MagalhAes.Costa 18/05/2020
Rasputin: Tire suas próprias conclusões.
Para quem gosta da história russa de meados do século IXX início do século XX, a biografia “Rasputin” de Douglas Smith é um prato cheio. Visto pela história como um dos grandes responsáveis pelo declínio da dinastia Romanov, Rasputin foi adorado e odiado na mesma medida.
Imparcial, o autor evita tomar posição a respeito do biografado quando diz que, se a História é contada por simpatizantes, ela lhe é favorável, se contada por inimigos, ela o condenará. Imprimindo sua neutralidade, Smith utiliza documentos, artigos de jornais da época, cartas trocadas e todo tipo de registros do acervo russo, com opiniões favoráveis ou contrárias à Rasputin. Ele respeita a cronologia, começando sobre a vida de Rasputin em sua terra natal, Pokrovoskoye no sul da Sibéria, e continua, apresentando sua trajetória como um “staréts”, sua relação com a ortodoxia da igreja daquele momento, sua chegada a St Petersburg, sua ascenção e ascendência junto à família real.
Numa época de muito misticismo, Rasputin, com seu olhar penetrante, que alguns consideravam hipnótico, exercia domínio principalmente sobre mulheres da alta sociedade, frágeis e carentes, que o seguiam como discípulos seguem o mestre. Entre elas, a czarina Alexandra que acreditava ser ele o único a ter o poder para curar seu filho, herdeiro do trono, portador de hemofilia. As cartas que a czarina trocava com seu marido, o czar Nicolau II, sempre se referiam à Rasputin como “nosso amigo” e tentavam influenciar o czar a tomar decisões de acordo com as orientações de Rasputin. Com apoio da czarina, Rasputin passou a exercer influência até nas nomeações de ministros e cargos públicos de alto escalão. Com todo esse poder, Gregori Rasputin despertou a inveja e o ódio de diferentes setores, inclusive da Igreja cujos membros passaram a ter que se dirigir a ele para conseguir promoções e favores do czar, mas ficavam nas mãos do “staréts” que sequer ocupava uma posição na hierarquia ortodoxa. Esse sentimento foi crescendo cultivado e proliferado pela imprensa, pelos boatos e pelos folhetos com caricaturas ofensivas à czarina. Nicolau começa a ficar isolado pois, dominado por Alexandra, era incapaz de tomar uma atitude definitiva para o afastamento de Rasputin da convivência com a família imperial, como queriam e aconselhavam os parentes próximos e os ministros. Um grupo de nobres que apoiavam o czar e viam a derrocada do regime, acreditavam que livrar-se de Rasputin seria um ato heróico e planejaram uma cilada para atraí-lo e executá-lo. Apesar das trapalhadas, o grupo conseguiu seu intento. A notícia do assassinato de Rasputin foi recebida por toda Russia “com alegria universal”. Os assassinos foram saudados como heróis, mas não escaparam ao rancor da czarina e tiveram que sair de St Petersburg.
Fiel a sua proposta, cada um desses eventos é contado sob dois enfoques, contra e a favor do biografado. Ao final, o leitor pode tirar suas próprias conclusões.
O livro de Douglas Smith é de leitura agradável e traz uma galeria de fotos que retrata época e cenários que enriquecem a biografia.