spoiler visualizarRafa569 30/01/2023
#04: Cloro - Alexandre Vidal Porto
Constantino morreu ontem de manhã e nos contará sua história de vida, enquanto se encontra em um limbo escuro pós-morte. Advogado renomado, casado com Débora pai de dois filhos (sendo que um deles sofrerá uma morte trágica), Constantino viveu a vida reprimindo sua homossexualidade e se conformando ao padrão heteronormativo, imposto ainda criança, quando aos 8 anos entende que "ser bicha não era bom". O narrador decide viver sua sexualidade aos 51 anos de idade, em casos extraconjugais, sendo o terceiro e mais duradouro com Emílio, um diplomata brasileiro. Constantino morre de forma súbita, de um AVC, em uma sauna gay, em Tóquio.
Não há muito spoiler, porque quase tudo o que está escrito na sinopse nas orelhas ou na capa do livro, é o que acontece. Não há nenhum plot twist, o que sempre me decepciona em um livro, mas é uma história boa sobre ser você mesmo, sobre ter a coragem de viver a própria vida e assumir os riscos, sem que nada disso seja fácil.
O livro é narrado em duas partes, a primeira por Constantino. A segunda por outras pessoas, com suas visões sobre o protagonista.
Deixo aqui um trecho na página 12, que me deixou reflexivo:
"Dizem que a primeira impressão é a que fica, mas isso não me parece correto. Para quem vê você morrer, o último momento é o que vale. É como você se despede do mundo. É como você seguirá na memória de quem fica. Não haverá mais modulação possível.
Imagine que você tenha escolhido passar a vida vestindo terno azul-marinho, porque é o que mais combina com a sua maneira de ser. Um dia, contudo, alguém lhe dá de presente uma roupa nova. Não é um terno, nem azul-marinho, mas mesmo assim você experimenta. É um traje mais informal, mais claro, para vestir ao ar livre, à luz do sol.
E você sai com aquela roupa nova, sem entender ainda se gosta ou não do efeito dela em você. E aí, pá: você morre inesperadamente, vestido de algo que não era você.
Acaba a vida fantasiado, e pode ser até que tenham dificuldade em reconhecer o seu cadáver."