"Ana Paula" 12/07/2019Mais um livro lido para o Piquenique Literário que participo aqui na minha cidade, São José dos Campos. O mês de junho foi o mês do Orgulho LGBTQAI+, por esse motivo o livro escolhido para debate foi um que falasse sobre o assunto.
Confesso que Cloro não foi minha escolha para leitura, mas ganhou a votação e claro, o li. O livro é ok. Nem tão bom quanto poderia ser, nem tão ruim que não possa ser lido.
"Durante a maior parte do tempo, fui um cara que negou a própria natureza, que extirpou a realidade para não deformar a vida, para que ela fosse da forma que ele queria. Eu tinha um carro na garagem, mas não o usei com medo da velocidade. Foi um desperdício."
A história de Constantino nos sensibiliza e nos trás questões intermináveis sobre quem somos e o que estamos fazendo para conhecermos a nós mesmos profundamente. Desde pequeno, Tino sabia que era diferente, mas em sua infância, ser homossexual era errado. Tino então, resolve que será um homem de bem, pai de família e que guardará esse sentimento dentro de si para sempre. Só que uma tragédia acontece e seu casamento que já não estava bem, acaba desabando de vez e Tino resolve dar uma chance para sua sexualidade.
Assim, passa a ter uma vida dupla: enquanto em São Paulo é pai de família, homem de bem, advogado e ótimo esposo, em Brasília é o amante ardente de Emílio, por quem acaba se apaixonando.
O detalhe mais sórdido dessa história é que Tino nos conta os principais momentos de sua vida depois que morre. Sim, esse livro é narrado em primeira pessoa pelo defunto. Tino está no limbo, esperando na escuridão pelo que virá depois e, para passar o tempo - ou sabe-se lá o que mais - resolve discorrer sobre sua vida, contando a nós, leitores, o que ninguém jamais soube - a não ser seus amantes.
"É difícil ser espontâneo quando se tem medo. Como ser íntimo quando a intimidade é o que mais apavora você?"
A narrativa do personagem é rápida e sucinta. Sua história é breve com poucos pormenores. Consegui me conectar com Tino logo nas primeiras páginas, sua história me deixou curiosa para saber mais. Em momento nenhum senti que a leitura ficou enfadonha ou arrastada, mas poderia ser melhor. Senti falta de aprofundamento maior na época de sua infância, de acordo com o livro, Tino abafou seus sentimentos homossexuais por causa de um garoto que o chamou de "bicha". Não estou me desfazendo da dor do personagem, mas achei sua desculpa supérflua perto do que pessoas reais passam diariamente.
Mesmo assim, entendo o contexto criado pelo autor: necessário em tempos nos quais desejos são reprimidos e personagens são criados para que se viva de acordo com o que uma sociedade conservadora impõe.
Outro ponto da história que me tocou foi a morte de seu filho André. Sua morte nunca foi resolvida e abaixo segue um quote que, mais uma vez, nos remete aos tempos atuais:
"Quanto menos armas, menos tiro; quanto menos tiro, menos mortos. É simples assim."
Como um todo, a leitura vale a pena. Tino é um personagem carismático que consegue passar o que sente para o leitor. O autor soube dosar as partes sentimentais do livro, causando simpatia nos leitores.
Além da narrativa de Tino, temos também, nas últimas páginas, a narrativa de pessoas que fizeram parte de sua vida: seu cunhado, sua esposa e Emílio. Acredito que essa parte tenha sido essencial para vermos Tino pelos olhos das pessoas ao seu redor.
Do mais, indico sim a leitura. É um contexto que deve ser discutido e não ignorado.
site:
http://www.livrosdeelite.com.br/2019/07/resenha-cloro-alexandre-vidal-porto.html