Jéssika 14/02/2022
Vitória
Nunca tinha lido uma biografia. Esta foi minha primeira. Comecei muito bem, com uma mulher empoderada, que fez e mudou a história.
Acho sempre incrível o quão jovens nossos ancestrais ingressavam na vida adulta. Com 19 anos, Vitória já era rainha, estava se casando e gerando filhos.
Hoje, meu filho com 18 anos, está indeciso com relação à que profissão seguir?. Só para traçar um comparativo?
Nunca foi uma mulher submissa. Desde criança, procurava fazer suas vontades prevalecerem. Vitória quase me fez, de fato, acreditar que Deus escolhe os reis e as rainhas? rsrs Porque ela NASCEU rainha, mesmo longe da linha de sucessão.
Porém, apesar de nunca ter sido submissa, pareceu-me que gostava de ser vista assim. E eu a entendo.
Nós, mulheres (femininas - há as que preferem não ser - e eu respeito) mesmo independentes, seguras de si e muito mais inteligentes que os homens, gostamos de ser mimadas, paparicadas, e para conseguir isso, precisamos nos fazer de frágeis! Mas, senhores, isso é apenas uma de nossas táticas! Rsrs
E Vitória usava isso a seu favor, o tempo todo.
Para o povo, Vitória pintava a caricatura de uma pobre mulher indefesa, que precisava do cuidado e da orientação de seu primeiro-ministro e de seu marido - o que, após a morte de Albert, foi substituído pela "pobre viúva frágil" - o que gerava empatia e reconhecimento por parte da população. Mas no particular era uma mulher determinada, que tinha ciência da sua posição e exigia o respeito que ela demandava, sempre no pé de seus ministros, sempre trabalhando.
Ao falar de Vitória é quase impossível não falar de Albert, seu marido. O amor dos dois é muito bonito. E, numa época de casamentos por conveniência, é muito feliz que tenham realmente se amado. Além disso, resta evidente o quanto Albert, além de bom marido, era um pai dedicado, fato também diferente para aquela época.
Difícil a situação de Albert né? Marido da rainha, um alemão em terras inglesas? Mas ele foi um homem sábio, soube ganhar o seu lugar e até fez Vitória acreditar que ele era melhor do que ela.
Albert começou a ganhar mais destaque conforme Vitória entrava e saia de suas gravidezes - quase sempre uma seguida da outra - já que ficava mais debilitada e, conforme ela ia se dedicando mais a vida doméstica, cedia o controle do Império. Albert não acreditava que as mulheres eram intelectualmente iguais aos homens e constantemente comentava como Vitória não estava no mesmo nível que ele (ninguém é perfeito, quase me apaixonei por ele também!).
Ainda assim, após sua morte, Vitória fez questão de continuar endeusando Albert, de forma que nunca esquecessem quem ele foi e, ela mesma, nunca tirou o luto - mais tarde era comum se fazer de "pobre viúva" para conseguir manipular seus ministros.
Mas, acredito, sim, que ela amou novamente, seu John Brown. Um amor diferente, sem as obrigações impostas pela sociedade, sem as cobranças de padrões de casamento. Acredito que viveram um amor puro e sincero: o garanhão da rainha.
Me chamou a atenção o posicionamento da rainha frente as questões femininas, pois quando o movimento sufragista crescia na Inglaterra, Vitória se opunha.
Em uma questão paradoxal, ela via seu dever como monarca como uma tarefa impossível de recusar, era uma imposição divina. Porém, não acreditava que as mulheres devessem ser donas de si, mas sim estarem subjugadas a um poder maior - masculino. Também não achava certo ou apoiava as empreitadas das mulheres com o sufrágio feminino, pois não acreditava que a política era um assunto destinado ao sexo frágil. Mas ela fazia política (ué!).
Era uma mulher livre de preconceitos, que poderia ter arrumado grandes problemas, por defender um indiano, por exemplo.
E uma mulher muito forte, suportou a dor física até o fim.
Chorei com a dor de Vitória no luto de seu marido e filhos. Chorei como choraram seus súditos em sua morte. Chorei com a morte de Brown. Vibrei nos seus momentos de felicidade doméstica e vitórias políticas. Tive raiva por ela se preocupar com os cavalos mortos em guerra, mas ignorar quantas vidas ceifou por fome. Sem dúvida, foi uma vida muito farta. Cresci muito com essa leitura.