O conto da aia

O conto da aia Margaret Atwood




Resenhas - A história da aia


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Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 16/01/2017

Sugestão de Leitura
Precisei respirar fundo e me reorganizar para escrever este post, afinal, tenho diante de mim a tarefa de escrever sobre um dos melhores livros que já li (e já li muito ao longo da minha vida). Margaret Atwood já havia conquistado meu coração com seu maravilho "Oryx e Crake" e, agora, depois de ler "O Conto da Aia", ela definitivamente tornou-se uma das minhas escritoras preferidas.

"O Conto da Aia", publicado em 1985 (o ano em que nasci, aliás), é categorizado como distopia e como ficção especulativa. Como pano de fundo da estória, temos uma Nova Inglaterra de um futuro não muito distante ao nosso, onde o Governo é totalitário e teocrata. Ou seja, o sistema político não tem limites nem regulação e detém o poder de ser cruel e opressor; e, além disso, Deus é a fonte de toda a autoridade (e versículos da Bíblia são mencionados com força de Lei). Por conta disso, a região que seria a Nova Inglaterra nos EUA foi renomeada para Gilead, uma cidade bíblica.


Este contexto do Governo levou a uma total e completa dominação das mulheres. Porém, Atwood escreve em um estilo muito próprio, pois não fornece todas as informações ao leitor logo de cara. Assim como em "Oryx e Crake", muitas pistas são jogadas na narrativa e o leitor precisa juntar as peças de um quebra-cabeça que só se forma inteiramente na última página do livro - literalmente.

A estória é narrada em primeira pessoa por Offred. As mulheres foram destituídas de seus nomes reais e são nomeadas de acordo com o Comandante para qual trabalham. Neste caso, Offred significa Of Fred, ou "Do Fred", como se a mulher fosse apenas uma propriedade, um bem, e não um indivíduo. Offred é a Aia que dá nome ao livro e conta sua estória.

Gilead começou após um ataque terrorista religioso e, no caos que se seguiu, bombas atômicas deixaram as mulheres infertéis por causa da radiação. As poucas mulheres que ainda poderiam procriar foram escaladas como Aias e sua única função é engravidar dos Comandantes e re-popular o país. Elas usam vermelho, em contraponto às Esposas dos Comandantes, que usam azul e são consideradas puras, já que não tem relações sexuais. Assim, a Aia é obrigada a ter relações sexuais com o Comandante, que são assistidas e monitoradas pelas Esposas. E, o pior ainda está por vir: estupros são permitidos e incentivados.

"Evito olhar para baixo, para meu corpo, não tanto porque seja vergonhoso ou impudico mas porque não quero vê-lo. Não quero olhar para alguma coisa que me determine tão completamente." (O Conto da Aia, Margaret Atwood).

Offred é da primeira geração de Aias deste novo governo. Por isso, ela se lembra, constantemente, da sua vida antes do ataque terrorista e sofre muito com a saudade de sua filha e de seu marido, Luke. Offred era amante de Luke e este se divorciou para casar-se com ela. Porém, como o governo é teocrata e a religião não reconhece o divórcio, eles são considerados impuros e separados para sempre e a filha deles é considerada bastarda. Como as mulheres, agora, são meros objetos, elas são destituídas de tudo: dinheiro, roupas, posses, creme hidratante (há uma parte muito tocante sobre isso), livre arbítrio e autonomia. É um cenário extremamente opressor e melancólico.

Todos os relacionamentos são completamente esvaziados de sentimento. As Aias não podem interagir com ninguém, pois precisam manter-se sãs e salvas para gerarem filhos. As Esposas guardam, secretamente, uma inveja pelas Aias, pois elas ainda podem ter filhos. As Marthas, que são as governantas das casas, acham as Aias "umas vagabundas". E os homens são retratados como seres distantes e inalcançáveis, que governam e determinam o mundo. Este vazio permeia o livro todo e mesmo as relações sexuais são completamente mecânicas e automáticas.

"Quando se está em condições de vida reduzidas você tem que acreditar em todo tipo de coisas. Agora acredito em transmissão de pensamento, vibrações no éter, aquele tipo de bobagem. Não costumava acreditar." (O Conto da Aia, Margaret Atwood).

