otxjunior 07/09/2021A Câmara de Gás, John GrishamA era de ouro dos thrillers legalistas, nos anos 90, foram marcados por dois autores norte-americanos, Scott Turow e John Grisham. Enquanto o primeiro faz de um fiapo de ideia um senhor livro de ficção, mostrando-se um romancista para além do gênero; o último, e autor deste A Câmara de Gás, explora um tema forte e escreve mais um comentário jurídico - não menor que 600 páginas à moda de seus colegas de curso - do que uma história. A minha preferência é clara, mas a depender do tópico de discussão, a saber a pena de morte, alguns menores trabalhos de Turow podem ser superados. Digo tópico mesmo porque durante a leitura, como me preparando para uma conferência, me peguei pesquisando gráficos de número de condenados executados por ano nos Estados Unidos e imagens do interior de uma sala de câmara numa penitenciária americana.
Em relação a outros elementos literários, Grisham deixa um pouco a desejar. A começar pelos personagens bregas que não inspiram simpatia, ou qualquer outro sentimento. O protagonista, por exemplo, é um brilhante e jovem advogado pentelho cuja ideia de ar fresco é "entrar no carro com os vidros fechados e o ar-condicionado no máximo". Seu avô, membro da Ku Klux Klan, deve nos fazer torcer por sua vida (o que é um desafio ambicioso do autor e que devo dizer o qual ele não se sai tão mal), então é inserido outro vilão que não funciona em nenhum grau dentro da narrativa. Em um diálogo, que são muitos e vários recheados com termos técnicos do Direito, uma personagem é descrita como "bem o tipo da estudante de psicologia"; o problema é que todos os personagens são bem o tipo de alguma coisa, ninguém realmente com uma personalidade bem definida. Talvez exceto pelo recluso do corredor da morte, que com seu humor cáustico, protagoniza as melhores passagens do romance.
Na sua opinião, o que os advogados fazem melhor é criar teorias e depois encontrar meios desonestos para confirmá-las. Estas formam a maior parte do livro, sem grandes peripécias, conflitos monumentais ou atos heroicos contra intricadas conspirações, até seu final quase vago. A corrida é mais contra o tempo, entre um advogado inexperiente mas bem intencionado, motivado por laços de sangue, e um sistema hipócrita e falho, que se inclina a contestar infindáveis petições e recursos até o último sufocante minuto. O que gera momentos genuinamente dramáticos, principalmente em sua frenética segunda metade. O que sobre um manifesto - instigante, sem dúvida -, e menos uma obra de ficção, é dizer até que muito.