O conto da aia

O conto da aia Margaret Atwood




Resenhas - A história da aia


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amandacarmor 05/07/2020

Nolite de basterds carborundorum
Margaret Atwood nos leva a uma viagem em um universo distópico que, apesar do aspecto fantasioso que esse conceito talvez pressuponha, nos permite encontrar diversas problemáticas observáveis nas sociedades atuais, algumas em maior ou menor intensidade que outras.
Apesar de que possa parecer apresentar uma mudança completamente radical nas estruturas sociais e governamentais, o livro também destaca que regimes autocráticos não criam novas crenças, ideologias ou costumes, mas sim salientam aqueles que já existem, nos fazendo refletir sobre um disfarce que muitas vezes um modelo de governo democrata assume para continuar perpetuando preconceitos e desigualdades.
Ao apresentar a transição - vale lembrar que a mesma foi inspirada em acontecimentos reais, a exemplo da Revolução Iraniana - de um Estados Unidos pré-Gilead em certa medida muito progressista e liberal, em que as mulheres aparentemente avançam para uma gradual e relativa igualdade em relação aos homens, para uma sociedade de completa subjugação e usufruto deliberado das mentes e dos corpos das mesmas, Margaret nos atenta para a constatação de que, parafraseando Ângela Davis, a liberdade é uma luta constante.
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Ladyce 01/10/2017

Tenho uma longa história com O conto da aia. Lá no final da década de 1980, quando ainda morava fora do Brasil, comprei esse livro em inglês. Tentei lê-lo uma vez e não consegui levar a leitura avante. Mudei-me para o Brasil em 2002 e o livro veio comigo, junto a toda a biblioteca da casa, somos dois dedicados às humanidades, coisa que colabora imensamente para acumulação de livros. Aqui tentei ler de novo, porque tinha amigos que insistiam que eu o fizesse. Duas tentativas. E não consegui levar a leitura adiante. Sete anos depois, saí de um apartamento grande para um menor e sacrifiquei parte dos livros. Lá foi ele, sem culpa. Eventualmente achei um exemplar, no sebo, em português e tentei de novo. Nada. Doei-o para o camelô de livros usados do meu bairro (moro próximo à PUC, aqui os camelôs vendem livros). Passaram-se os anos e meu grupo de leitura decide que este seria o livro na berlinda em outubro de 2017, já que há uma série na televisão baseada em seu enredo. Comprei em inglês no Kindle para que eu e meu marido pudéssemos ler e para que não ocupasse mais lugar nenhum na minha moradia. Finalmente, sob coerção, fui do início ao fim. E para a discussão de grupo, peguei emprestado um exemplar em português e passei horas tentando achar as frases que mais me impressionaram para podermos todos achar no texto durante a discussão. Resultado: li. Achei que é um livro importante de ler. Acredito que toda mulher deva lê-lo. Vou recomendar às minhas sobrinhas que o façam. Mas confesso não tive prazer nenhum em degustá-lo. Margaret Atwood que me perdoe.

Ainda estou sob o impacto da leitura. E muito próxima do texto para realmente poder analisá-lo. É a obra mais misoginista que encontrei até hoje. É de arrepiar uma leitora. Mas talvez as citações possam falar por si mesmas. Um livro como esse já foi chamado de ficção científica. Hoje é mais comum falarmos de ficção distópica. Ou seja, ficção cuja trama, situada em um futuro não muito longínquo, mostra uma realidade repleta de privações, com futuro desesperador e opressivo. Trata-se da história da República de Gilead dominada por uma seita religiosa radical. Nessa sociedade mulheres têm duas únicas funções: procriar e ser de uso para homens. As mulheres também não aprendem a ler. Na verdade o conhecimento é privilégio de poucos: “Não existem mais revistas, não existem mais filmes …” [34]. As que não conseguem engravidar são consideradas dissidentes e levadas à morte. A orelha do livro registra que essa é a realidade no século XXI. Essa visão sombria, com conotações apocalípticas é sufocante e permeia toda a obra, transformando-a numa gigantesca aventura asfixiante. Barbaridades diversas são cometidas através do tempo. Já na primeira página a autora estabelece sutilmente o clima de ansiedade: “Lembro-me daquele anseio, por alguma coisa que estava sempre a ponto de acontecer e que nunca era a mesma…” [11].

