A Pele

A Pele Curzio Malaparte




Resenhas - A Pele


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Augusto Stürmer Caye 02/08/2023

Não recomendo.
Curzio Malaparte escreveu uma obra fenomenal e, ao mesmo tempo, odiosa. Relata com maestria a degradação humana após a libertação da cidade Nápoles, consegue traduzir para as páginas os sentimentos de alívio e humilhação que os italianos sentiam, tudo em uma narrativa perfeita, onírica, ligeiramente surrealista, e preciso confessar: com algumas das mais belas passagens que já li.

Ao mesmo tempo, Malaparte foi um fascista tomado por seus preconceitos. Há inúmeros trechos homofóbicos, racistas e misóginos no livro, que o tornam de difícil trato ao palato.

Há inúmeras resenhas citando o trecho do livro que Jack afirma que pouco importa o que Malaparte fala é ou não é verdade, que o que importa é saber se o que Malaparte fala é ou não é arte; tal questionamento trás a estética em arguição junto à verdade: que é que pesa mais? Por mim, a estética é o que importa aqui.

Mas e a estética em relação ao ódio? Para que lado deve pender a balança? Essa foi minha discussão interna lendo este livro. E ao terminar, conclui: não, há limites para a arte de Malaparte, seu ódio não pode prevalecer.

Por isso, em que pese seus trechos incríveis, não posso fechar meus olhos às violações cometidas; não recomendo A Pele, que merece sua nota mínima.
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Valéria Cristina 23/06/2023

Visceral
Alguns livros acerca da 2ª Guerra Mundial tendem a romantizar algumas passagens desse conflito. Definitivamente, esse não é o caso de “A Pele”. Tendo recebido proibição moral pelo Conselho Comunal de Nápoles e a inclusão no Index dos livros proibidos pela Congregação do Santo Ofício, esse livro é visceral.

Não se trata de história de batalhas sangrentas, de episódios de conquistas territoriais. Aqui a batalha é de outro naipe.

Em 1943, os aliados chegam à Itália como libertadores. Mussolini, preso por ordem do Rei italiano marca a derrota italiana. Esse é o cenário que Malaparte usa para sua narrativa, onde é ao mesmo tempo autor e personagem. Em uma Nápoles devastada pela guerra, ele conta como a “liberdade” pode assumir outras faces.

A pobreza absoluta, a fome, as doenças, o medo, o desespero levam à prostituição desenfreada, à delação, ao comércio ilícito, tudo alimentado pela força de “libertação” americana. A situação é chamada de “a peste”.

Ao percorrer as ruas de Nápoles em companhia do Coronel Jack, americano do exército de ocupação, Malaparte se depara com a absoluta dissolução dos valores: mulheres negociando crianças, vendendo o corpo e tudo o que pode ser mercantilizado. Homens agindo na mesma forma. Antros onde tudo isso ocorre proliferam pela ancestral e bela cidade italiana.
Vemos ainda a decadência da juventude, a humilhação pela qual passam os ditos “libertados”. O contraente entre plebe e nobreza também é evidenciado neste livro necessário, cuja linguagem é melancólica e irônica.

A chegada à Roma e Florença também é descrita de forma intensa e, embora crua, poética.

Há diversos episódios dos quais não conseguimos nos decidir por sua veracidade. Todavia, isso é resolvido pela fala de Jack: “Não há qualquer importância, disse Jack, se o que Malaparte conta é verdadeiro ou falso. A questão a ser posta é bem outra: se o que ele faz é arte ou não.

Kurt Erich Suckert, mais conhecido pelo pseudônimo Curzio Malaparte (Prato, 9 de junho de 1898 – 19 de julho de 1957) foi um escritor, jornalista, dramaturgo, cineasta, militar e diplomata italiano. O sobrenome de seu pseudônimo (por si usado desde 1925), significa em italiano "parte má", sendo um trocadilho com o nome de família de Napoleão Bonaparte - que significa, em italiano, "parte boa".
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Tellys 23/01/2022

Guerra, arte, horror, fantasia... o ser humano bruto!
A guerra não é arte, mas só a arte consegue exprimir, de uma maneira voraz e verdadeira, os horrores de uma guerra. Essa obra magistral de Curzio Malaparte nos mostra que não há vencedores mas apenas sobreviventes numa guerra, cujo pendão que carregam consigo representa a sínteses dos traumas existenciais que carregarão pelo que resta de suas vidas. A Pele é uma obra essencial!
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Poesia na Alma 10/03/2019

A agonia e a decadência humana na Pele
Curzio Malaparte, pseudônimo de Kurt Erich Suckert, (1898-1957) nasceu em Toscana – Itália, além de jornalista, escritor, dramaturgo e cineasta, lutou na I Guerra Mundial e recebeu várias condecorações por bravura; foi membro do Partido Nacional Fascista, entretanto, em um de seus artigos, ataca a imagem de Hitler e Mussolini que culmina na expulsão do partido e a condenação ao exílio na ilha de Lipari entre 1933 e 1938. Entre 1938 e 1943, Malaparte ficou preso no temido presídio romano de Regina Coeli.

