Nas profundezas

Nas profundezas Joris-Karl Huysmans




Resenhas - Nas profundezas


6 encontrados | exibindo 1 a 6


Henrique 25/03/2024

Revoltante e excelente
Tenho zero interesse em temas como satanismo ou qualquer outro tipo de ocultismo. Li este livro depois de receber como recomendação e de, surpreendentemente, ler bons reviews a respeito. OK, vamos lá!
A leitura vale muito a pena: poucos foram os livros que me prenderam de tal modo que eu realmente ficava ansioso para ler mais e não parar de ler e este foi um destes casos.
Tudo é escrito de forma muito rebuscada, com uma linguagem esmerada, mas que não nos maça com preciosismos. As cenas são descritas com riqueza e tudo é administrado de maneira muito interessante, mesmo nas partes mais revoltantes.
O fim, mesmo sendo um anticlímax, não desmerece quão prazeroso foi me deparar com este surpreendentemente bom livro.
comentários(0)comente



Lau 04/03/2024

Nas profundezas da crença
Este é um livro muito simples e muito peculiar. Como Pedro Catharina resume no posfácio: "[..] o romance se desenrola em espaços interiores, através de visitas e longas conversas que exploram os pontos de vista dos personagens". É isso mesmo, a história é composta quase inteiramente por meio de diálogos entre um grupo de amigos e reflexões internas do protagonista em seu processo criativo

Esse interessante grupo, formado por um escritor, um médico, um astrólogo, um sineiro e, podemos contar, a esposa do sineiro, traz personagens que estão desiludidos com a sociedade em que vivem e buscam refúgio nas opiniões compartilhadas uns com os outros. O protagonista é um autor de livros já com certo reconhecimento no meio, que claramente já passou da sua fase de brilho no olho e está procurando coisas que o estimulem de qualquer forma possível, até que decide escrever uma biografia sobre Gilles de Rais. Essa figura, conhecida por ser um estuprador e serial killer envolvido com o ocultismo, foi julgado pela Igreja como tal, apesar de depois tê-lo redimido por se arrepender de seus pecados. Bom, orar apaga todos os seus crimes, mas não o tribunal civil, pelo qual foi condenado à morte

O importante é que Durtal, o escritor, para desenvolver sua biografia também cria o desejo de se envolver ele mesmo com assuntos relacionados ao satanismo, o obscurantismo, a magia etc e com o grupo de amigos que faz no caminho, pode se encontrar todos os dias para um belo jantar e debater livremente a respeito do tema

Mas o grande ponto do livro não é o satanismo, não são os rituais, não é a descrição da violência, do erotismo - é uma insatisfação. Huysmans, o autor, se coloca no lugar do protagonista de reflexão acerca da era que estava vivendo, o final do séc. XIX que, por sinal, é mesmo permeado por muitas mudanças - inclusive pelo racha nas crenças tradicionais provocado pelo positivismo. E, apesar de ter um estilo naturalista, ele é desencantado com esse mundo em que as pessoas tentam descrever tudo cientificamente, acham que têm todas as respostas e no fim, muitas coisas continuam sem explicação. Ele quer trazer essa insatisfação ao leitor, mostrar a decepção dele em relação ao século e como, no fim das contas, a humanidade não evoluiu em nada

Mas há uma ironia engraçada nesse livro - que eu acredito ter sido intencional, e se não, continua sendo uma ironia - porque nesses diálogos, os personagens acabam fazendo uma ode à Idade Média como se fosse uma época boa, uma era romântica e inocente, enquanto consideram seus contemporâneos todos farsantes a enganar as pessoas, diferentemente da verdadeira magia do passado. Se o autor, ao mesmo tempo, tenta criticar a sociedade industrial, também acaba permitindo uma crítica ao pensamento retrógrado dos próprios personagens. Não só relutam em aceitar a ciência, ainda principiante demais para merecer sua credibilidade, como distorcem a visão sobre aquilo que chamam "bons tempos" numa nostalgia daquilo que nunca viveram. Ainda que, para os padrões de hoje, a medicina oitocentista fosse tão mágica quanto na Era das Trevas, a desestabilização da religiosidade pelos novos conhecimentos gera incômodo e resistência. Se é possível interpretar dessa forma, é incrível ver como esse momento de ruptura se reflete tão profundamente na obra
Bruno 06/03/2024minha estante
Braba