Há horas em que esse mundo parece particularmente medieval, talvez pela crudeza dos eventos, talvez pelas limitações impostas aos habitantes de Gilead. Essa referência à Idade Média também é sugerida por Margaret Atwood nas entrelinhas. Nesta sociedade das massas comandadas como robôs há poucafé ou expectativa de uma vida melhor. As pessoas não têm a sensação de poder: “Éramos as pessoas que não estavam nos jornais. Vivíamos nos espaços brancos não preenchidos nas margens da matéria impressa. Isso nos dava mais liberdade.” [73] Nesta imagem, há, por exemplo, uma direta referência às ilustrações de manuscritos medievais, onde nas margens encontramos desenhos engraçados, animais diversos, pessoas nas tarefas mundanas, frades e cavaleiros enroscados em videiras floridas. Nas margens tudo era válido. Há muito simbolismo na narrativa algo que também remete aos textos medievais herméticos. Além disso, os nomes de mulheres Offred, Offglen, [Of Fred; Of Glen] são semelhantes a denominações medievais em que o “dono” daquela pessoa é mencionado no nome de batismo, fato até hoje reminiscente em nomes nórdicos e russos: Adamson, Stephenson [filho de Adam, filho de Stephen] ou Kimmeldottir [filha de Kimmel] por exemplo. Mais uma maneira sutil de acabar com a individualidade feminina.

A tensão emocional aparece quando há lembranças da vida anterior, e sonhos de como poderia ser diferente. Se todos estivessem robotizados, nada aconteceria. Mas é agonizante para o leitor, se colocar, como se coloca nessa narrativa em primeira pessoa, no lugar de quem tem flashes de memória de um mundo mais digno. “Eu gostaria que esta história fosse diferente. Gostaria que fosse mais civilizada. Gostaria que me mostrasse sob uma luz melhor, se não mais feliz, pelo menos mais ativa, menos hesitante, menos distraída por trivialidades. Gostaria que tivesse mais forma.Gostaria que fosse sobre o amor, ou sobre súbitas tomadas de consciência importantes para a vida da gente, ou mesmo sobre pores-do-sol, passarinhos, temporais e neve.” [317] Que tristeza! Que agonia!

O conto da aia é uma história de terror, muito pior do que qualquer livro de Stephen King. Muito mais misterioso e estranho do que os contos de Edgar Allan Poe. Há uma parte de mim que acredita que só uma mulher poderia ter escrito esse mundo aterrorizante da política de reprodução. É um livro cruel. O desespero dessas mulheres que procuram entender o mundo em que vivem é grande: “Inalo o cheiro do sabão, o cheiro desinfetante, e fico parada no banheiro branco, ouvindo os sons distantes de água correndo, de descargas de vasos sanitários sendo puxadas. De uma maneira estranha sinto-me confortada, em casa. Há algo tranquilizador com relação a vasos sanitários. Pelo menos as funções corporais permanecem democráticas. Todo mundo caga,…” [301]

Se gostei da leitura? Não. Ela escreve bem? Sim, muito bem. É um livro que deve ser lido? Sim. Você o recomendaria? Para todas as mulheres.
Wagner 01/10/2017minha estante
Saudações, carissima Ladyce.
Começando Outubro com uma resenha magnífica. Parabéns.


Vinha 02/10/2017minha estante
Amiga, traduziu minhas sensações ao ler esse livro! Ótima resenha. Saudades!


Isil 02/10/2017minha estante
Que resenha formidável! Grata pela sinceridade. E por curiosidade: já leu alguma outra obra (em prosa ou poesia, em português ou inglês) da Margaret Atwood?


Julia 03/10/2017minha estante
Senti a mesma coisa, que era um livro bom e importante, mas nenhum prazer em ler. Achei também que não era muito futurista, o que ela descreveu parece muito com a vida das mulheres que vivem sob o talibã, e é o que alguns evangélicos estão tentando concretizar no Brasil (eu disse alguns e não todos)


Ladyce 03/10/2017minha estante
Obrigada Wagner.


Ladyce 03/10/2017minha estante
Vinha, que bom que tivemos as mesmas impressões!


Ladyce 03/10/2017minha estante
Isil, muito obrigada. Não ainda não li nada mais dela.