Além da filha perdida e Luke (que não se sabe se está morto ou vivo), Offred relaciona-se com Moira, que foi educada para ser Aia junto com ela. Subentende-se que Moira era lésbica e, por isso, foi perseguida pelo governo e expulsa de Gilead. Além de Moira, há Ofglen, outra Aia, e Nick, que terão um grande papel a ser desempenhado no futuro de Offred e que não detalharei para não dar spoilers.

Este livro me deu embrulho no estômago do começo ao fim. Todos os meus medos, enquanto mulher, estão representados nesta obra. Esta obra reúne tudo aquilo que o feminismo combate e demonstra porque precisamos nos unir para evitar que esta sociedade fictícia aconteça. Me senti anulada e violada tanto quanto Offred e, ao término da leitura, chorei. Um choro que saiu preso, de uma vez só, pela angústia de ser mulher, pura e simplesmente. Atwood escreve emocionalmente, profundamente, em um estilo poético e forte muito parecido a Virgínia Woolf, o que não deixou nada mais fácil de digerir.

site: http://perplexidadesilencio.blogspot.com.br/2017/01/sugestao-de-leitura-o-conto-da-aia-de.html
Karen 12/04/2017minha estante
Adorei sua resenha, resumiu bem o que senti ao ler o livro. Só um adendo, tem uma parte, a do casamento das filhas ( que é nojento pois fala que muitas não tem mais que 14 anos) que elas mantém relações sexuais sim, e que os Anjos poderam solicitar Aias caso as esposas não engravidem.


Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 13/04/2017minha estante
Ah verdade, Karen, tem razão! Tem mesmo!


Daniel Rocha 30/04/2018minha estante
Show a tua resenha. Soube deste livro agora por causa deste vídeo: https://www.facebook.com/TED/videos/1987984961214700/UzpfSTEwMDAwNjc0MDQwNjIxMToyMTE3MzM0NTU1MTY3ODcx/?id=100006740406211


Alexandre.Narcelli 04/08/2018minha estante
Na verdade, não foram especificamente bombas atômicas que deixaram as mulheres inférteis, foi um conjunto de fatores. Bem como nada indica que as esposas não tenham relações sexuais. Estupros também não são incentivados, visto que o regime de Gilead é teocrático e bem extremista. Inclusive, a punição para estupros é a morte. Não li o resto da resenha, mas acho que está um pouco desinformativa...


Elineuza.Crescenci 31/08/2018minha estante
Perfeita sua resenha. Amando a leitura e impactada pela realidade descrita.


VIRGINIA 18/02/2020minha estante
Há mais de um ano tento ler, paro e depois recomeço, estes embrulhos no estômago que sentisse é algo próximo da minha angústia. Mas mesmo assim não pretendo desistir, um dia lerei completo , assim como Os Testamentos, ambos estão na meta deste ano.


Kaeferw 21/03/2020minha estante
Onde aperta pra ler eu ñ consigo


Karen 21/03/2020minha estante
Aqui não dá para ler, é para organizar as leituras . Esse livro você encontra no site lelivros


Alan.Nina 06/05/2020minha estante
Eu entendo e admiro muito todo esse seu sentimento. Mas o livro não me pegou tanto, talvez pelo fato de não vivenciar o que vcs mulheres passam, mas com certeza algumas passagens ficarão gravadas. Ainda tenho muito a aprender sobre feminismo, vc me indicaria algum? Abraços, bela resenha!


Profa..Moreira 19/05/2020minha estante
Eu já queria muito ler esse livro ainda esse ano. Mas agora com essa resenha quero ler já!


val 20/05/2020minha estante
Seu texto me fez ter vontade de ler a obra. Parabéns!


luiza barreto 30/05/2020minha estante
Estou com medo de a leitura ser com o linguajar muito rebuscado, mas vou começar a ler! Depois da resenha, fiquei mais curiosa ainda, já que não consegui assistir a série pois achei bem parada


Paulo.Victor 31/05/2020minha estante
Um ótimo livro, uma conclusão ótima e b surpreendente


Ewerthon.Gomes 16/06/2020minha estante
Irei ler esse clássico em breve


Urraca 27/06/2020minha estante
Uma amiga minha recomendou esse livro, mas ainda não tive coragem de ler. Só pelas resenhas que vejo, já me dá um frio na espinha. Pior é imaginar que esse enredo não é tão ficcional assim.


NathyBean 01/07/2020minha estante
Urraca. Eu estou lendo, e comecei acho que ontem (escrevi tudo oq achei aqui aliás), e eu mesma, não me embrulhei lendo. Na vdd me decepcionei bastante.
Tenta ler de pouco em pouco, sem se sentir sobrecarregado(a). Quem sabe vc n se emocione, ou consiga ter uma boa análise aos dias atuais! Não perca essa chance.


