Aquele que é digno de ser amado

Aquele que é digno de ser amado Abdellah Taïa




Resenhas - Aquele que é digno de ser amado


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César 21/11/2022

Você é aquele que é digno de ser amado
Como um livro pode dizer tanto em pouquíssimas páginas? Essa é a sensação predominante ao terminar o breve e intenso "Aquele que é digno de ser amado", do escritor marroquino Abdellah Taïa. O livro é composto por quatro cartas escritas em tom de despedida, do remetente para o destinatário, sendo que o protagonista Ahmed ora escreve, ora é a quem se destina a carta.

A primeira carta, escrita por Ahmed para sua mãe Malika, aborda a complexa relação entre os membros de sua família no Marrocos. Ahmed descreve a matriarca da família como uma ditadora, e relata a submissão do pai à esposa, bem como a preferência dela em relação ao filho mais velho, e a rejeição a ele como homossexual e às filhas mulheres. A segunda carta é escrita por Vincent a Ahmed, com quem teve um caso de um dia, e depois Ahmed foi embora sem dar endereço. A carta é permeada de lamentos do Vincent, tentando desvendar o motivo do abandono precoce do rapaz, e o que poderia ter feito de diferente para que Ahmed ficasse.

A terceira carta é escrita por Ahmed a Emmanuel, o francês com quem vai embora do Marrocos para a França. Nessa carta, Ahmed relata a perda de sua identidade como marroquino ao ter que adotar a cultura, o idioma e até mudar seu nome para ser aceito pela sociedade francesa, e a relação de controle que Emmanuel tinha sobre a vida dele, planejando cada detalhe. A última e derradeira carta é escrita por Lahbib a Ahmed, seu amigo de infância no Marrocos. Os dois, únicos homossexuais em seu círculo, tinham uma relação de companheirismo e confidência. Essa carta é peça chave pra compreender as entrelinhas de determinados acontecimentos e escolhas de Ahmed, e inclusive o título da obra.

Aquele que é digno de ser amado é um livro que fala muita coisa em poucas linhas, o que torna impossível descrevê-lo completamente em uma resenha. O livro aborda o triste dilema dos homossexuais em países islâmicos em escolher entre viver reprimido em seu país de origem ou ter uma suposta liberdade em um país estrangeiro, longe de sua cultura, de seus familiares, de suas raízes, que são parte intrínseca de sua identidade. É possível refletir sobre a idealização que muitos de nós, vindos de países em desenvolvimento, temos de que alcançaremos a felicidade em um país desenvolvido, o que nem sempre corresponde a árdua realidade.
Eduardo 21/11/2022minha estante
Eita! 5 estrelas do senhor César é preciosidade haha. Então já vai pra minha lista! ?


César 21/11/2022minha estante
Cada estrela merecidíssima, leia sim pois vale muito a pena :)


adriana.vasconcellos 26/11/2022minha estante
Um livro q faz vc pensar e um excelente livro




Joabe Vieira 29/12/2020

Colonialismo da mente e do sexo
Muito se fala de colonialismo e estudos decoloniais atualmente. A escrita de Abdellah sutilmente mostra como isso se estabelece e se desenvolve. Como estamos o tempo todo sendo colonizados por outros poderosos. Entretanto, é preciso de dar conta desse mecanismo que subalterniza e erotiza povos, corpos e culturas do Sul Global. Mais do que cenas eróticas e sensuais, o livro nos traz uma tomada de consciência que surge pouco a pouco no protagonista, levando-o a se libertar, não da sua homossexualidade, mas da sua situação de colonizado.
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Marcelo 16/05/2021

Um livro de sentimentos conflituosos
O marroquino Abdellah Taïa foi o primeiro escritor árabe a se assumir homossexual publicamente, em 2006. Para muitos homossexuais vivendo no mundo árabe sob opressão político-religiosa, seu rosto é o único com o qual se identificar, a única inspiração visível. Em seus livros, Abdellah Taïa exibe a dignidade do homossexual árabe. Aquele que é digno de ser amado é seu primeiro romance publicado no Brasil. O livro toma a forma de quatro cartas. Nas duas primeiras, o personagem principal, Ahmed, homossexual marroquino de 40 anos residente em Paris, escreve à mãe, Malika, morta faz cinco anos, e ao amante francês, Emmanuel, que conheceu no Marrocos aos 17 anos e com quem partiu para a França. As outras duas cartas são dirigidas a Ahmed por Vincent, um amante do passado, e Lahbib, um amigo de infância. Merecidamente,como autor, ele se tornou um ícone de resistência, e sua obra está entre as mais relevantes no que se produz na literatura atualmente. Essa correspondência se estende por vinte e cinco anos, de 1990 a 2015. Nas cartas, Ahmed questiona e é questionado sobre sua homossexualidade, sua relação com a mãe, seus vínculos com o Marrocos e sua identidade como árabe na sociedade francesa. Ao partir para a França com Emmanuel e adotar a língua e o modo de vida do colonizador, Ahmed ganhou liberdade para expressar sua sexualidade, mas perdeu suas raízes e sua identidade. Aquele que é digno de ser amado é um livro que fala de vários temas: da relação difícil entre mãe e filho, da dor da homossexualidade, do exílio no estrangeiro, da ilusão de emancipação e da submissão cultural. No entanto, sobretudo, é um livro que fala do colonialismo e das relações de poder, e de como eles se refletem na vida afetiva de um homossexual árabe de 40 anos radicado nos dias de hoje em Paris.
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Diego Vertu @outro_livro_lido 24/01/2022