Isil 06/10/2017minha estante
Obrigada pela resposta, Ladyce! Eu li, anos atrás, "O lago sagrado", mas creio ter sido "muito" pra mim na época (era ainda adolescente). Também tive a oportunidade de ler alguns poemas dela, dos quais gostei muito.




Duda 09/05/2021

O conto da aia
Apesar da leitura ser fluída, levei um tempo para finalizar. Quando paro para pensar em como o mundo de June chegou aquele ponto. É assustador. No início é como se ela esquecesse que existiu outra vida, onde tudo era bem diferente, então ela vai nos contando sua história aos poucos. Ao passar por um lugar em que era outra coisa antes, o que traz lembranças passadas.
Rê Farias 09/05/2021minha estante
Já assistiu a série?


Duda 09/05/2021minha estante
Ainda não, mas vou assistir




João Luiz CF 17/04/2021

Leitura pesada, mas necessária...
Uma história maçante, pesada e arrastada em quase todo o decorrer do livro, mas que trás várias mensagens em suas entrelinhas.
Confesso que não abandonei o livro porque já tinha ouvido muitos comentários sobre ele. Eu queria, então, ter a minha própria visão do assunto.
No final, temos um olhar exterior bem esclarecedor, que aborda a realidade vivida no livro. Só então temos algumas - ressalto o "algumas" - respostas, que lançam alguma luz na escuridão de nossas dúvidas e questionamentos.
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Juliana 20/11/2020

Recomendo
Muito, muito boa a leitura, triste e revoltante também, recomendo a leitura.
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Cris 10/07/2020

Muita vontade de quero mais
Um livro muito legal, com uma narrativa um pouco diferente, por vezes parece entrecortada no tempo da história (o que dá pra entender no final) mas deixa muito gostinho de quero mais!!
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Mona 21/03/2021

Nolite te bastardes carborundorum.
Ao iniciar essa leitura, apesar de saber mais ou menos do que se tratava, não imaginava o quanto essa história seria importante para mim.
Por ser mulher, foi bem difícil não sentir a dor das mulheres representadas na obra. Esse livro é difícil, doloroso e sufocante, mas é simplesmente sensacional... Com o passar das páginas eu fiquei cada vez mais curiosa para saber o que viria a seguir, contudo, a autora não nos apresenta muitas respostas.
Me vi a todo momento completamente mergulhada na história questionando qual destino seria o mais suportável.
O mais impressionante é que as desculpas para fazer o que fizeram estavam na Bíblia Sagrada... E querendo ou não, não é tão surpreende, afinal não
seria a primeira vez que grupos religiosos radicais usam a fé para oprimir, sempre houveram pessoa para interpretar a Bíblia ao pé da letra... Terminei o livro pensando que, na verdade, a situação encontrada no livro poderia ser real.
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anathebooks 16/07/2021

Amei
" Lamento que haja tanto sofrimento nesta história. Lamento que esteja em fragmentos, com um corpo apanhado num fogo cruzado ou desfeito em pedaços á forças. Mas não há nada que eu possa fazer para mudá-la. "

Eu nem sei como colocar em palavras o quanto eu amei esse livro. Foi uma leitura difícil em certos momentos ( meio lenta também ), mas eu amei. Estou ansiosa para comprar o próximo livro ( Os Testamentos ) para poder dá continuidade nessa história ( e saber um pouco mais de Nick ), pois esse final me deixou ansiosa.
Kess 16/07/2021minha estante
Os testamentos conta a história após 15 anos desse evento! É tão bom quanto este!




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Malu 28/12/2021

O conto da aia
É inconcebível perder direitos na sociedade na qual vivemos. Mas... e se acontecesse? Em Gilead, as mulheres perderam o direito de ler, de trabalhar, de ter dinheiro, entre outras coisas... e tudo isso começa pela ideia de que as mulheres devem ficar onde é seu lugar.. em casa, cuidando dos filhos, do marido, etc...
Além disso, aqueles casais que não podem ter filhos, e são suficientemente poderosos, têm suas aias... mulheres que serão barrigas de aluguel, porém não com inseminação artificial...
Cada pedaço dessa história é insano e cruel.. e mais insano ainda é saber que existem pessoas vivendo em regimes totalitários, em patriarcados muito parecidos com isso, no mundo real..
Livro necessário... a série de TV, ainda melhor... recomendo
Cleuzita 28/12/2021minha estante
Você resumiu bem e concordo com tudo. Tudo isso começou, no livro, quando estado e religião se misturaram. Tenho medo dos fundamentalistas religiosos, de qualquer vertente, se infiltrado na política.




