Resenhas - MAURICÉA

Euler 26/01/2022

Mauricéa Severina, de Recife à São Paulo molha a gente. Somos muitas Mauricéas, iguais em tudo e na sina. É um banho de água doce ler esse livro da @adriennemyrtes , que consegue fugir do passo marcado da roda da literatura brasileira contemporânea, e jorra leite profano na cara da gente. Em suas páginas temos o povo, a voz do povo, os ditados que nossas vós, mães emprenham nossos ouvidos. A linguagem cortante, poética, coisa colheita diante de nossos olhos. Mauricéa é oceano, e a escritora trata o texto como uma superposição de ondas. A cada parágrafo ela brinca com o tempo da narrativa dessa travesti e nos conta da sua infância até a velhice, em que se encontra numa cama adoecida. É como Ariadne que tomamos o texto e seguimos no labirinto da vida da protagonista. Enroscamos os dedos na suas palavras e nos costuramos outras. Há erotismo, pulsão, riso, dor, busca. Há jornadas e Nordeste. É de lamber os dedos a cada virada de página. Dá vontade de tomar cerveja com a protagonista, com direito a torresmo de petisco. Mauricéa é uma cidade. E que tesão é pensar em deitar entre suas coxas. Que magia boa é construir uma personagem cidade-travesti. Há na estrutura da narrativa algo que me remete muito a como a série La Veneno decidiu contar a história de Cristina Ortiz, e assim como a série eu quero que todo mundo leia Mauricéa desde já. Mauricéa, dando nó em Macabéa, vive em mim ???