Surpreendente
O livro é composto por 4 cartas. A primeira Ahmed, um marroquino homossexual, escreve a sua mãe Malinka relatando sua relação com a própria mãe e a relação da mãe com os irmãos e o pai. Na 2 carta, Vincent, amante de Ahmed conta sua relação com ele. Na 3 carta Ahmed escreve a Emannuel, um dos primeiros amores e conta como Ahmed saiu do Marrocos para viver na França. Na 4 e última carta um amigo de infância escreve a Ahmed.
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Foi uma leitura surpreendente porque peguei o livro pra ler sem ao menos ler a sinopse e não consegui parar de ler. É um livro dramático passando de 1990 a 2015 mostrando as relações mãe e filho, a não aceitação da mãe e a relação de um homossexual em um país árabe. Se vê claramente que Ahmed busca pelo seu lugar ao mundo e para isso busca o exílio na França que mesmo aprendendo o Francês, Ahmed não se sente francês e já não se sente marroquino mais por ter saído cedo de seu país. Também mostra que mesmo os países europeus ainda há muito que ser falado sobre sexualidade. Um livro pequeno e muito profundo que vale a pena ser lido.
Deja 07/10/2022minha estante
Votei exatamente nesse! Rsrsr




Juliane.Motta 09/02/2024

Resenha não confiável
Sou incapaz de apresentar critérios técnicos à leitura, pois pra mim foi pura emoção, foi como ler um fluxo de consciência que só quem tem muita coragem consegue escrever.
Amei o texto escrito em forma de cartas, narrado em segunda pessoa, portanto. É como se o único compromisso do remetente fosse com o destinatário e, nós, leitores, somos apenas testemunhas oculares.
Abdellah Taïa me conquistou!
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marcelo.batista.1428 22/03/2023

O livro é composto por quatro cartas escritas em tempos diferentes, que retrocede em pelo menos 5 anos de uma para outra. São elas: do narrador para mãe já morta, de um amante para o narrador, do narrador para o companheiro, do amigo de infância para o narrador.
Vários temas são perpassados no livro: relações familiares, sexualidade, exílio, colonialismo, religiosidade, relações de poder, ou seja, é um livro bem potente e amplo, apesar das poucas páginas. Tem uma narrativa que flui e é bem escrito.
Mas 3 coisas me incomodaram:
- o autor da carta tem sempre um olhar angustiante e infeliz para o passado, o que deixa a leitura um tanto pesada.
- esse olhar também segue uma casualidade simples, como se uma ação tivesse um único efeito ou um acontecimento uma única causa, deixando de dialogar um pouco com a complexidade da vida,
- e ele tem um tom dramático que as vezes é um pouco acima do que eu gosto.
De qualquer forma, valeu a pena conhecer o autor.

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Nayara 27/08/2021

" O amor não se vive unicamente com as pessoas que compartilham exatamente de todas as nossas opiniões, as nossas escolhas "
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Leticia Borges 05/09/2023

"Porque, afinal entendi, o amor não se vive unicamente com as pessoas que compartilham exatamente de todas as nossas opiniões, as nossas escolhas."
Um livro curto e belíssimo. No formato de quatro cartas, ele nos faz refletir sobre relações familiares, sobre a homossexualidade no mundo árabe e sobre identidades em um cenário pós-colonial. Cheio de conflitos, ele não nos revela todos os detalhes das histórias, mas sua riqueza está justamente na narrativa de fatos que se complementam e nos instigam.
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Eloiza Cirne 08/04/2020

Bela narrativa
"... o amor não se vive unicamente com as pessoas que compartilham exatamente de todas as nossas opiniões, as nossas escolhas."
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Ana 24/11/2022

Eu não sei nem por onde começar sobre esse livro, ele é um atropelo.