Urraca 01/07/2020minha estante
Obrigada!


Mel 27/08/2020minha estante
A leitura e pesada , digo intensa ?? estou muito curiosa para comprar o livro é ler , mas apreensiva !!


Gi 11/09/2020minha estante
É um livro muito interessante. Transmite a sensação de você estar amarrada e amordaçada, quando se consegue gritar não é ouvida mesmo que os homens estejam ao lado. É a demonstração de machismo religioso em sua brutalidade unida com hipocrisia.
Um livro muito bem escrito. É embora ficção, a compatibilidade com eventuais acontecimentos me fizeram crer que o livro seria quase uma previsão de futuro.


cristiane.pires.manfré 29/09/2020minha estante
Sua resenha me fez querer ler ainda mais !! Parabéns


NathyBean 17/10/2020minha estante
Verdade Gi!


sabrina.meyrellis 30/12/2020minha estante
Adorei muito a sua resenha! Este livro realmente traz muita coisa que infelizmente nao está longe de muitas realidades de nós mulheres. Muita coisa embrulha o estômago. Livro ótimo. Estou querendo ler a sequência dele.


Lau 03/01/2021minha estante
Eu não gostei da leitura, pra mim foi um dos piores que já li. Triste... queria ter gostado ):


Lizzy 15/05/2021minha estante
Melhor resenha! Destrinchou tudo sem dar um spoiler. Parabéns!???


Emile.Rodrigues 01/07/2021minha estante
esse livro é definitivamente o meu favorito da vida e a sequência dele (os testamentos) consegue ser ainda mais incrível. não tem um dia q nao pense sobre essa leitura!


iris 15/07/2021minha estante
sua resenha me ajudou a entender alguns pontos que eu não peguei de primeira, obrigada e parabéns!


Moon ð 28/07/2021minha estante
Era o que eu precisava pra comprar o livro


Julli. 06/11/2021minha estante
Muito boa a sua resenha! Ainda não terminei a leitura do livro, mas já indico para todas as mulheres.


Jorge Tadeu 22/12/2021minha estante
Uma das melhores resenhas que já li. Parabéns ?? estou lendo esse livro agora e tb estou achando um dos melhores que já li.


Ana Cláudia 06/03/2022minha estante
Essa resenha é perfeita ??


Ruth 24/08/2022minha estante
É um livro bem escrito e chocante. Mas não me fascinou. Não sei se leria outro livro dessa autora.


Valdier 01/12/2022minha estante
O melhor livro do mundo. Amo


Ariane 04/01/2023minha estante
Amei sua resenha, estou tentando ler pela segunda vez, mas agora estou mais animada, acho que estou no momento certo. Mas é um livro difícil de ler, que realmente mexe com os sentimentos das mulheres!!!


Ariane 04/01/2023minha estante
Amei sua resenha, estou tentando ler pela segunda vez, mas agora estou mais animada, acho que estou no momento certo. Mas é um livro difícil de ler, que realmente mexe com os sentimentos das mulheres!!!


Juliana 29/01/2023minha estante
Estou na página 173, mas estou achando o livro muito chato, não dá vontade de ir para o próximo capítulo. Parece que a história não anda, é um amontoado de recortes de impressões pessoais da personagem, que não têm uma linearidade, além das descrições e detalhamentos infinitos que não agregam na história. Gosto de leituras mais diretas, mais fluídas. Espero que melhore até o final do livro.


Ana Cláudia 29/01/2023minha estante
Vai melhorar! Leia até o final. Vale a pena!


Daniela684 31/05/2023minha estante
Leitura longa e cansativa, mas história fantástica


Daniel1246 30/08/2023minha estante
Interessante


Joice.Andrade 23/01/2024minha estante
Estou tendo a mesma sensação, resenha perfeita, parabéns ??




Jorge 08/10/2020

Para refletir.
"A morte é uma bela mulher, com asas e um seio quase nu; ou será que essa é a Vitória?"
Essa é uma das muitas frase nesse livro que me marcaram.

É um livro fácil ? Não, na verdade achei muito arrastado ao ponto de pensar em desistir da leitura, mas resolvi insistir e de certa forma valeu a pena, pois da metade até o final a narrativa cresceu. E o final ? Ah o final, é daqueles que eu fiquei procurando página, pois não podia aceitar que terminasse aberto daquele jeito, apesar de posteriormente ter as notas históricas, que em forma de palestra explicava alguns fatos do livro.

