Renata (@renatac.arruda) 04/12/2018
Essa foi uma leitura muito útil, esclarecedora e relevante, em que David Runciman desenvolve um longo ensaio, baseado em seu artigo "É assim que a democracia chega ao fim?", publicado na London Review of Books em 2016 (disponível no site), argumentando que apesar da democracia, de fato, estar passando por uma crise de meia idade em todo o ocidente, nada indica que essa crise irá levar a um retorno do fascismo.
O livro é dividido em quatro capítulos: no primeiro, "Golpe!", ele explica que os golpes políticos do século XXI acontecem de forma mais dissimulada, em que fake news e teorias da conspiração são ferramentas usadas para manipular os eleitores a aceitarem medidas autoritárias, acreditando estarem defendendo a democracia. No segundo, "Catástrofe!", ele argumenta que as grandes ameaças apocalípticas do século XX (guerra nuclear, aquecimento global, banalidade do mal) deram origem a movimentos que fortaleceram a democracia, de tal forma que, ainda que essas ameaças continuem sendo reais, elas não causam mais o mesmo medo e paranoia de antes, uma vez que a sociedade acredita que é possível enfrentá-las/evitá-las. Já em "Revolução tecnológica!", meu capítulo preferido, Runciman defende que uma substituição de seres humanos por máquinas é algo que vem sendo alardeado há anos, mas parece ainda bem longe de acontecer -- e ele nos lembra como apesar de vivermos em um mundo capaz de produzir carros que se dirigem sozinhos, esse mesmo mundo contém mais bicicletas do que nunca, mostrando como esse tipo de mudança acontece de forma muito mais lenta do que imaginamos. Segundo ele, a maior ameaça tecnológica são as gigantes como Google e Facebook, capazes de controlar nossos dados, nossos interesses e influenciar nossas vidas de forma que nenhum governo jamais conseguiu. Ele faz uma analogia entre o Facebook e o Leviatã de Hobbes que eu considero genial!
O capítulo final é dedicado a examinar três alternativas à democracia moderna: o autoritarismo pragmático, a epistocracia e a tecnologia liberada, concluindo que os dois primeiros são mais tentações do que alternativas reais e o último contém alternativas tão amplas que é impossível prever o que de fato aconteceria. A conclusão é que sim, pode haver sistemas melhores e mais eficazes para se viver do que uma democracia, mas não estamos dispostos a abrir mão de nossas vozes individuais e da segurança de podermos substituir um governo por outro quando as coisas dão errado. Sendo assim, embora a democracia possa ser extinta por ameaças diversas, o fato de ela ter resistido a todas elas até hoje mostra que não chegamos no fim da democracia.
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