Marcos 12/04/2014
Resenha da obra de Arthur Schopenhauer auto intitulada Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão
AUTOR: Arthur Schopenhauer (1788 – 1860);
TITULO: Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão: em 38 estratagemas;
INTRODUÇÃO, NOTAS E COMENTÁRIOS: Olavo de Carvalho;
TRADUÇÃO: Daniela Caldas e Olavo de Carvalho;
EDITORA: RJ: Topbooks, 1997
Completando, hoje – 22/04/2012 – a leitura desta obra capciosa Schopenhauer de modo insidioso e sem medir escrúpulos, de forma ordenada e analítica, incentiva veementemente em sua obra a deslealdade, a dissimulação, denotando do debatedor um elementar sentimento de torpeza, desprezando tudo e a todos apenas pelo desejo de recompensa – a vitória.
Schopenhauer (Danzig, 22 de Fevereiro 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro 1860) foi um filósofo alemão do século XIX, dispõe em sua obra inacabada, segundo o comentarista Olavo de Carvalho: “um manual de patifaria intelectual? Nada mais, nada menos”.
Objetivando demonstrar que a dialética erística (termo este muito usado em seu manual) nada mais significa do que a arte de vencer um debate, custe o que custar, e isto per faz et per nefas (por meios lícitos ou ilícitos) Schopenhauer, concludente que é, coloca ambos os contendores de um debate eqüidistantes à lógica, onde o que mais importa não é provar, mas vencer, e para isso indica os caminhos – em 38 estratagemas – para que um ou o outro alcance a vitória mesmo tendo se baseado em provas infundadas. Para Schopenhauer, a dialética (dialética erística, segundo sua concepção que diverge da concepção Aristotélica) seria um processo de persuasão e argumentação sem vinculo com a razão, busca como objetivo imediato, combater as premissas do seu opositor, refutando de logo suas considerações mesmo que concorde com suas teses – a do opositor – e como objetivo mediato combater as conseqüências que das premissas do opositor entenda resultante.
Deste arcabouço, o conceito de dialética para Schopenhauer diverge daquele empregado por Aristóteles, o qual Schopenhauer de forma aviltante considera-a, não como o confronto de argumentos contraditórios capazes de gerar conseqüências positivas (a busca pela verdade), mas bem ao contrário, um empreendimento meramente contencioso onde o que menos interessa é descobrir a verdade.
Como foi observado por Olavo de Carvalho, contemporaneamente dialética e lógica tem sido empregado como sendo sinônimos, na pratica e para Schopenhauer não os são, para este, dialética se confunde com a retórica, que busca dissuadir o seu interlocutor a aceitar como verdade, as falácias que lhes são apresentadas, mesmo que na essência, não as sejam.
Schopenhauer, num só golpe de mesquinharia diz que: “Se existisse lealdade e boa fé, as coisas seriam distintas. Mas, como não se pode esperar isto dos demais, ninguém deve praticá-las, pois não teria retribuições. O mesmo acontece nas controvérsias. Se dou razão ao adversário nos momentos em que este parece tê-la, não é provável que ele faça o mesmo no caso contrário. Antes, recorrerá a meios ilícitos. Portanto devo fazê-lo também. É fácil dizer que se deve tão somente a verdade, sem preconceitos em favor da própria tese. Mas não se pode pressupor que o adversário o fará. E assim tampouco devemos fazê-los nós”.
Então a esta conjetura, protesta Olavo de Carvalho: “Aqui se torna visível a que distancia fomos parar da dialética de Aristóteles: de um método de busca da verdade, apto a encontrar os princípios de base das varias ciências, até uma arte do maquiavelismo psicológico, há um longo caminho a percorrer – para baixo.