Por fim, valeu a pena ? Sim, valeu, mas só cheguei a essa conclusão depois de pensar bastante e tbm de conversar sobre, pois consegui ver que muito do que é narrado ali estamos vivendo hj, principalmente no quesito manipulação.

Recomendo ? Sim, recomendo, mas tem que ir com a mente aberta para ver tudo que está acontecendo ali e tbm insistir caso queira desistir.
Dani 08/10/2020minha estante
Livro maravilhoso... leia ?Os testamentos?, acho que vai gostar!


Alyne.Queiroz 08/10/2020minha estante
Adorei a resenha, muito honesta, está na minha lista de futuras leituras e é bom já saber que não é uma leitura tão fácil porque está entre os queridinhos do momento e se não estamos preparados a decepção é maior


Perrelli 09/10/2020minha estante
Achei muito massa a resenha, extremamente sincera. Me deixou instigado para ler o livro, estou com ele na minha "wishlist" a algum tempo e ficava com medo de de me decepcionar com a leitura, pois todos diziam que a narrativa era meio pesada e tal, como não havia assistido a serie nem mesmo tive nenhum spoiler ficava tentado a ler mas, sempre com duvidas.


Jeferson.Gomes 09/10/2020minha estante
Já assistiu a série? Se não, veja.


Jorge 11/10/2020minha estante
Dani em breve lerei, estou curioso para saber o que vem pela frente..

Isso Alyne, vai preparada pq aí é tranquilo.

Perrelli acho que vale a pena vc da uma chance para esse livro, só ir lendo tranquilo que dá tudo certo kk

Assisti 3 episódios e tô achando ótima, tá muito boa.


Sandra Rosa 12/10/2020minha estante
Troca comigo


MariaTeresa 24/10/2020minha estante
Ótima resenha, parabéns! Realmente é uma leitura difícil e eu só consegui ler depois de assistir a série. Vc já viu?




Pam 04/11/2021

?Nolite te bastardes carborundorum.?
Já faz um tempo que li esse livro, porém, assisti a série recentemente e por isso senti vontade de falar sobre ele.

A história se passa no regime de Gilead, governo opressor implantado após um grupo radical subir ao poder. Com a justificativa de melhorar a vida da população e possibilitar o crescimento dela, após as baixas taxas de natalidade devido a uma grande guerra nuclear, as mulheres acabam perdendo os seus direitos e sendo subjugadas.

Com desenvolvimento distópico excelente, severas críticas a nossa organização social e repleto de reflexões pessoais, a Margaret conseguiu fazer um trabalho IMPECÁVEL.

É bem diferente das distopias que estou acostumada a ler, pois nelas sempre há uma luz no fim do túnel e um herói ou heroína dispostos a destruir o sistema a qualquer custo. Mas esse não é um livro que nos trás esperança e sim um alerta.

Todo capítulo trás um questionamento e um sentimento diferente. Depois de meses, ainda estou aqui tentando processar o quanto essa narrativa me marcou.
Lembro que me surpreendi muito com o quanto ele é descritivo e nada cansativo, embora seja perturbador.

E vai por mim, a série consegue ser tão boa quanto o livro!
Cleber 06/11/2021minha estante
Também estou adorando a série, nela conseguiram aprofundar mais sobre os personagens e dá p entender melhor o q está acontecendo


Pam 06/11/2021minha estante
Verdade Cleber! Achei esse um ponto bem positivo na série.


amandafffdo 11/07/2022minha estante
Já leu o outro livro? Dos testamentos..