Ian 05/04/2021

Uma distopia aterrorizante.
Um ótimo livro, porém, em alguns momentos se torna massante e de pouca efetividade de fatos.
luquescunha 05/04/2021minha estante
Concordo. O segundo eu gostei MUITO mais


Ian 05/04/2021minha estante
Preciso lê-lo então kkk




Mariwebs 02/10/2023

O que achei:
O conto da Aia, Margaret Atwood 5/5
É um livro denso
Muito denso
Eu odiei no início
Na verdade até umas 200 pag ainda estava xingando a narrativa
Mas sabe que é uma história muito maior que só isso, tipo, se passa num regime totalitarista teocrático onde as mulheres não são nada além de posse dos homens, e nessa distopia ocorreram muitos problemas com dsts e com radiação que fizeram muitas mulheres (e homens também) se tornarem inferteis, e a principal é uma mulher fértil, considerada uma Aia, que precisa procriar pra família que ela pertencer, ou melhor, pro comandante qual ela pertence. Digo tudo isso porque eu comecei ler sem NENHUMA informação sobre o livro e fiquei sem entender quem ela era o que tava fazendo lá porque as coisas tavam daquele jeito (leiam sinopses, eu não tenho esse costume e quebrei a cara).
não sei se existe uma lista de 100 livros pra ler antes de morrer, mas se existe COM TODA CERTEZA O conto da Aia está inserido. É um livro muito importante que precisa ser lido, porque embora seja uma distopia, não é irreal.
E acho que todo mundo deveria ler.
Maria Martini 02/10/2023minha estante
Está em várias listas de melhores livros e na minha TBR




Mai_peereira 25/11/2020

Demorei um pouco para finalizar a leitura,devido ao fato de querer extrair o máximo de conteúdo.
Uma distopia envolvente, temos muito a se aprender com ele
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Sally.Rosalin 17/07/2021

O conto da Aia
Bom, eu gosto de distopia. Confesso que a temática é quase profética na onda conservadora que assola a política atual brasileira. A autora, Margaret Atwood, publicou seu livro nos anos 80 e sua obra veio à tona novamente com o sucesso da série, que ainda não assisti. Vale ressaltar que foi o livro de junho do grupo de leitura Leia Mulheres Petrópolis.

A nação dos EUA após passar por problemas de cunho ambientais, políticos, morais adentra em uma ditadura teocrática baseada em uma autoritarismo puritano. Lembrei muito da obra A Letra Escarlate de Nathaniel Hawthorne (Indico!!!). Mulheres são submetidas aos padrões embasados no Livro Sagrado cristão. Doutrinadas por mulheres mais velhas, são preparadas para fornecer o útero às mulheres estéreis casadas com comandantes. São as Aias.

Essas mulheres perderam a autonomia sobre o próprio dinheiro, emprego e o próprio corpo. Seus úteros servem ao Estado. Recebem novos nomes e suas escolhas são definidas pela verticalidade do poder, pois uma das causas do fracasso da antiga sociedade, segundo o Estado, foi o excesso de escolhas que as mulheres conquistaram. Tendo como causa maior a descendência e não o matrimônio romântico, as esposas dos comandantes participam dos ritos de fecundação seguindo o Velho Testamento (tão atemporal):

"Raquel disse: dá-me filhos ou senão eu morro... eis aqui a minha serva, entra nela para que tenha filhos sobre os meus joelhos e eu, assim receba filhas por ela".

Claro, que, alguns cidadãos de bem quebram as regras e agem na clandestinidade. Enquanto isso, nossa protagonista procura resistir lembrando do seu passado e da sua identidade, já que o destino das que não se conformam é a substituição ou a morte. Apenas seus úteros tem serventia e nada mais.

Ainda que seja uma ficção, o desejo do poder vertical é regredir em qualquer conquista do sexo feminino, submetendo a mulher ao modelo conservador do modelo patriarcal. Simples assim.

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