Lurdes 21/02/2024
Graciliano Ramos é meu autor nacional preferido, mas fazia muito tempo que não relia nenhum de seus livros (acho que li todos - vou confirmar).
Neste ano, em que suas obras caíram em domínio público, sinto imensa alegria por toda a atenção que ele está recebendo e pelas inúmeras edições que estão pipocando, facilitando ainda mais o acesso aos seus escritos.
Hoje falo um pouquinho de Vidas Secas.
Este clássico incontestável, que se debruça sobre a história de uma pequena família, com 5 membros: o casal Fabiano e Sinhá Vitória, os dois filhos - cujos nomes não são citados -, e a cadelinha Baleia.
Uma família como tantas outras do sertão, que foge da seca, buscando um lugar onde possam viver em paz, onde Sinhá Vitória possa ter a tão sonhada cama de couro, Fabiano possa cuidar de seus animais, ter seu gadinho e um cavalo para galopar, onde os meninos possam ir à escola aprender sobre tudo e ter um futuro melhor que seus pais.
Graciliano usa um narrador, que conta as desventuras da família que, em época de seca, se torna retirante, e em época de chuva tenta se estabelecer em algum lugar onde possam trabalhar, em geral fazendas que lhes dão um teto e exploram sua força de trabalho. E quando as chuvas vem forte demais, ainda tem as enchentes.
Em qualquer das situações, somente a falta de perspectivas de a vida melhorar.
Fabiano se diz ignorante, bruto, e o é, em muitas situações, mas tem um coração bom, respeita a inteligência da mulher, sonha com um futuro para os filhos e é muito apegado a Baleia, companheira inseparável de todos.
Se não fosse pela família ele talvez virasse cangaceiro, como forma de se defender e se vingar de todas as injustiças, exploração e violência que sofre daqueles que detem poder, o patrão, a polícia, o governo.
Fabiano é o protagonista, mas Baleia é nossa personagem inesquecível. Lembrem que ela tem nome e os filhos, não, tal a sua importância.
Vidas secas, não só de água, mas de amor e esperança.
Se ainda não leu, leia. Lindo, triste, visceral.