Pam 12/07/2022minha estante
Ainda não li, mas pretendo ler logo




Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

O conto da aia, Margaret Atwood - Nota 10/10
Embora este livro tenha sido escrito em 1985, ele foi um dos mais comentados em 2017. Antes de começar a ler, já tinha escutado opiniões diversas, então não sabia muito o que esperar. No entanto, depois de terminada a leitura, posso afirmar que a obra é excelente. Atwood conseguiu criar um romance distópico muito interessante, trazendo questionamentos atuais e polêmicos. A narrativa se passa em Gilead, um estado teocrático, machista e totalitário, em que a religião dita as regras de forma extremamente rígida e as mulheres são transformadas em “objetos”, com funções previamente designadas. Offred, a protagonista, é uma “aia” e, portanto, sua existência está atrelada à mera função de procriação. As “aias” são um verdadeiro útero para as elites ou, como a própria protagonista diz, “somos úteros de duas pernas, isso é tudo: receptáculos sagrados, cálices ambulantes”. A autora conseguiu explorar o psicológico da protagonista de uma forma muito inteligente, criando um verdadeiro contraste com o conservadorismo caraterístico dessa nova sociedade. São as emoções e pensamentos de alguém que vivia em uma sociedade livre como a nossa, mas que passou a se submeter a novos ideais e a uma nova forma de comportamento, constantemente controlado. A escrita também é bem fácil, rápida e instigante, com ótimas descrições dos locais em que se passa a história. Apesar da curiosidade por mais informações, Atwood consegue prender o leitor ao longo do livro, revelando os detalhes aos poucos. A título de curiosidade, o retorno da obra para a lista de mais vendidos se deu em grande parte pelo governo Trump, uma vez que muitos consideram essa sociedade distópica como uma possível previsão para o futuro dos EUA. Um livro chocante e, ao mesmo tempo, atual!

site: https://www.instagram.com/book.ster
Sandra Rosa 08/10/2020minha estante
Assustador




Fabio Shiva 18/07/2020

Atenção: "O Conto da Aia" não é um manual de instruções!
Por uma triste sincronicidade, terminei de ler “O Conto da Aia” na mesma semana em que o monumento a Mãe Gilda de Ogum, aqui em Itapuã, sofreu mais um vandalismo. O agressor, ao ser preso, disse que estava “cumprindo a vontade de Deus”. A leitura da apavorante narrativa de Margaret Atwood e a não menos apavorante notícia da depredação do monumento a Mãe Gilda sinalizam igualmente como boa parte do que chamamos de “religião”, na verdade, dedica-se prioritariamente a oprimir a mulher.

A história de Mãe Gilda é incomodamente simbólica. Ialorixá do Axé Abassá de Ogum, em Itapuã, teve seu terreiro invadido por membros da Assembleia de Deus, que a atacaram verbal e fisicamente, golpeando sua cabeça com uma Bíblia (!!!). Mãe Gilda ficou tão abalada que adoeceu. Meses depois, viu sua foto estampada no jornal da Igreja Universal, com a manchete: “macumbeiros charlatões lesam a vida e o bolso de clientes”. Teve um ataque cardíaco fulminante. Por conta disso, o dia de sua morte, 21 de janeiro, foi decretado como Dia de Combate à Intolerância Religiosa, com a inauguração do monumento no Abaeté.

Por incrível que pareça, a depredação dessa semana não foi a primeira: em 2018 o monumento sofreu violência semelhante. Esses ataques à efígie de bronze conseguem causar ainda mais perplexidade que as agressões praticadas contra a mulher de carne e osso. Serão realmente humanos esses corações que abrigam tanto ódio em nome de Deus? É evidente que as pessoas que cometeram esses desatinos devem sofrer de algum tipo de transtorno mental. Contudo cabe a pergunta: como é que pode haver religiões onde essas pessoas envenenadas pelo ódio se sentem em casa? Como é possível colocar o ódio em um altar e convencer alguém de que se está adorando a Deus?

É por isso que “O Conto da Aia” é tão assustador. O livro trata em sua essência de como um Estado totalitário pode se valer do patriotismo e da religião para justificar que as pessoas sejam privadas de seus direitos. Escrito em 1985 e vencedor de vários prêmios, o livro voltou a ser destaque em anos recentes, com a escalada de tipos como Trump e Bolsonaro ao poder. Pois o jogo que eles praticam é bem semelhante aos horrores descritos no livro: utilizar a xenofobia e a intolerância religiosa como forma de manipulação.

Contudo não se iluda quem queira considerar Bolsonaro, Trump e afins como monstros enganadores de pobres inocentes bem-intencionados. Eles não teriam poder algum se não encontrassem a conivência e cumplicidade daqueles que buscam na religião e no patriotismo uma justificativa para se sentirem melhores que os outros e, pior ainda, para negarem aos outros o direito de pensar e sentir de forma diferente.

Ao descrever cenas brutais que podem muito bem acontecer em um futuro próximo se não fizermos nada a respeito, Margaret Atwood nos ameaça com o dom da profecia. E enquanto houver pessoas que se consideram cristãs e patriotas apoiando seres como Bolsonaro e Trump, não podemos com segurança considerar “O Conto da Aia” como apenas uma horripilante ficção.

