Lauraa Machado 04/07/2020
Decepção, infelizmente!
Eu amo essa nova onda de autores nacionais sendo publicados, compro livros de vários sem nem precisar saber qual é a história e especialmente amo e admiro muito todo o trabalho da editora Duplo Sentido. Dá para ver em cada página o carinho que elas têm com a história, e a própria autora, Ana Yassuda, é um amor de pessoa. Detesto ter que criticar um livro nacional, porque a última coisa que quero é fazer algo que impeça nossa literatura atual de crescer. Mas, infelizmente, eu sofri em cada página aqui e não suporto a ideia de censurar minha opinião.
Logo no primeiro parágrafo, já soube que não ia gostar. Ainda tinha alguma esperança, mas as frases longas demais, as divagações desnecessárias e as informações repetidas me incomodaram de cara. Tudo só piorou quando percebi na escrita a péssima tendência de usar palavras complicadas, formais e pretensiosas para descrever as coisas mais banais! Foi uma tentativa descarada de deixar a escrita mais inteligente, mas o que fez foi deixar o texto truncado, pesado e chato. Tão chato, que queria ter largado antes da página vinte. Fui valente e li até o final, mas ainda não sei bem por quê. A leitura foi torturante.
Os dois personagens principais, Matheus e Felícia, não tinham qualquer química. A interação deles parecia estar acontecendo dentro da cabeça dele, já que os dois tinham exatamente a mesma personalidade, falavam do mesmo jeito, usando palavras esquisitas que só contribuíram para a narrativa pretensiosa e pedante. Teve uma hora em que quis ler só os diálogos e mensagens, mas não deu para escapar da escrita. Nem pareciam mensagens de celular, para falar a verdade. Pelo jeito que falavam, seu vocabulário e suas referências, os personagens pareciam ter mais de cinquenta anos, no mínimo.
Não tem enredo também, nada acontece, e eu passei o livro inteiro querendo gritar: "Peguem um metrô, pelo amor de deus!" Não senti a ambientação em São Paulo, provavelmente por isso. Morei alguns anos lá, quando tinha mais ou menos a mesma idade, e não reconheci nada direito da cidade no livro. Que pessoa de vinte e poucos anos vai para a Liberdade de carro e não de metrô? Que tipo de pessoa não usa metrô quando odeia engarrafamentos? Ou ônibus? São Paulo tem um sistema de transporte público super prático e utilizado, sabe? Sei que tiraria todo o propósito do título, mas se afastar de carros talvez ajudasse a salvar o livro. Talvez, mas as chances não são grandes.
Não acontece grande coisa mesmo, dá para resumir o livro em algumas linhas, mas a ideia da história é a melhor parte dela. Acho que devia ter sido reescrita com uma linguagem mais natural e menos formal, ainda mais quando (pelo menos pela capa e pela diagramação) o livro parece ter sido feito para um público mais jovem, mais YA mesmo. O fato é que não tem enredo para mais do que um conto, o que essa história era e devia ter continuado sendo, e não teve desenvolvimento ou adaptação para um romance suficiente.
Ainda vou continuar apoiando a editora loucamente, porque ela é maravilhosa e exatamente do tipo de coisa que me dá esperanças para a literatura nacional, mas esse livro infelizmente deixou muito a desejar. Eu nem esperava tanto dele, mas estou extremamente decepcionada e incomodada. Queria que pelo menos fosse fofo, leve e romântico, mas foi o oposto. Pesado, chato e sem sal.