Gabrieli Gudniak 09/11/2018Nem fede, nem cheira.Após a batalha com Hybern, o equilíbrio em Prythian ainda é delicado, com ainda muito trabalho pela frente e um futuro incerto. Entretanto, nossos queridos personagens se reúnem para o Solstício de Inverno e um merecido descanso, mesmo que as cicatrizes deixadas pela guerra ainda não tenham se fechado.
Eu ouvi muitos comentários negativos sobre esse livro, chegando ao ponto de me perguntar se iria mesmo ler com a possibilidade de manchar a memória de uma série tão querida. Muitas e variadas reclamações. Desde o relacionamento da Feyre e do Rhys, até Mor, Tamlin, Cassian e Nestha. E, apesar de concordar com a maior parte das críticas, não é tão ruim assim, tampouco a completa tragédia que eu esperava. Mesmo tentando ir para o livro de braços abertos, confesso que estava pronta para o momento em que me arrependeria de ter começado a ler e... Bem, vamos falar sobre isso.
Não acontece muita coisa na história e posso dizer para aqueles que não vão ler que esse spin-off não tem nenhum impacto evidente na série anterior ou na que está por vir, são simplesmente os personagens indo pelo seu dia-a-dia e comemorando o Solstício de Inverno, basicamente o Natal dos feéricos. Então podem relaxar quanto a isso. É um spin-off bobinho para revermos os personagens e, suponho, trazer lucros à editora. Capitalismo.
Uma das minhas maiores decepções da história foi a escrita da autora. Isso mesmo, a escrita da Sarah J. Mass, tão envolvente e bela nos livros anteriores, está... Boba, infantil. Definitivamente não parece a escrita de uma autora com séries de fantasia tão aclamadas, ela parece tentar fazer algo leve e despretensioso, mas não só acaba caindo em algo simplório demais, como também tira o peso do que nossos personagens estão passando.
Vamos ao nosso casal favorito, Feyre e Rhys, e acredito que seja o momento deles se aposentarem. Eles eram maravilhosos nos livros anteriores, mas nesse foi difícil os ver se provocando como dois adolescentes e as cenas de sexo... Eu me senti envergonhada nas cenas de sexo, e não foi por nenhum pudor, mas sim por parecer que eu não deveria estar ali, que não deveria estar vendo aquilo. E a forma como elas foram descritas me faz pensar que a Mass ainda não encontrou uma forma decente de fazer cenas de sexo, elas não são sexy ou instigantes e eu só queria que elas acabassem logo, para não ter mais que estar ali. Gostaria de ler mais dos dois, mas se for para seguir nesse ritmo, prefiro manter a memória que tenho dos dois e deixar que outros personagens tomem a frente.
Foi dito pelos canais gringos, principalmente, quando o livro foi lançado nos EUA, que a Feyre tinha se tornado a dona de casa que lutou para não ser no em ACOMAF e... Não. Ela está ajudando a reconstruir Velaris, exatamente o que queria fazer em ACOMAF e foi impedida. Só vemos Rhys viajando para o acampamento illiryano, e não vejo como Feyre poderia ajudar lá, pelo contrário. São citadas viagens a outras cortes, e ela diz que não pode ir sempre porque está ocupada com Velaris. Ela não pode lavar uma louça sem ter pessoas reclamando sobre isso, então me vejo obrigada a apontar que todas pessoas tem suas vidas domésticas.
Rhysand virou um garoto de catorze anos. Céus, foi quase doloroso lê-lo, eram poucas as vezes que ele lembrava o guerreiro e Grão-senhor dos livros anteriores, bem poucas. As poucas expectativas que tinha estavam depositadas nele, elas foram estraçalhadas no começo ainda, quando ele descreve uma cena de sexo no ar que foi uma das coisas mais embaraçosas que já li. Ah, Rhys, o que fizeram com você? Como disse, ainda há momentos bons dele no livro, mas são a exceção, não a regra.
Mor, Amren e Lucien não aparecem o suficiente para que eu tenha uma opinião sobre eles, eles só estão lá, mesmo que Mor tenha um papel um pouco mais importante. Nenhum deles me desagradou. Azriel e Elain são duas coisas preciosas que quero proteger para sempre, mas os ver pelos olhos de outras pessoas não é a mesma coisa de ter uma história pelo ponto de vista deles, o que espero que aconteça.
E então chegamos em Cassian e Nestha, e oh boy. Vou ser sincera, Nestha sempre foi um personagem insuportável para mim desde o começo. Mas consegui a entender nesse livro, ela está em um novo mundo, um novo corpo, uma vida que nunca desejou, acabou de sair de uma batalha violenta e está em luto. Ver as pessoas a sufocando e a julgando, como se seu bem estar fosse mais importante que o dela, foi... Eu esperava mais compreensão de personagens que já passaram por tanto, e a única que ofereceu foi Amren. Ela precisa de espaço, descobrir quem é e o que quer, não ser cercada e perseguida, foi a primeira vez que me senti mal pela Nestha. Cassian está perdidamente apaixonado, mas também tem séculos de vida e deveria saber esperar ao menos alguns meses antes de começar a persegui-la. Deveria entender pelo o que ela está passando caso se importe com ela tanto quando diz.
E... Tamlin. Tamlin. Como todo o fandom, eu o odiei nos dois últimos livros e torci por sua derrota, mas... Por onde começar? Rhys tem todo o direito de sentir raiva do feérico que foi cúmplice no assassinato de sua família e que machucou sua parceira, mas vê-lo zombando do Tamlin quando ele claramente já estava destruído não foi legal. Não esperava que Rhys se compadecesse, claro, mas sair se vangloriando como um adolescente... Não sei o que pensar de um arco de redenção para Tamlin, a não ser que vai ser interessante termos essa trajetória. Ainda não gosto dele, mas gostaria de ver a Corte Primaveril ser reconstruída e ele aprender a ser uma pessoa melhor, lidar com os erros de seu passado e conseguir a lealdade de seus súditos de volta, provar para Prythian que pode ser melhor. Para falar a verdade, também gostaria de ver a relação do Rhysand com o restante dos Grãos-senhores e da população de outras cortes, já que todos pensaram que ele fosse um monstro por séculos. Isso não é algo que vai embora tão facilmente.
Não há realmente um plot maior nesse livro, vemos como todos personagens estão, conhecemos um fiapo de história e um sussurro do que virá nos próximos livros, mas nada importante ou que irá fazer falta. Por último, devo dizer que a tradução do título não me agradou muito, Corte de Geada e Luz Estelar soa melhor, mesmo sendo um pouco maior.
Corte de Gelo e Estrelas é um spin-off para aqueles que sentiram falta dos personagens, não apresenta nada novo e deixa um gosto amargo às vezes, mas que pode ser aproveitado se suas expectativas forem baixas.