“Se acontecer de você ser homem, em qualquer tempo no futuro, e tiver chegado até aqui, por favor lembre-se: você nunca será submetido à tentação de sentir que tem de perdoar um homem como uma mulher.”
Margaret Atwood, “O Conto da Aia”

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/07/o-conto-da-aia-margaret-atwood.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Anelise 18/07/2020minha estante
Muito bom, Fabio!


Fabio Shiva 18/07/2020minha estante
Gratidão pelo comentário e por essa energia boa, Anelise!


Leonardo 18/07/2020minha estante
Muito legal! Recentemente terminei Os Testamentos, continuação desse. Recomento


Fabio Shiva 19/07/2020minha estante
Oi Leonardo, valeu pela dica! Pretendo ler.


Caio 27/07/2020minha estante
Excelente texto. Realmente vivemos tempos conturbados como sempre vivemos.


Viquin 08/12/2020minha estante
Desculpa, mas você colocou muitos assuntos externos, e não centralizou a estória em si.


Lages__ 09/07/2021minha estante
Incrível! Estou terminando de ler e é assustador como me parece algo possível de se acontecer em um futuro, infelizmente, não muito diatante.




Nowhere¿ 15/01/2022

Um dos melhores livros que já li na vida
Que livro perfeitooo, eu preciso ler urgentemente a continuação.
Apesar da escrita da autora ser mais poética e detalhada, a leitura foi fluída demais.
A narrativa me prendeu muito, eu não conseguia largar o livro, e os acontecimentos da história não deixaram ele se tornar chato.
Os capítulos não são grandes, e a autora não enrola com cenas desnecessárias, todos os acontecimentos são essenciais pra construção e evolução dos personagens e da história.
Um dos melhores romances distópicos que já li, tudo nele é magnífico, os personagens, os plots, a ambientação. Tive vários surtos lendo, fiquei nervosa, com raiva, triste...
As críticas que o livro traz são necessárias demais, e apesar de ter sido publicado em 1984, são bem atuais.
Os personagens são muito cativantes, me apeguei demais a protagonista e a Ofglen.
E que final foi esse?? Só me deixou com mais vontade de ler o próximo livro.
Indico muito, esse é aquele livro que deve ser lido por todo mundo.
Gatilhos: homofobia, misoginia, escravidão, racismo, estupro, suicídio, depressão, gravidez forçada, assassinato...
Bia 15/01/2022minha estante
Sou louca pra ler


Ivan 15/01/2022minha estante
Muito bom mesmo! Mas a continuação é ainda melhor!


Nowhere¿ 15/01/2022minha estante
@Ivan vi que não é narrada pela Offred, na continuação explica oq aconteceu com ela??


Ivan 15/01/2022minha estante
Sim, explica bem como tudo aconteceu, fica bem mais fácil de entender todo o contexto da história


Nowhere¿ 15/01/2022minha estante
@Ivan aaaa ainda bem, to ansiosa demaaais pra ler


Ivan 15/01/2022minha estante
No final do livro cheguei a ler menos por dia para não terminar a história rsrs. Tenho certeza que você vai adorar!




alynebz 28/12/2022

"Não deixe os bastardos te oprimirem"
Esse é um livro com uma história distópica muito interessante e ao mesmo tempo incomoda, que mostra uma sociedade em que muitas mulheres tiveram seus direitos retirados, e que a sua única função é procriar.

No início você se perde um pouco, são muitos cenários desconhecidos, - admito ter tido uma certa dificuldade - mas que com o avançar das páginas algumas dúvidas referentes a essa sociedade começam a ser esclarecidas. Como isso aconteceu? Por que teve esse regresso?
Pouco a pouco minhas dúvidas foram sanadas, mas ainda assim restaram algumas pontas soltas, e o final me deixou com a sensação de que as últimas páginas foram arrancadas!

O livro é diferente da série, mas ainda assim é muito bom, e com um pouco de paciência você consegue desfrutar da leitura.
Ja estou ansiosa para a continuação: "Os Testamentos".
comentários(0)comente



martinho.bia 10/02/2024

Uau!
Reli o livro com mais tranquilidade e sem correria e novamente fiquei com aquela sensação de não é possível que submeteram as pessoas a tanto sofrimento, angústias e humilhação. Classificaram as pessoas como objetos sem sentimentos ou emoções, tiraram delas toda a integridade e direito do livre árbitro.
Luiza 12/02/2024minha estante
E aí lembramos, dentre outras coisas, que houve um período exatamente igual na nossa história.


