@pedro.h1709 21/03/2020Um crime da solidão.Apesar de ser difícil encontrar um adjetivo ou uma locução adequada para caracterizar esse livro, "muito significativo" parece se aplicar bem.
Conheci duas pessoas que cometeram suicídio, apesar de não pertencerem ao meu círculo próximo de amizade. Não posso dizer o mesmo, entretanto, de pessoas que tentaram suicídio; pois estas fazem até mesmo parte da minha família; e é um grande choque descobrir que alguém com quem você conversou ou conviveu durante certo período, tirou a própria vida.
Como militar, reconheço que as pressões pessoais somadas àquelas relacionadas às profissões de segurança podem ser extremamente perigosas, apesar de não haver grande difusão destes riscos. O militar deve ser impassível, o policial destemido e assim por diante; e se não o é, então é indigno da função que desempenha. O mesmo pode acontecer com os mais religiosos quando ouvem que "a depressão provém do inimigo ou do demônio".
Talvez esses sentimentos de inadequação ao mundo somado à solidão tenham sido alguns dos motivos que fizeram com que um rapaz, que se formou comigo nas forças armadas, viesse a tirar a própria vida dentro das instalações de material bélico. Quantos casos chegaram ao meu conhecimento de soldados que tiraram suas vidas enquanto de serviço, ou mesmo em casa?
O livro menciona um estudo em que foram apresentados históricos clínicos, para profissionais de saúde, de pessoas que deveriam ser julgadas como portadores ou não de doenças mentais. Quando a frase "cometeu suicídio" estava presente nos relatórios, 90% foram avaliados com doenças mentais, enquanto que, quando não havia a frase, apenas 22% forma julgados dessa maneira. Isso revela o quanto é difícil fazer uma avaliação prévia da condição mental do indivíduo.
O trecho mais marcante para mim, trata-se da definição do psiquiatra Karl Menninger de que o suicídio requer o desejo de matar, o desejo de ser morto e o desejo de morrer. Ressalto, portanto, assim como abordado no livro, que não devemos manter a ideia errônea de que perguntar a alguém sobre o suicídio vai aumentar o risco, mas saber que, na realidade perguntar não só não aumenta o risco de suicídio como pode salvar uma vida.
Este é um ótimo livro para nos fazer questionar o quanto estamos atentos para compreender os sinais de aflição daqueles que nos rodeiam.