A história de Malaparte é perturbadora e contraditória, um exímio escritor, porém, como ele mesmo denominou uma ‘puta do fascismo’, ou seja, um homem político de poucos escrúpulos, visto que seu primeiro livro também ajudou Mussolini a consolidar o Fascismo na Itália. Porém, podemos também destacar A Pele como uma denúncia aos horrores que a Europa fora capaz de materializar contra a liberdade e a vida.

“O Deus de Nápoles, o totem do povo napolitano, estava morto.”

Em A Pele (1949), Editora Autêntica, tradução de Beatriz Magalhães, que deveria se chamar A Peste – título já reivindicado por Albert Camus (1947) –, Malaparte faz um retrato de sociedade europeia em sua decadência moral e individualista, denominada pelo autor como ‘carne podre’. Nesse contexto, o livro questiona a chegada das tropas aliadas na Europa, mais precisamente Nápoles. Afinal, como ajudar uma Europa desconhecida em essência pelas tropas aliadas americanas? Quais os ônus dessa ‘ajuda’? Afinal, é digno da vitória aquele que vence a guerra?

http://www.poesianaalma.com.br/2019/03/resenha-agonia-e-decadencia-humana-na.html
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douglaseralldo 20/02/2019

10 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PELE, DE CURZIO MALAPARTE, OU SOBRE OS HORRORES DOS HOMENS E DAS GUERRAS
1 - Antes de mais nada, vale dizer que a leitura de A Pele pede - e demanda - leituras não panfletárias, pois que no centro de tantas polêmicas que podem suscitar obra e autor, é todavia sobre a arte de que se trata tudo isso, e por isso, aqui importa-nos as muitas vezes conflitantes e contraditórias nuances de uma narrativa primorosa, mas que exige do leitor não só desprendimento - e total liberdade de fanatismos - mas muitas vezes estômago para aguentar a imagem da guerra em todos os seus horrores. Nesse sentido, vale dizer que já temos a resposta para a provocação do Coronel Jack Hamilton no interior do romance "não há qualquer importância se o que Malaparte conta é verdadeiro ou falso. A questão a ser posta é bem outra: se o que ele faz é arte ou não". É sobre essa obra de arte da literatura que trataremos nesta publicação;

2 - Antes de tudo, é preciso dizer que a obra de Malaparte enquanto perspectiva dos gêneros literários encontra-se numa posição bastante peculiar, quanto original. Ela joga com as fronteiras da autoficção e do romance para produzir algo único. Isso fica demonstrado mesmo internamente no romance, reunindo aí a ironia e o seu cinismo de observar o mundo; quando provocado da veracidade de suas estórias por um grupo de militares em acampamento, aproveita o momento para debochar dos mesmos fazendo-os crer ter ele comido uma mão humana sob o testemunho e espanto de todos. Esta é a resposta à "provocação" de Hamilton e norte importante para análises do pungente romance. Mas retomando as fronteiras dos gêneros e a estrutura de sua estética, há diferentes elementos a construir tais debates, a começar pelo fato de que aqui autor e narrador são as mesmas pessoas, Curzio Malaparte, este, entretanto, pseudônimo de Kurt Erick Sückert. Tudo isso evoca em muitas interpretações os retratos de guerra, a autobiografia, contudo, estas rompidas às vezes, no caso de A Pele, até mesmo com o exagero do insólito ou o flerte com o fantástico como quando do diálogo de Malaparte com os fetos;

3 - A narrativa de A Pele desenvolve-se a partir de 1943 e acompanha os momentos finais da guerra, da Segunda Guerra, ambientado especialmente em Nápoles, que em determinado momento testemunhará a atividade do Vesúvio, e ainda uma marcha até Roma. São estes estertores com a chegada dos "vencedores" e a "libertação" da Europa do nazismo e do fascismos que serão retratados pela estética da arte, e com todo poder de ressignificação e releitura que a arte nos proporciona. É o que faz Malaparte, e como aprendemos com Jack Hamilton, a veracidade dos muitas vezes insólitos acontecimentos descritos pelo autor, é o impacto que estas cenas, mesmo quando pinceladas pelo insólito, nos surgem tão realistas e sufocantes que não há como não sentirmos a leitura. A narrativa de Malaparte tem efeito sobre aquele que lê, e não sendo este leitor um sociopata qualquer, não há como não impactar-se com o desencanto e a melancolia extravasada pelo cinismo e sarcasmo do autor ao quebrar qualquer encantamento bélico. No fundo é uma das poucas narrativas a quebrar qualquer percepção positiva da guerra;
+: http://www.listasliterarias.com/2019/02/10-consideracoes-sobre-pele-de-curzio.html

site: http://www.listasliterarias.com/2019/02/10-consideracoes-sobre-pele-de-curzio.html
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