Bruno Cordeiro 10/07/2021
Isso também é coisa séria
Mais uma vez um tema tabu, mais uma vez um assunto delicado e mais uma vez a ótica por trás do véu cinza.
Solomon que já havia falado sobre depressão agora fala sobre suicídio, e embora os temas sejam relacionados, a atenção dada a um não isenta a necessidade de abordar o outro, muito pelo contrário; se olharmos para a depressão como causa, o estudo do suicídio é extremamente necessário como efeito - um efeito que se mede na perda de vidas, mesmo que não haja a morte em seu sentido literal.
Em diferentes abordagens o suicídio é tratado com a seriedade que o assunto pede, sem julgamento ou condenação por parte do autor, apenas o olhar analítico e imparcial de quem já teve a motivação de tirar a própria vida, de quem já quase renunciou a seu bem maior por não ver razão na persistência em algo que só causa dor e sofrimento. Sem dúvida a experiência de Solomon com a depressão severa confere autoridade pra falar sobre o assunto e principalmente a empatia necessária para compreender que um atentado contra a vida vai muito além de covardia, muitas vezes é apenas um grito de socorro que é ouvido tarde demais. Aí percebemos a importância do livro, pois a necessidade de falar sobre o assunto não é algo novo, mas olhar para o suicida e buscar compreender a situação (até mesmo quando ele matou várias crianças antes de se matar) é o que pode fazer a diferença e evitar tragédias maiores e em vários sentidos.
Novamente a escrita de Solomon nos mostra a visão de diferentes ângulos, como a visão do filho e do amigo de um suicida, mas a escrita jornalística também chama a atenção quando nos deparamos com o relato de uma cidade desolada com uma chacina em uma escola, e a imparcialidade dele enquanto autor, o que mostra maturidade no assunto para que não seja dominado por emoções extremas.
Sobretudo um livro sobre a vida, ele nos faz pensar sobre esse crime que põe um ponto final em toda e qualquer dor ou angústia, crime que põe um ponto final em todos os amanhãs e todas as incertezas; pois na constante alegria que parece ser o extremo da dor que causa o suicídio, ou na tristeza que parece ser algo onipresente até na obra de quem segue por esse caminho, tudo que se sabe é o tamanho da perda que esse crime causa, se é que se pode dimensionar o que é a perda de uma vida.