Cleber 17/02/2024minha estante
É triste lembrar que o livro é baseado em coisas que realmente aconteceram e continuam a acontecer no mundo. A continuação tbm é muito boa e achei até melhor




André Lucena 26/10/2021

Uma leitura "ok", nada de espetacular
Pensei bastante em uma nota justa para este livro, acho que 3 é o suficiente, nem mais nem menos.

Os mais de três meses que abandonei o livro pesaram bastante nesta nota. O livro no começo me empolgou zero, me desestimulou até com outras leituras. Nas primeiras 200 páginas nada de interessante acontece, mas o que mais me irritava era a maneira de escrever da Margaret Atwood. A pontuação é bastante confusa, a narrativa se mistura entre passado e presente do nada, sem mudança de parágrafo, o leitor que lute para se situar. Além disso, nenhum dos personagens tem carisma algum. Foi uma leitura bem difícil, não pela complexidade, é até fácil de compreender a história, mas pelo seu andamento lento e sem empolgação.

Agora falando dos pontos positivos: o livro causa a náusea desejada pela autora em alguns momentos, quando fazemos a associação da ficção com o machismo da vida real. Se não fosse a luta histórica das mulheres pelos seus direitos e igualdade (que lamentavelmente ainda está distante), é muito provável que poderíamos estar vivendo em uma sociedade parecida com a que se passa em Gilead (antigo Estados Unidos da América). Isso proporciona uma imensa reflexão do tanto que ainda é preciso mudar na sociedade, na forma que muitas mulheres ainda são vistas e tratadas.

Apesar da vagareza do livro em sua maioria, o final pareceu corrido, terminando de forma sem graça. Não me causou nenhuma vontade de ler o livro seguinte (talvez até compre e leia um dia, mas não está nas minhas prioridades).
Deisi 26/10/2021minha estante
Veja alias grace kkkk


André Lucena 26/10/2021minha estante
Pesquisei sobre, Deisi. Não conhecia a obra, vi que existe série baseada no livro, mas não me interessei em assistir nem em ler, vi nas resenhas que a leitura também é maçante, que a história não sai do canto. Deve ser uma característica da Margaret. Tem quem goste, mas eu sou muito ansioso, quando leio, leio, leio e nada acontece, me bate um desespero.


Deisi 26/10/2021minha estante
Entendo


Ell_Marcelle 27/10/2021minha estante
Bom que você já me poupou o trabalho de ler esse. Já vou tirar da lista.


André Lucena 27/10/2021minha estante
Elaíne, eu já tirei da minha lista de desejos daqui e da Amazon o livro que a autora escreveu, 35 anos depois, que dá sequência aos acontecimentos deste. Eu acho difícil voltar a ler alguma coisa da autora tão cedo. Fiquei decepcionado como um tema tão interessante foi apresentado de forma tão tediosa. Pior livro que li este ano, facilmente. Não sou de me desfazer dos meus livros, mas já quero vender o meu.


Patricia1180 27/10/2021minha estante
Vdd ? fiquei tão FULAS que nem quero ler o segundo livro ,credo que nojo desse livro mas ele é bem parado kkkkk


Hellen 29/10/2021minha estante
Eu já abandonei esse livro 4 vezes e depois dessa sua resenha, vou continuar deixando pra lá hahaha


André Lucena 29/10/2021minha estante
Então, Hellen. Eu decidi retomar apenas porque estava me incomodando a leitura pendente aqui no Skoob. A verdade é esta, mas eu sabia que se fosse abandonar mais uma vez, não voltaria com a leitura mais de jeito nenhum. Consegui dar sequência, não sei como, mas ao final, o livro me causou a mesma decepção das primeiras 200 páginas. Só me veio o pensamento de que eu poderia ter gasto o dinheiro comprando algum outro livro. kkkkkk tristeza




Sarah 28/03/2021

Distopia que assombra nos dias de hoje
O livro conta a história de Gilead, um Estado teocrático e patriarcal, que se instalou nos EUA num futuro não muito distante. Ao construir a narrativa de como o regime se construiu, autora consegue trazer reflexões potentes para o momento de ascensão de discursos religiosos e conservadores que vivemos nos dias atuais. O livro se desenvolve a partir das percepções e sentimentos de Offred, uma Aia, cuja única função em Gilead é procriar. Achei impressionante a forma como o texto mostra com sutileza que, embora ela tente resistir a toda a opressão que a sociedade impõe a ela, em alguma medida ela foi incorporando aquele discurso social em sua forma de ser. É triste, mas me parece realista. O que nao me agradou muito em desfecho da trama. Me parece que muitas perguntas ficam abertas. Mas é um belo livro. Recomendo a leitura.
Dani 28/03/2021minha estante
Acabei de ler essa semana! É que tem continuação desse livro!? só quero ver o que vai acontecer no segundo..