O grande marco desta obra para a posteridade fica, a meu ver, grifado ao longo dos saudosos comentários e notas de CARVALHO, que de forma ambivalente nos adverte dos perigos do uso indiscriminado da dialética. Conclui, por assim dizer, que a manipulação semântica do conhecimento é a mais cabal das provas de que se tem o propósito único e exclusivo de vencer seu adversário com solene desprezo pela verdade dos fatos. Impossível é não dizer que no contexto de disputa política, as palavras consubstanciadas na obra de Schopenhauer se tornam armas – armas das quais Schopenhauer não poderia prever –, sua grande polêmica – a manipulação semântica – tem acento nos discursos unilaterais, aonde a manipulação semântica da retórica ganha status de instrumento de discursos monológicos, ou seja, a expressão de idéias para a multidão, sem, com tudo, delegar a esta a possibilidade de confrontá-las em seu antagonismo, impedindo, outrossim, o equilíbrio de forças. CARVALHO, ainda diz que esta “dialética” erística sem debate é um dos produtos mais requintados da perversidade humana. Ora, assim sendo, que atire, então, a primeira pedra, aquele que chegou ao poder político sem nunca ter se valido de retóricas e argumentos persuasivos, sem nem ao menos, ter tido a chance, o povo, de refutar tais conjeturas. Isto é de longe uma afronta ao “Principio do devido debate legal”, ora, esta postura está a guisa da arbitrariedade e do monopólio da informação, que a propósito, para que seja informação, deve passar pelo crivo do povo, destinatário final dessa dita informação, que apenas recebemos sem, contudo, nos ser dada a chance de dialetizá-la. A contrario censo, estão a elitizá-la.
Não estranho às afirmações pessimistas desta obra, ou “manual de patifarias”, recomendo a sua leitura, como sempre venho refletindo comigo mesmo: se esta obra de espiritual e nobre não tem muito a oferecer, sei que, como mecanismo de autodefesa contra aqueles que da retórica Schopenhaueriana, venha a nos inferir suas tagarelices, possamos ter como nos defender, já que agora conhecemos seus estratagemas. Assim, nas palavras de CARVALHO, como nenhum outro poderia fazer melhor, diz que:
“não se pense, porém, que com este livro eu pretendo incentivar os leitores à disputa de opiniões, por julgar que da discussão nasça a luz, quando está ai a história do mundo para provar que da maioria delas nascem apenas as falsas certezas e as decisões catastróficas. O objetivo deste escrito não é induzir o leitor a discutir com os outros, mas a dialetizar consigo próprio, na serenidade de uma investigação sincera, pelo menos até estar seguro de que suas opiniões não apressam apenas o desejo egolátrico de impor preferências, mas revelam algo da natureza das coisas e do estado dos fatos. Este livro é, com efeito, uma galeria de maus exemplos, que mostra no que resulta, em desonestidade e perversão, dar livre curso a paixão de persuadir.[...] Ao entregar ao público este trabalho, faço-o no intuito de lhe oferecer instrumentos de defesa, não de ataque. Meu desejo é ajudá-lo a resguardar-se dos tagarelas, e não a transformar-se num deles”.
Assim sendo, embora não seja necessário concordar com o autor, entendo que seu pessimismo possa nos ser útil, sua falta de decência e visível inclinação a sofística, nos denota uma enorme preocupação do autor em vencer, custe o que custar, como já foi dito exaustivamente acima. Sua conduta implacável e predatória diante de seus contendores, tratando-os como inimigos, causa estardalhaço, mas também nos indica o caminho a não perseguir correto? Não obstante, creio no debate justo e honesto, não por ingenuidade minha, mas por acreditar que o fiel exercício deste instrumento, o debate, nos conduzirá a ciência, que nada mais é que o estudo da essência das coisas e do estado das coisas, que conseqüentemente será alcançado. Contudo, o equilíbrio de um debate não reside apenas em refutar o monólogo – discurso com sigo mesmo – mas também em conduzir um debate justo e honesto, para que dele decorra resultados positivos que não se satisfaz apenas através da vitória de um dos contendores.
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