Ismael.Chaves 18/10/2023

Satanismo, rituais e a cena de missas negra mais emblemática da literatura
Gilles de Rais (1405 – 1440) foi um cavaleiro e senhor da Bretanha, líder do exército francês e um companheiro de armas de Joana d'Arc. Mas após o fim da guerra e a morte da famosa mártir, Gilles se isolou nas masmorras de seu castelo e, partir daí, relatos perturbadores chegam aos ouvidos da côrte. A grande pergunta é: o que aconteceu para que um respeitado líder cristão se tornasse um dos maiores satanistas e serial killers da história?

Em "Nas profundezas", o escritor Durtal se encontra em meio a pesquisas para uma biografia do satanista medieval, acusado de estuprar e degolar centenas de crianças. Percorrendo as ruas à noite, o protagonista se depara com tipos distintos e livros antigos que o conduzem a instigantes debates sobre cristianismo, ocultismo, alquimia e práticas de magia.

E é justamente aí que reside a maior força desse clássico decadentista de J.-K. Huysmans, que se sustenta não em ações, mas em longos diálogos e debates que prendem a atenção do leitor, ávido por descobrir mais da história do satanista Gilles, ao mesmo tempo que uma grande seita está se formando na cidade e envolve figuras poderosas.

Num dos capítulos mais famosos de "Nas profundezas", o autor faz a descrição de uma missa negra (satânica). Obviamente o livro provocou escândalo na época pela descrição de orgias, falas e rituais blasfemos e, sobretudo, o estupro de crianças. Leitores pressionaram para que a publicação fosse cancelada e, de fato, a venda do romance chegou a ser proibida em algumas livrarias. De fato, não é um livro para todos os públicos, mas aqueles que ousam adentrar os sombrios corredores dessa ficção maldita, certamente, encontrarão uma obra instigante, desafiadora e de muitos méritos artísticos.

A edição limitada da Carambaia apresenta um interessantíssimo projeto gráfico: como podem ver nas fotos abaixo, há uma sobrecapa branca com uma cruz invertida iluminada em relevo. O material e a ilustração remetem a uma hóstia, o que evidencia o teor profano da obra. Por dentro, a capa é totalmente preta, lembrando uma bíblia satânica.
comentários(0)comente



Erudito Principiante 23/09/2022

O sagrado e o profano
Ao iniciar a leitura desse livro me preparei para o bizarro e profano, tendo em vista a sinopse e a capa, além do título, que remete à uma viagem macabra. Realmente encontrei tudo isso e um pouco mais.

O livro inicia-se com um diálogo entre o escritor Durtal, protagonista e alter ego de Huysmans, e seu amigo médico Des Hermies, acerca da superficialidade do movimento literário naturalista. Parecem dois críticos literários citando autores como Zolá, Flaubert e outros. A partir desse diálogo Durtal inicia sua pesquisa para escrever a biografia do Barão Gilles de Rais, nobre que viveu no século XV e lutou contra os ingleses ao lado de Joana D?Arc, mas que ganhou notoriedade por ter confessado arrependimento pela morte de centenas de crianças (alguns números apontam pouco mais de 600 vítimas), sendo condenado à forca por esses terríveis crimes.

Para escrever a biografia com maior propriedade e verossimilhança Durtal começa a pesquisar sobre religiosidade, misticismo e satanismo, pois fica claro para ele que os assassinatos praticados por Gilles de Rais estão permeados por esses elementos. Então ele procura um padre proscrito que ministrava a missa negra, o equivalente satânico da missa cristã, e acaba presenciando o ritual profano, que é descrito com detalhes impactantes. A narrativa alterna entre os diálogos de Durtal e seus interlocutores durante sua pesquisa e os relatos da vida e dos crimes de Gilles de Rais.