Guto 24/09/2020

Bizarro mas necessário
Se você quer um livro cheio de ação de tirar o fôlego, provavelmente não é para você. A maior parte do livro (até que o ritmo repentinamente acelera no último terço) é lento, mas seu ritmo lento é necessário - ele dá uma olhada em Gilead e as pessoas - especialmente as mulheres - que vivem dentro de seus limites.

Ao contrário de muitos contos distópicos contemporâneos que envolvem tanta ação e heroísmo quanto podem espremer em algumas centenas de páginas, O Conto da Aia é mais uma percepção sociológica do mundo em que vivemos, ou mais ainda, o mundo em que poderíamos viver. Ele olha para a divisão de gênero e oferece percepções surpreendentemente precisas sobre como o mundo (infelizmente) funciona, apesar do fato de que se passa em um futuro distópico. Ok, é uma visão exagerada - mas sem os elementos extremos de ficção científica, os valores que Atwood explora estão terrivelmente próximos da realidade.

Provavelmente tenho muito mais a dizer sobre este livro, mas sem que ele se transforme em uma tese completa, terminarei dizendo o seguinte: não é sempre que um livro me faz pensar profundamente sobre a sociedade e como as coisas poderiam ser se o patriarcado for levado aos extremos que vemos neste livro.

O Conto da Aia me pegou no início e não me deixou ir - e talvez nunca vá. E estou completamente bem com isso.

Se tornou um dos meus livros favoritos da vida!
Sinésio 24/09/2020minha estante
ótima resenha!
li o livro há mais tempo e agora estou assistindo à série!
impressionante!


Guto 24/09/2020minha estante
Estou assistindo a série tbm!


edu basílio 24/09/2020minha estante
um primor, não é? :-D


Ray 24/09/2020minha estante
Ótimo livro! Realmente o livro é mais lento, mas esse ritmo é extremamente necessário.

Ótima resenha e ponto de vista.


Fernando 20/12/2020minha estante
Amei esse livro e a co tentação tb é bem legal, apesar de que esse livro basta por si só.


Fernando 20/12/2020minha estante
Continuação




Robison 04/09/2022

Distopia sensacional
Este livro nos traz um mundo diferente, onde mulheres não possuem direitos ou segurança. Pela sinopse do livro é possível perceber que é uma ditadura, voltada principalmente à privações femininas e a todos aqueles do sexo masculino que também possuem pensamentos e/ou atitudes contrárias as permitidas naquele cenário.

O livro é repleto de emoção, Offred, nossa personagem principal, nos conta a história através de sua perspectiva, sendo uma Aia, ou seja: uma mulher criada para procriação, indo de casa em casa e permanecendo nela até conceber um filho ao casal e depois reenviada a outro lar necessitado.

As emoções foram sentidas de forma ampla, pois a autora, consegue transparecer tudo através de simples palavras. O livro é confuso na introdução pois Offred nos conta coisas atuais junto de lembranças de sua vida antes dos assassinatos e durante os treinamentos para se tornar uma Aia, mas em poucos capítulos nos acostumamos com a forma de escrever da autora e com os pensamentos da personagem e a leitura flui tranquilamente.

Riquíssimo em detalhes, sentimentos e diálogos que causam uma dor e tristeza ao imaginar o mundo naquela situação, recomento a leitura a todos aqueles que gostam de uma boa distopia, bem fundamentada e, que gostam de emocionar com personagens ricas em descrição, cenários e diálogos muito bem construídos.
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frerthal 12/03/2021

Excelente leitura
Livro ótimo! Escrita muito fácil de ler e acompanhar, a história te prende de maneira absurda e nos faz refletir sobre os assuntos tratados no livro e sua relação com a realidade onde vivemos.
Ailson 12/03/2021minha estante
Eu amo




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