natália rocha 07/08/2020O termo ‘’supérfluo’’ apareceu na literatura pela primeira vez - como característica de alguém - na obra de Turguêniev com a novela ‘’Diário de um Homem Supérfluo’’, publicada em 1850.
A figura do homem supérfluo pode ser caracterizada por um jovem nobre, inteligente e com bons princípios morais, mas que se mostra incapacitado para lutar por aquilo que acredita ou por quem ama – isso devido às repressões sociais da época ou ao nível de educação que recebereu. Para resumir, são aqueles que possuem inúmeras ideias, opiniões, pensamentos; mas que, na hora de se manifestar, se calam e deixam os outros falarem por ele.
‘’Um homem inútil, eis tudo. Pelo visto, a natureza não contava com meu aparecimento e, em consequência disso, tratou-me como uma visita inesperada e inconveniente. ’’
A novela, escrita em forma de diário, nos apresenta um jovem chamado Tchulkatúrin, que nunca encontrou seu lugar no mundo, e agora se encontra à beira da morte. O personagem, infeliz e sem propósitos para viver, decide escrever um diário quando sente a morte próxima para contar-nos sobre a sua vida – mas logo desiste da ideia por julgar sua vida comum demais.
‘’Mas não é cômico começar a escrever um diário a, provavelmente, duas semanas da própria morte?’’
No meio de suas narrações, Tchulkatúrin prende-se na história de um amor não correspondido e doloroso que sentiu por Liza, filha de um rico proprietário de terras da província. Claramente percebemos que é um episódio de sua vida que o personagem nunca superou e guarda amarguras até o momento.
Turguêniev descreve o psicológico de seu personagem de uma forma surpreendente. Os sentimentos humanos, como frustrações, sofrimentos e desamores, são postos em palavras de maneira muito poética e realista – é como se o autor tivesse transcrito aquilo que sentimos e não conseguimos definir.
É um livro curto de 96 páginas e uma ótima escolha para aqueles que querem começar a consumir literatura russa mas estão sem um norte: a escrita é muito bonita e de fácil compreensão.