Lançado pela primeira vez em 1891, Nas Profundezas (Làs-bas no original) do francês Joris-Karl Huysmans (1848-1907), nos apresenta uma obra chocante contendo adultério, infanticídio e satanismo. Aliás, a missa negra é descrita com tanta riqueza de detalhes que levantou a suspeita de que Huysmans tivesse frequentado tal ?culto?. E como não poderia deixar de ser, houve pressão na época para que o livro não fosse lançado ou pelo menos tivesse as partes mais polêmicas subtraídas.
O livro é intrigante e realmente polêmico, levantando questões que incomodam e chocam. Mas apesar da descrição da missa negra ser de certa forma impactante o que mais me chocou e incomodou foram os relatos das atrocidades praticadas por Gilles de Rais. Ninguém que tenha um mínimo de empatia passa incólume quando lê essas monstruosidades.
Huysmans, além de toda polêmica, consegue nos apresentar um livro que fala sobre o processo de criação de um livro, sobre quanto um escritor está disposto a ir para dar vida à sua obra, o que nos leva a pensar: até onde foi o próprio Huysmans para escrever Nas Profundezas?

No que diz respeito à edição, a Carambaia nos apresenta a primeira tradução (feita por Mauro Pinheiro) de Nas Profundezas no Brasil, trazendo uma capa toda negra, sem nenhuma descrição, e uma jaqueta belíssima com material que simula a textura da hóstia, que é profanada com sangue no ritual descrito, e alto relevo, com uma proposta visual incrível de ?sagrado e profano?.
comentários(0)comente



Lidos e Curtidos 24/01/2019

Existe diferença entre o satanismo medieval e o do século XIX?
Nas Profundezas (Là-Bas) romance de 1891 de J. K. Huysmans foi traduzido por Mauro Pinheiro e publicado pela editora Carambaia em 2018.
A obra escandalizou a França do século XIX por tratar de satanismo e foi antecessora à conversão do autor ao catolicismo.
Na história vamos conhecer Durtal, alter-ego declarado de Huysmans, um escritor insatisfeito com o século em que vive e enfadado com a produção artística francesa. Durtal decide escrever a biografia de um enigmático herói do final da idade média chamado Gilles de Rais (O Barba Azul) que lutou ao lado de Joana D'Arc na Guerra dos Cem Anos, mas acabou se corrompendo nos estudos da alquimia e no satanismo medieval tornando-se uma das figuras mais sanguinárias da história.
Durante a produção da biografia de Gilles de Rais, vamos acompanhar o envolvimento de Durtal com um misterioso homem chamado Cônego Docre, famoso por realizar missas negras em plena Paris do século XIX.
A narrativa possui um clima tenso e difícil de largar, possuindo cenas fortes que envolvem os crimes cometidos por Gilles de Rais e as vivências de Durtal em busca do satanismo do século XIX.
Além disso, temos um registro dos pensamentos do autor referentes à questões filosóficas, religiosas, sociais e artísticas da época através da relação de Durtal com o pequeno círculo social que frequenta.
Quer saber mais? Visite nosso canal no YouTube Lidos e Curtidos.

site: https://youtu.be/hvWYX5OKrys
Matheus.Arend 09/12/2021minha estante
Estou procurando esse livro mas está difícil encontrar. Aceitaria vender ele?




Leila de Carvalho e Gonçalves 07/11/2018

Pessimista, Sarcástico E Provocador
O francês J.-K. Huysmans (1848-1907) é o autor de ?Às Avessas? ou ?Au Rebours?, um livro de capa amarela que, alcunhado de ?bíblia do decadentismo, teria pervertido Dorian Gray, personagem emblemático de Oscar Wilde.

Excêntrico, hermético, mal compreendido e pouco lido, Huysmans voltou aos holofotes recentemente graças à Michel Houellebecq e seu romance ?Submissão? cuja personagem principal é um professor de letras da Sorbonne especializado na obra do escritor que serve como fio condutor da história.

Em nosso país, enquanto viveu, o escritor chegou a ter admiradores. Seus livros, em francês, podiam ser encontrados nas boas livrarias e sua morte foi noticiada sem atraso nos jornais. Curiosamente, diferente do que ocorreu na França, não foram seus livros naturalistas que conquistaram os brasileiros, mas uma série de temática religiosa, o ciclo Durtal, que se inicia com um livro bizarro, Nas Profundezas? ou ?Lá Bas?, por conta das cenas de sexo adúltero, tortura, pedofilia, infanticídio, vampirismo, necrofilia, sodomia e até uma missa negra que o escritor afirmava já ter presenciado.

