.
A edição que a editora Globo Livros nos apresenta é primorosa, com capa dura e folhas internas coloridas em um papel mais rebuscado. Com tradução de Pedro Bial, nome que aparece na capa com mais destaque que o ilustrador, o que não me pareceu muito justo, bem como um perfil do jornalista que é apresentado também à frente de Dan Williams no fim da edição. Em tempos onde os tradutores lutam tanto por reconhecimento, ver ele dado a alguém que já é famoso, apenas porque ele é famoso me causou certo incômodo. Porém, essa é uma escolha da editora e não se relaciona diretamente com minhas impressões do livro enquanto história, que foram super positivas.
Para quem é fã do autor ou tem interesse pela história de Kurdi ou sua conexão com a guerra na Síria, certamente vale à pena a leitura e a reflexão de porque é necessário arruinar a vida de tanta gente inocente com tanta violência e desesperança.
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