Fala sobre tantas coisas, com tantas camadas... Resumir a personagem principal a apenas um garoto gay ou marroquino (como se fosse apenas!!) não consegue abranger a quantidade de temas e complexidade das relações construídas em 4 cartas. Achei incrível como o autor mostrou questões de colonialidade, sexualidade, estrutura familiar, migração...

É muito bonito de se ver a forma como ele constroi a questão do tempo. A escrita de cada carta é muito visceral, você consegue sentir os sentimentos tão fortes escorrendo pelas páginas e por cada carta se passar em uma época diferente, você fica conhecendo a história "de trás pra frente". O que acontece quando essas duas características se juntam é que você entende as emoções e ações das personagens naquele momento e na próxima carta você entende o que levou ela a fazer o que faz. Ou seja, é quase como se fosse abrindo uma boneca russa, como se estivesse descascando cebola.

Recomendo fortemente!!!!

"A morte é uma obsessão para os que restam, os que ficam por aqui por mais um pouquinho. Os mortos são vivos." (p.8)
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Galardo 22/05/2021

Superou minhas expectativas
Trás uma narrativa forte em quatro cartas que abarcam muito mais do que homossexualidade que é uma possível impressão pré leitura. Um livro potente que consegue trabalhar, sexualidade, religiosidade, colonialidade e outros elementos de forma precisa, partindo da vida de Ahmed é possível refletir sobre um todo, uma realidade triste e arrebatadora. O título aqui acaba por ser uma grande reflexão sobre quem é "aquele que é digno de ser amado".
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Ana Bellot 07/12/2021

Aquele que é digno de ser lido!
Pense em um livro repleto de conhecimentos culturais, relfexões e aprendizados.
Que obra, meus amigos!
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Carol 11/12/2020

Impressões da Carol
Livro: Aquele que é digno de ser amado {2017}
Autor: Abdellah Taïa {Marrocos, 1973-}
Tradução: Paulo Werneck
Editora: Nós
144p.

Das coisas que mais me fazem ser uma entusiasta de clubes de leituras é ter a oportunidade de ler um livro que, se não fosse por essa curadoria, provavelmente escaparia do meu radar.

É este o caso de "Aquele que é digno de ser amado", do marroquino Abdellah Taïa, lido para o clube LGBTQ+. Caso queiram conhecer o clube, procurem as arrobas @jamesthiago ou @lendoarte, no instagram.

Trata-se de um romance epistolar, que perpassa um período de 25 anos da vida de Ahmed, um homem árabe, de 40 anos, homossexual, vivendo em Paris. As cartas são datadas da mais recente à mais antiga, o que torna a leitura um mergulho no passado desse homem, numa tentativa de compreendê-lo.

O que leva uma pessoa a ser quem ela é? A agir como age? A amar como ama? Qual lugar esse homem exilado ocupa? O que é ser gay numa sociedade confessional como o Marrocos islâmico? O que é ser o outro numa França laica? Do que falamos quando falamos sobre submissão? E sobre poder?

São ao todo 4 cartas nas quais Abdellah Taïa não alivia pro leitor em momento algum. Sua escrita é direta, dura, seca e cheia de nuances. Ahmed é um homem marcado por suas origens e relações familiares e amorosas, é um homem factível e sua história nos comove porque, afinal, todos somos dignos de sermos amados.

Abdellah Taïa, ele mesmo, nascido no Marrocos e exilado na França, foi o primeiro escritor árabe a se assumir gay, abertamente. Para contextualizar a força desse ato, no Marrocos, a homossexualidade é crime e punida com até 3 anos de prisão e multa.

Se a literatura é esse exercício de se pôr no lugar de outrem, "Aquele que é digno de ser amado", é um belo exemplo do que de melhor a literatura contemporânea pode nos proporcionar. É um livro incômodo, mas pertinente. Recomendo!
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Allan 06/09/2021

"Essa pele é a minha verdade, para além de mim mesmo. Não a aceito completamente, mas sei que só existo por ela, apesar de minhas múltiplas tentativas de fuga, de emancipação."

Já ouviu que não se pode julgar um livro pela capa? Então, você pega essa edição na mão e pensa que o livro é curtinho. Mas ele é de uma profundidade tão grande, que vira um livrão. São quatro cartas que nos permitem acompanhar a história de um migrante gay e marroquino na França. O livro aborda a questão da sexualidade, da religião, relacionamento familiar e colonialismo. Aliás, é um refresco ver um autor que não romantiza o colonialismo europeu.
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