Paulo 09/10/2020
Estranhos no Paraíso Vol. 1 é um “slice-of-life” focado no desenvolvimento de um divertido triângulo entre Katchoo, Francine e David, com suas situações típicas da vida real, que se expande com uma reviravolta que envolve o terrível passado de Katchoo, que volta para assombrá-la, envolvendo prostituição, drogas e máfia, com a história ganhando um tom de thriller policial e drama. Na reta final do álbum, os problemas voltam a ser decorrentes da ciranda amorosa dos personagens.
Este primeiro encadernado da Devir compila um arco fechado, desenvolvendo o relacionamento de Katchoo, Francine e David enquanto apresenta situações cotidianas tão reais que nos identificamos com aquela realidade que somos apresentados. David, Katchoo e Francine são pessoas como eu e você, e seus problemas são reais, podendo acontecer com “eu e você”. Por diversas vezes, me identifiquei com os relacionamentos e as situações vividas pelo trio de protagonistas. Terry Moore sabe escrever diálogos e personagens verossímeis: seus protagonistas parecem pessoas reais, que conhecemos na vida, com os quais nos identificamos automaticamente.
A arte, por sua vez, sempre em preto e branco, é linda, alternando entre uma pegada mais realista para o cartunesco nas ocasiões em que a série parte para a comédia.
E há de se destacar que Estranhos no Paraíso não é simplesmente quadrinho: é uma experiência narrativa. A narrativa gráfica às vezes dá espaço para a poesia e a prosa. Há momentos em que o autor prefere narrar a história em texto corrido. Além disso, a história traz poemas, cifras de músicas, referências a séries, filmes...
Enfim, Estranhos no Paraíso fala de relacionamentos e se adequar ao mundo. Mas também traz ação e aventura, através de uma sub-trama policial que dá mais camadas a história. Recomendadíssimo.
PS: Estranhos no Paraíso é um mergulho nos anos 1990: mergulhamos em um mundo sem redes sociais e onde os celulares eram bugigangas enormes e pesadas. Como a vida pode ter mudado tanto em apenas 20 anos?