Carol 04/01/2023Impressões da CarolLivro: O tempo, este grande escultor {1983}
Autora: Marguerite Yourcenar {Bélgica, 1903-1987}
Tradução: Ivo Barroso
Editora: Nova Fronteira
152p.
"Os homens, que inventaram o tempo, inventaram em seguida a eternidade como um contraste, mas a negação do tempo é tão vã quanto ele próprio. Não há nem passado, nem futuro, mas apenas uma série de presentes sucessivos, um caminho, perpetuamente destruído e recomposto, pelo qual avançamos sem parar." p. 13
Tenho uma relação passional com a obra de Marguerite Yourcenar. Talvez por nossos gostos, compartilhados, pelos ecos de civilizações antigas, pelo Oriente mítico, pelo Medievo, pelas artes, por viagens e deambulações.
Mas, sendo bem honesta, a identificação veio quando li "Fogos", um livrinho no qual ela recria alguns mitos gregos para tratar da paixão, do eros, escrito durante uma crise passional. E que li durante a maior dor de cotovelo, atravessada ao som de Linda Batista, clamando aos céus por vingança. Foi amor à primeira fossa.
Em "O tempo, este grande escultor" contemplamos esta espécie de fervor, esta paixão de Yourcenar ao tratar de temas que lhe são caros. O tempo, que apaga os rastros de grandes civilizações. A arqueologia e a história tateando ruínas para evitar o apagamento total. A pintura, a escultura, as artes em geral que preservam, a sua maneira, a humanidade.
É um livro bonito, lírico, erudito, sem afetação. Uma coletânea de textos, que abarcam um período de 50 anos da produção de uma autora fecunda. A defesa destemida pelos direitos dos animais. O processo criativo e as escolhas estilísticas dos romances históricos, que a fizeram célebre no mundo inteiro: "Memórias de Adriano" e "A obra em negro". Epitáfios e, inusitadamente, um tratado sobre o tantrismo.
Acertei demais na escolha da primeira leitura do ano. Leiam Marguerite Yourcenar.
"Sejamos subversivos. Revoltemo-nos contra a ignorância, a indiferença, a crueldade, que aliás se voltam tão frequentemente contra o homem." p. 97