Tatiana.Junger 28/05/2021
Os vazios de uma jovem na Barcelona pós guerra civil
Andrea, a personagem principal da trama, chega em Barcelona, no período imediatamente após o final da guerra civil espanhola, como órfã, para viver na casa da avó, na Rua Aribau, após o falecimento do avô, com seus tios e alguns agregados, e lá frequentar a universidade. Sob essa premissa, o enredo conta duas histórias: uma explícita e uma implícita.
A história explícita é a de amadurecimento de uma jovem garota no final de sua adolescência, que devaneia sobre família, amores e amizades com pieguice e irrealismo, em meio a uma trama novelesca que quebra suas expectativas da vida e coloca em xeque a concepção binária que comumente temos das pessoas, porque os acontecimentos se provam diferentes do que inicialmente parecem e as personagens todas se revelam bastante complexas e imprevisíveis.
A história implícita é da Espanha - mais precisamente, da Barcelona - pós guerra civil, impregnada de sequelas daquele evento, com notoriedade a fome. A fome é muito marcante na narrativa, porque Andrea é a narradora - e ela tinha fome. Mas outros aspectos pós-guerra são notáveis, como o aspecto sombrio da cidade, o medo das pessoas, a tristeza, a decadência das famílias que sentiam o vazio das perdas, e a desigualdade social, dentre aqueles que sofreram os impactos da guerra e aqueles que não só passaram ilesos, como lograram lucrar com ela.
O título é adequado, porque o "nada" é a tônica da narrativa. Em Barcelona, a protagonista não realizou nada do que esperava; na casa da rua Aribau, não encontrou nada do que dali lembrava. Ela mesmo disse: "partia agora sem ter conhecido nada do que confusamente esperava: a vida em sua plenitude, a alegria, o interesse profundo, o amor. Da casa da rua Aribau não levava nada. Ao menos é o que eu pensava na época".
A leitura, dividida em três partes, começou e terminou muito bem, porque tanto na primeira parte quanto na terceira esse entrelace entre história explícita e história implícita me pareceu mais equilibrado e perceptível. A segunda parte perdeu fôlego, por dar maior palco à história explícita, com poucas deixas à história implícita, e, ao focar na dinâmica da Andrea com seus amigos, em partes parecia um novelão adolescente. Mas ainda sim interessante, porque a escrita é poética e sensível.
Obs.: para mim essa foi uma leitura relativamente lenta, mas minha filhotinha de pastor devorou - literalmente...