Carla.Parreira 10/02/2024
Um crime da solidão: Reflexões sobre o suicídio (Andrew Solomon). Melhores trechos: "...Depressão é uma doença da solidão, e a privacidade de um deprimido nada tem a ver com dignidade; é uma prisão... Uma vez decidido o futuro, pudemos viver plenamente o presente... É verdade que, em pessoas com tendência significativa para o suicídio, fatores externos podem deflagrar o ato, mas situações difíceis não costumam explicar por completo a escolha de alguém de acabar com a própria vida. As pessoas devem ter uma vulnerabilidade intrínseca; para cada homem que se mata quando é abandonado pela mulher, há centenas que não se matam ao passar pela mesma situação... Cinquenta por cento dos suicídios americanos envolvem arma de fogo. O controle de armas de fogo seria a forma mais rápida de reduzir suicídios nos Estados Unidos. fogo conseguem pôr fim à vida. O suicídio é, com frequência, um ato impulsivo e, se os meios não estiverem à mão, o impulso passa e as pessoas vão em frente e vivem bem... Suicídio se propaga na família. Não se sabe com clareza até que ponto é uma predisposição genética e até que ponto ter um pai ou uma mãe que se matou torna a opção mais prontamente disponível, embora as duas coisas sejam sem dúvida verdadeiras. O suicídio é o ponto-final de muitas depressões, mas inúmeras pessoas, apesar de agudamente deprimidas, não se tornam suicidas. Cometer suicídio requer um misto de depressão e impulsividade; a depressão em excesso é passiva, submissa e neutralizante. A dor pode ser intolerável, mas a perspectiva de tomar uma providência deliberada como o suicídio é esmagadora... Numa depressão a pessoa se sente tão totalmente destruída, tão pouco ela mesma, que isso pode levar a uma disposição suicida... depressão tende a ser cíclica. O episódio inicial com frequência combina uma vulnerabilidade biológica com um gatilho ambiental. Algumas pessoas são imensamente vulneráveis e ficam deprimidas depois de um minúsculo gatilho ambiental. Outras não são tão vulneráveis e precisam de um gatilho grande de fato para caírem em depressão aguda. Uma vez desencadeada a doença, chegase a um ponto em que, com ou sem gatilhos ambientais, a tendência é experimentar ciclos alternados de bem-estar e depressão... Vivíamos trocando de remédio. Mas eu apenas continuava afundando. Acreditava nos meus médicos. Sempre concordei que eu acabaria voltando ao normal. Mas não conseguia esperar. Não conseguia esperar nem mesmo o próximo minuto. Eu cantava para apagar as coisas que a minha mente dizia, que eram: ‘você nem merece viver. É uma inútil. Nunca vai ser nada. Você não é ninguém’. Foi quando de fato comecei a pensar em me matar. Na depressão, você não acha que colocou um véu cinza e que está vendo o mundo através da névoa do mau humor. Você acha que o véu foi tirado, o véu da felicidade, e que agora é que você está enxergando de verdade. Você tenta pegar a verdade e desmontá-la. E acha que a verdade é uma coisa fixa. Mas a verdade é viva e corre de um lado para o outro. Você consegue exorcizar os demônios de esquizofrênicos que acham que há alguma coisa estranha dentro deles. Mas é muito mais difícil com pessoas deprimidas, porque nós acreditamos que estamos vendo a verdade. Só que a verdade mente..."