KeylaPontes 05/05/2016"Você me pergunta qual é a minha dor e isso me paralisa. Não sou cleptomaníaca, viciada em drogas ou autodestrutiva, não tenho pânico noturno nem diurno, não ando nem mesmo triste, tampouco é libertadora. Quero saber, entre todas aquelas que eu sou, quem é a chefe, quem manda dentro de mim. Me confundo com tanta autoridade, já não sei bem a quem obedecer."
Em Divã conhecemos a história de Mercedes. Uma mulher de 40 anos, que vive um casamento longo e com filhos crescidos.
É um livro fininho, aqueles que com dedicação você lê em uma sentada, mas, o li lentamente. E esse esquema funcionou bem, pois assim consegui ir no ritmo da personagem. Cada capítulo uma descoberta. Um momento. Uma análise.
"Tenho uma vontade imensa de chorar. chorar pelo que houve de bom entre nós, e pelo que houve de eterno. Chorar pelos olhares telepáticos que trocávamos, pelas mãos dadas no cinema, pelas imitações que ele fazia de mim e eu odiava, mas que era um sinal de que ele ainda me via. Chorar pelo primeiro beijo, na beira da praia, e pelo último, que talvez ainda não tenha sido dado. Chorar porque não o amo mais, ele tampouco a mim, dois adultos que decidiram seus destinos sem facadas, sem tiros e sem vulgaridade, chorar por essa sensatez, esse racionalismo, essas cicatrizes que ficam mesmo assim, chorar pelo instante em que os dois, juntos, desligam-se da tomada e tudo fica escuro. "
Diferente do filme que tem um lado mais pro humor, o livro tem uma pegada mais reflexiva. Com situações do cotidiano
É incrível o poder da autora de conversar com você. É mesmo eu, que não sou casada, mãe ou estou na meia idade, me identifiquei em vários momentos.
Não sei se por eu ser psicóloga, e encontrar "Mercedes" na vida ou até menos por ter sido uma Mercedes deitada no divã do meu analista.
Mercedes é uma personagem carismática (Lília Cabral escolha tão perfeita), é alguém que você possivelmente conhece. Adorei o fato de como ela sempre aproveitava ao máximo as sessões de análise (nós acompanhamos no decorrer só o que se passa nesses encontros) e também de como ela estava ali aberta. Querendo se conhecer, se entender e ser.
Um ponto que amei, foi como a autora colocou o papel da análise. Sem estereótipos de "vou porque sou isso/aquilo, porque tenho problemas". Mostrando que o objetivo da análise não é curar você de uma "doença".
Divã é um livro que toca, te faz pensar, te faz rir e te faz ver muito além das aparências.
Este e o meu primeiro contato com a autora, mas com certeza não será o último! Que delicadeza, que jeito doce de contar a história de uma personagem tão comum de uma forma tão cheia de substância.
No fim das contas, não sei se por ter visto o filme e a minissérie antes de ler, ainda preferi a adaptação. Acredito que pelo toque de humor (tô na vibe tô na vibe!) ela me capturou mais. Mas, recomendo fortemente ambos!
O inferno não são os outros. O inferno são os outros sem atrativos para mim.
Resenha disponível em:
site:
http://keylinhastureads.blogspot.com.br/2016/05/resenha-diva-martha-medeiros.html