Em linhas gerais, o romance se aproxima da vida de Huysmans, quando na maturidade, a vida mundana entrou em conflito com seu desejo de maior espiritualidade. Nele, Durtal (protagonista, narrador e alter ego) descreve seu dia a dia que culminará com a conversão ao catolicismo, apresentada passo a passo nos três volumes seguintes: ?En Route?, ?La Cathédrale? e ?L?Oblat?.

Marcado preocupações estéticas e pela linguagem bem cuidada que se distingue pelo emprego de arcaísmos e neologismos, o romance possui três camadas narrativas que se sobrepõe: um adultério tratado com certa ironia; a biografia de Gilles de Rais, um pedófilo assassino que combateu ao lado de Joana D?Arc; e o processo de pesquisa e escrita desta biografia que leva Durtal a pesquisar sobre o Satanismo na Idade Média e conhecer qual rumo tomou no século XIX, isto é, em pleno apogeu do Positivismo.

Para tanto, são imprescindíveis suas relações com um grupo bastante heterogêneo formado pelo estranho casal Chantelouve, o médico Des Hermies, o sineiro Carhaix e o astrólogo Gévingey. Visitando e sendo visitado, são as longas as conversas que acabam trazendo à luz o saber enciclopédico de Huysmans sobre os mais variados e invulgares assuntos, como hagiografia, simbologia das pedras preciosas, ocultismo, alquimia e interpretação dos sonhos, dando como referência vários livros e documentos antigos.

Quando vi o romance anunciado, confesso que fiquei em dúvida se deveria comprá-lo. Resolvi arriscar e não me arrependo, meu receio era injustificado. A leitura não foi cansativa e de fácil compreensão, exigiu apenas acessar a internet para conhecer algumas pinturas mencionados por Durtal, como a ?Crucificação?, de Matthias Grünewald, exposta no Museu de Cassel na Alemanha. Em contrapartida, as atrocidades cometidas por Giles de Rais e a descrição da Missa Negra são perturbadoras, mas indubitavelmente perderam boa parte de seu impacto durante o último século, de maneira, portanto não foram suficientes para que eu desistisse de Durtal.

Por sinal, cabe mencionar que, apesar de abordar sexo, perversão e violência, a narrativa transcende esta perspectiva. Como é explicado no posfácio por Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina, professor de literatura da UFRJ e membro da ?Société Huysmans?: ?Ainda não superamos certas questões do século XIX levantadas em ?Nas Profundezas?. A religião está na ordem do dia. Os crimes bárbaros se multiplicam. Buscamos refúgios, concretos ou abstratos, para escapar do turbilhão urbano e da sociedade cada vez mais massificada. O progresso só decepciona. E a literatura, longe do prestígio que gozava outrora e ainda conservando uma visão romântica de si mesma, continua a repisar antigas questões. Huysmans, um pessimista sarcástico e provocador, está sempre pronto a nos tirar da zona do conforto. Vale o desafio.?

Finalmente, realizada por Mauro Pinheiro, esta é a primeira tradução de ?La Bas? para o português. Ela foi encomendada pela Editora Carambaia que colocou à venda apenas 1000 exemplares numerados que se destacam pela qualidade do papel escolhido, a cuidadosa diagramação e o fino acabamento. Também gostaria de mencionar o projeto gráfico cuja capa em relevo faz alusão a hóstia sagrada e exibe uma cruz invertida, símbolo do Satanismo. Cinco estrelas!
Matheus.Arend 09/12/2021minha estante
Estou procurando do esse livro mas está difícil encontrar. Aceitaria vender ele?


Leila de Carvalho e Gonçalves 09/12/2021minha estante
Já me fizeram esta proposta e recusei. Não pretendo vender o livro.
Entre entre em contato com a Carambaia, talvez ainda tenham algum exemplar ou indiquem onde pode encontrar. Abraços!


Matheus.Arend 09/12/2021minha estante
Entrei em contato com eles e está esgotado. Mas muito obrigado!




6 encontrados | exibindo 1 a 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR