spoiler visualizarZé - #lerateondepuder 17/05/2020
O Jovem Töless
O Jovem Töless é um rápido romance que descreve basicamente a história de um jovem aluno de família abastada da burguesia austríaca, internado em uma escola militar, com a finalidade de prosseguir os seus estudos, no início do século passado. Mais do que a vida do internato, o livro descreverá a trajetória existencial relacionada aos aspectos psicológicos da mente desse adolescente.
Não se dividindo em capítulos, mas em pequenas pausas, a escrita flui em pouco mais de cento e cinquenta páginas, sem tantas interrupções. A história chega a ser mais diminuta, reduzindo-se ao dia-a-dia de quatro conhecidos dentro de um internato e suas relações psicologicamente conflituosas, principalmente, no aspecto em que se relacionam à humilhação, ao bullying e ao sexo entre si. O internato é apenas um pano de fundo para descrever o enlace sem qualquer moral, de três jovens para com outro personagem oprimido ao extremo e que acaba levando toda a culpa por sua fraqueza, enquanto os mais nobres se safam.
Escreve o autor com profundidade, procurando descrever as percepções mais íntimas do protagonista e dos personagens ao seu redor. A meu ver, este é um propósito de permitir uma ampla reflexão ao leitor. Em certas passagens, um dos amigos de Töless refere-se às questões metafísicas e sobre o reflexo dos atos de cada qual, em sua respectiva alma e sua ligação com o Cosmos, fazendo referência ao valor que cada ser humano tem para com a sociedade. Em outro momento, o autor se apropria de um pensamento do pai de um determinado personagem, um oficial de cavalaria que serviu na Índia, trazendo à reflexão sua visão particular de cultura e religião, ficando claro o largo emprego de metáforas.
O tema principal parece ser a construção da psiquê do protagonista, ao sair do seu lar e tomar conhecimento do mundo, onde expressa os sentimentos de solidão, de conhecimento de novos relacionamentos, de contato com as forças que conduzem cada ser humano no tocante ao sexo, à violência e medos mais intrínsecos, ao mesmo tempo que contempla a natureza, os mistérios do céu é o infinito. Da mesma forma, tortura, humilhação, chantagem, ódio, perversões e injustiças, sentimentos vis e nada normais para adolescentes que fossem minimamente sadios, moverão a conduta de uns para com os outros.
O preconceito é, também, uma das temáticas tratadas, principalmente quando um dos garotos comete um deslize. Ao invés de denunciá-lo, eles o julgam severamente, procurando fiscalizá-lo de perto. Deixa clara a classe social que o protagonista e seus amigos mais chegados ocupam, citando situações que teriam consequências diferenciadas para cada aluno do internato, exatamente de acordo com as posses de suas respectivas famílias. Os mais pobres poderiam ter uma vida toda arruinada, dependendo de alguns atos cotidianos naquela escola, enquanto os mais favorecidos sempre poderiam contar com a proteção de suas fortunas e seus respectivos status social.
A questão da homossexualidade é bem evidente, até mesmo com os personagens do núcleo central. É um assunto que domina o pensamento de Törless, inclusive despertando-lhe desejos homossexuais, os quais procura reprimir. Tinha sentimentos de sensualidade provocados pelas situações estranhas e bizarras, como quando vê um de seus amigos apanhando de outros.
O Jovem Töless foi escrito no ano de 1906, sendo muito influenciado por publicações do impressionismo da época, como “A Morte de Deus” de Nietzsche e “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” de Freud, livros que tratavam da psiquê humana e aspectos teológicos. O livro é de autoria do austríaco Robert Musil, um engenheiro com aspirações literárias, cuja obra principal foi o extenso e inacabado romance “O Homem sem Qualidades”, que seria publicado mais de vinte anos depois e seria eleito este último, um dos cem livros do século.
A leitura é rápida, mas bem densa e profunda, parecendo que o autor dá algumas dicas ao leitor, por meio de descrições de seus personagens, como se deixasse alguns trechos na leitura como pistas claras para que quem está lendo pudesse realizar diversas reflexões filosóficas.
A edição em que se baseou essa resenha foi a publicada em 2003 pela editora da Folha de São Paulo, cuja tradução é de Lya Luft, podendo serem encontradas outras sete edições disponíveis. Há, pelo menos, uma adaptação para o cinema, dirigido por Volker Schlöndorff., tendo sido selecionado como representante da Alemanha Ocidental à edição do Oscar do ano de 1967.
Assista à vídeo resenha em: https://youtu.be/3H7a8B03nlc. Acesso em 17 mai. 2020.
Paz e Bem!
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